segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Terror em Love City

Lançado nos anos 1980 e concebido à partir das mesmas influências cyberpunks que moldaram obras como “Akira” ou “Ghost In TheShell”, este “Terror em Love City” foi –como muitas realizações amparadas em conceitos desiguais –injustamente relegado à obscuridade e preso ao passado das fitas de VHS, onde jazia nas prateleiras como uma alternativa curiosa aos trabalhos mais consagrados da animação japonesa.
Como em “Akira” –o qual é profundamente injusto afirmar que ele copiou visto que “Terror em Love City” foi lançado em 1986 e, portanto, dois anos antes! –o filme começa já numa perseguição pelas vias expressas de uma metrópole futurista. Uma gangue de estranhos motociclistas, aparentemente controlados telepaticamente por sua líder, a sensual Kate, persegue um carro em movimento. Dentro desse carro estão Kei, um fugitivo que aparenta ser tutor de Ai, uma menina que ele parece desesperado em proteger, além de Reiden, um detetive particular beberrão que não faz idéia de onde está e um gato (!).
Passando a forte impressão de que é um episódio aleatório de alguma série animada –e nos anos 1980, essa impressão acerca de produtos que se achava sem maiores informações nas prateleiras de videolocadoras era recorrente –a trama já se inicia com muitos elementos em curso: Já há todo um núcleo de vilões poderosos e manipuladores a vigiar essa ‘caçada’, assim como o grupo de protagonistas já está todo ele reunido em torno do propósito de escapar de seus algozes.
Muito disso se deve ao fato da distribuidora ter cortado a introdução que devia dar uma breve apresentação aos fatos –embora, do jeito como o filme é, isso não haveria de mudar sua natureza intrigante e confusa.
Durante a perseguição, Kei revela poderes telecinéticos (que surgem a partir de um estranho indicador numérico em sua testa) com os quais subjuga Kate. Em meio à luta –psicodélica e surreal como poucas –ela perde a memória e as roupas (a nudez é relativamente constante nesta animação!) e passa a acompanhá-los, desta vez como aliada.
Enquanto alguns flashbacks pontuais vão tratando de tentar esclarecer os vários pontos nebulosos dessa ficção científica vertiginosa e estilosa também vai ficando bem claro o teor francamente esquisito e incomum com o qual a narrativa conta sua história –esquisito e incomum mesmo para as inusitadas obras de animação japonesa!
Do lado dos vilões, o quase onipotente a onipresente Lee, em dado momento, se revela mais benevolente do que podia imaginar, o que leva Kei, Ai, Reiden e Kate –agora trajada como uma coelhinha da Playboy (!) –a confrontar o hediondo Lai Lo Chin (um estranho anão submerso num aquário dentro de uma grande armadura robótica), um inimigo ainda mais megalomaníaco e corruptível cujas extensões dos poderes comprometem a própria realidade (os japoneses gostam de exagerar às vezes).
O último terço do filme guarda algumas revelações desconcertantes, como uma breve cena onde vemos os personagens numa realidade alternativa –cena esta aparentemente descartada logo em seguida como um mero pesadelo ou outro nível de realidade numa alternativa para a trama que se mostrou implausível (!).
Quando parece que a narrativa irá se perder completamente nessa batalha final de proporções tão insanas quanto mirabolantes, “Terror em Love City” dá uma estranha guinada com uma espécie de ‘morte filosófica’ do vilão –até mesmo o surgimento da vida na Terra com os protozoários entra na discussão! –e os protagonistas aparecem aliviados no meio da rua, sugerindo que um fim tranqüilo está próximo.
Então, eles desaparecem mais uma vez e ressurgem, ao que tudo indica, aprisionados num loop de tempo (!). Sim, pois essa parece ser a única explicação: Reiden, Kei e Ai (e o gato também) acabam novamente dentro do carro em fuga naquela cena do início, com os motociclistas e com Kate novamente ao seu encalço –e assim, na cena em que começou, “Terror em Love City” termina.
Muitos foram os expectadores dos anos 1980 que esta animação estranha e intrigante deixou com a pulga atrás da orelha, todavia, se sua trama carecia de algum sentido, não restam dúvidas do brilhantismo acachapante que impera em seu visual e nas cenas de ação. Nada mais cult.

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