Lançado nos anos 1980 e concebido à partir das
mesmas influências cyberpunks que moldaram obras como “Akira” ou “Ghost In TheShell”, este “Terror em Love City” foi –como muitas realizações amparadas em
conceitos desiguais –injustamente relegado à obscuridade e preso ao passado das
fitas de VHS, onde jazia nas prateleiras como uma alternativa curiosa aos
trabalhos mais consagrados da animação japonesa.
Como em “Akira” –o qual é profundamente injusto
afirmar que ele copiou visto que “Terror em Love City” foi lançado em 1986 e,
portanto, dois anos antes! –o filme começa já numa perseguição pelas vias
expressas de uma metrópole futurista. Uma gangue de estranhos motociclistas,
aparentemente controlados telepaticamente por sua líder, a sensual Kate,
persegue um carro em movimento. Dentro desse carro estão Kei, um fugitivo que
aparenta ser tutor de Ai, uma menina que ele parece desesperado em proteger,
além de Reiden, um detetive particular beberrão que não faz idéia de onde está
e um gato (!).
Passando a forte impressão de que é um episódio
aleatório de alguma série animada –e nos anos 1980, essa impressão acerca de
produtos que se achava sem maiores informações nas prateleiras de
videolocadoras era recorrente –a trama já se inicia com muitos elementos em
curso: Já há todo um núcleo de vilões poderosos e manipuladores a vigiar essa
‘caçada’, assim como o grupo de protagonistas já está todo ele reunido em torno
do propósito de escapar de seus algozes.
Muito disso se deve ao fato da distribuidora
ter cortado a introdução que devia dar uma breve apresentação aos fatos
–embora, do jeito como o filme é, isso não haveria de mudar sua natureza
intrigante e confusa.
Durante a perseguição, Kei revela poderes
telecinéticos (que surgem a partir de um estranho indicador numérico em sua
testa) com os quais subjuga Kate. Em meio à luta –psicodélica e surreal como
poucas –ela perde a memória e as roupas (a nudez é relativamente constante
nesta animação!) e passa a acompanhá-los, desta vez como aliada.
Enquanto alguns flashbacks pontuais vão
tratando de tentar esclarecer os vários pontos nebulosos dessa ficção
científica vertiginosa e estilosa também vai ficando bem claro o teor
francamente esquisito e incomum com o qual a narrativa conta sua história
–esquisito e incomum mesmo para as inusitadas obras de animação japonesa!
Do lado dos vilões, o quase onipotente a
onipresente Lee, em dado momento, se revela mais benevolente do que podia
imaginar, o que leva Kei, Ai, Reiden e Kate –agora trajada como uma coelhinha
da Playboy (!) –a confrontar o hediondo Lai Lo Chin (um estranho anão submerso
num aquário dentro de uma grande armadura robótica), um inimigo ainda mais
megalomaníaco e corruptível cujas extensões dos poderes comprometem a própria
realidade (os japoneses gostam de exagerar às vezes).
O último terço do filme guarda algumas
revelações desconcertantes, como uma breve cena onde vemos os personagens numa
realidade alternativa –cena esta aparentemente descartada logo em seguida como
um mero pesadelo ou outro nível de realidade numa alternativa para a trama que
se mostrou implausível (!).
Quando parece que a narrativa irá se perder
completamente nessa batalha final de proporções tão insanas quanto
mirabolantes, “Terror em Love City” dá uma estranha guinada com uma espécie de
‘morte filosófica’ do vilão –até mesmo o surgimento da vida na Terra com os
protozoários entra na discussão! –e os protagonistas aparecem aliviados no meio
da rua, sugerindo que um fim tranqüilo está próximo.
Então, eles desaparecem mais uma vez e
ressurgem, ao que tudo indica, aprisionados num loop de tempo (!). Sim, pois
essa parece ser a única explicação: Reiden, Kei e Ai (e o gato também) acabam
novamente dentro do carro em fuga naquela cena do início, com os motociclistas
e com Kate novamente ao seu encalço –e assim, na cena em que começou, “Terror
em Love City” termina.
Muitos foram os
expectadores dos anos 1980 que esta animação estranha e intrigante deixou com a
pulga atrás da orelha, todavia, se sua trama carecia de algum sentido, não restam dúvidas
do brilhantismo acachapante que impera em seu visual e nas cenas de ação. Nada
mais cult.
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