O próprio diretor e roteirista Martin Brest
pareceu crer na súbita pecha de grande realizador que alguns à ele atrelaram
quando do lançamento, nos anos 1990, de sua refilmagem para o italiano “Perfume de Mulher”, que deu um Oscar à Al Pacino.
Deve ter sido esse fator o grande responsável
por sua intenção mais ambiciosa de refilmar “Death Takes A Holiday”, de 1934
–no Brasil intitulado “Uma Sombra Que Passa” –contando com Brad Pitt (então, na
crista da onda como um dos mais fulgurantes galãs surgidos nos anos 1990) e
Anthony Hopkins no elenco; ambos reunidos num mesmo filme após o épico
romântico “Lendas da Paixão”.
Na realidade, Brest era de fato um roteirista
regular dotado do ocasional hábito de salientar características graciosas em
algumas situações, enfatizar a comédia, sobretudo, quando tinha bons atores à
frente das câmeras (são realizados por ele, por exemplo, o simpático “Fuga À
Meia-Noite”, com Robert De Niro e o famoso “Um Tira da Pesada”, com Eddie
Murphy) e como diretor... bem, aí sobravam ainda menos adjetivos para
elogiá-lo, embora ele não costumasse cometer maiores calamidades.
“Death Takes A Holiday” era uma espécie de
drama romântico, e embora sua trama até tivesse ampla margem para que o absurdo
fosse explorado com senso de humor, Brest optou por uma pretensa seriedade
–isso tudo numa trama que, ainda por cima, foi esticada até as três horas de
duração!
Houve quem achasse um bom filme, reconhecendo
elementos românticos empregados com sensibilidade, mas a verdade é que assistir
a “Encontro Marcado” significa tão somente contemplar a mal disfarçada
pretensão de Martin Brest. Ela surge em comentários eloqüentes e rasos dos
personagens –em especial, de Jake Weber, vivendo um vilãozinho de meia tigela
–na condução meticulosamente desnecessária de muitas cenas e no empenho válido,
porém vão de seu elenco.
É como um pastel de vento: Parece haver algo
dentro dele, mas não há.
A trama inicia-se com o magnata William Parrish
(Hopkins, num personagem tão adequado a ele que não oferece qualquer desafio ou
chance de ousar) às voltas com seus sócios empresariais e com os preparativos
de uma festividade familiar: O seu pomposo aniversário de sessenta e cinco
anos.
Entretanto, algo completamente inesperado
acontece para William: A morte em pessoa lhe aparece, ocasionada por um
infarto! A surpresa ocorre devido ao fato da própria morte, entediada com sua
rotina eterna de levar as almas dos vivos, resolver dar um tempo passando um
fim de semana com William em sua luxuosa mansão (!).
Um enredo, como se pode ver, farto em
possibilidades cômicas que poderiam ser exploradas nas mãos das pessoas certas
–e esse potencial foi até aproveitado em “Death Takes A Holiday”, não obstante
o tom lúgubre do protagonista daquele filme, Fredric March –contudo, não é o
que ocorre no filme de Brest.
A morte assume o corpo de um jovem executivo
(Brad Pitt), pouco antes de ele ter um rápido, encantador e esperançoso contato
com Susan (a bela Claire Fornali), a filha de William (Aliás, a cena em que o
personagem de Pitt morre atropelado é inesperada e impressionante, e
provavelmente a melhor de todo o filme!).
O que se segue então é o personagem soturno e
sombrio de Pitt –que oferece um registro todo diferenciado quando incorpora a
Morte, do luminoso jovem executivo que vislumbramos só no início e no final –às
voltas com as minúcias humanas, com as regalias da mansão onde passará seu
tempo, e pouco a pouco, se encantando com a doce e perplexa Susan –aturdida com
o comportamento tão estranho que nele passa a perceber. A sub-trama em que uma
pequena conspiração é montada contra William busca acrescentar tensão ao filme,
porém nada mais faz senão estender sua duração. E o filme de Brest acaba sem
ter humor onde poderia haver graça, sem empatia ponde poderia haver algum
sentimento, e sem uma boa condução onde poderia haver ritmo.
Numa comparação, ele fez
exatamente o quê havia feito em “Perfume de Mulher”: Pegou um filme excelente e
o refez modificado por convenções artísticas que muitas vezes o banalizam, mas
cujas presenças do elenco (Pacino, naquele filme; Hopkins e, especialmente,
Brad Pitt, neste daqui) encontram uma forma de valorizá-lo.
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