O grande problema de Ben Stiller como diretor
–função iniciada nos anos 1990, com “Caindo Na Real”, com Winona Ryder –é sua
vontade de fazer demais: Ele incrementa tanto a narrativa que lhe poda a
objetividade.
Dentre seus trabalhos atrás das câmeras –entre
os quais existem alguns títulos consideráveis –o melhor e mais acertado talvez
seja “Trovão Tropical”, sobretudo, porque seu humor se constrói sobre uma série
de ocorrências inesperadas e genuinamente hilárias.
Com sacadas assim já se inicia o filme. Uma
série de trailers falsos parodiam o que já era em si uma paródia, com filmes
impraticáveis como “O Rei do Peidaço” (!), uma versão ainda mais esculachada e
escatológica de “O Professor Aloprado”, com Eddie Murphy, estrelada pelo
personagem de Jack Black (inspirado, segundo consta, no falecido Chris Farley);
“O Beco de Satã”, uma sátira de todos os clichês de dramalhões sérios com o
exageradamente dedicado ator vivido (brilhantemente) por Robert Downey Jr. e
ainda com uma ponta de Tobey Maguire (ao lado de quem Downey Jr. fez “Garotos
Incríveis”). Para finalizar, o próprio Ben Stiller aparece como o astro
(remetendo à Sylvester Stallone) de uma série interminável, repetitiva e
absurda de filmes de ação, “Scorcher”, que já está em sua sexta parte (!).
Mal atingiu seus primeiros quinze minutos e o
filme de Stiller já se revela assim demolidor para com os contumazes reflexos
involuntários da fútil Hollywood.
Muito mais virá: Todos os astros mostrados nos
trailers (e mais o rapper Alpha Chino –que vive injuriado com a confusão da
pronúncia de seu nome soar como Al Pacino!) cada um ao seu modo enfrentando um
princípio de decadência, sem vêem reunidos num mesmo projeto de filme de guerra
–que, de início, já satiriza a cena clássica de “Platoon” –inspirado nas
memórias de um ex-combatente do Vietnam (Nick Nolte). Sem conseguir o realismo
desejado, o perplexo diretor (vivido por Steve Coogan, de “Philomena”),
pressionado pelos engravatados do estúdio –entre os quais, o executivo
boca-suja, desprezível e incontrolável vivido magnificamente por um
irreconhecível Tom Cruise –decide levar seu elenco para a selva a fim de promover
uma experiência real.
Contudo, o diretor morre explodido por uma mina
terrestre (!), deixando-os abandonados na selva com armas reais e à mercê de
verdadeiros inimigos armados. E os atores, celebridades alienadas e fúteis,
julgando tratar-se de um daqueles laboratórios de filmagem que simulam uma
realidade, mal se dão conta da encrenca em que se meteram.
O elenco se diverte tanto quando o expectador
nesta comédia destruidora sobre as engrenagens do cinema, que debocha de tudo e
não perdoa absolutamente nada, nem ninguém: A tiração de sarro implacável vai
desde os coadjuvantes (pena que o intratável e engraçadíssimo agente vivido por
Matthew McConaughey aparece tão pouco) até os protagonistas que incluem o
hilário australiano Kirk Lazarus (e Downey Jr. está realmente ótimo), cuja
dedicação à arte da atuação o leva a escurecer a pele –ele que é loiro de olhos
azuis! –para interpretar um negro (!) no filme dentro do filme (e sua
interpretação para o modo como um negro se porta e fala é o extremo mais
inacreditável de estereótipo a que se pode chegar!); Tugg Speedman o astro em
busca de reconhecimento de Stiller (vítima de deboche dos colegas por cometer a
‘apelação’ de encarar um papel de retardado mental!); Jeff Portnoy (Jack
Black), o ator viciado em heroína que vai passar poucas e boas com sua
abstinência na selva; o rapper Alpha Chino (Brandon T. Jackson) que se ressente
da atitude agressiva exigida dele devido à sua sensibilidade enrustida; e o
figurante Kevin Sandusky (Jay Barruchel), que tenta manter um pouco de
austeridade em meio à tanta gente desgovernada.
Como é de hábito, Ben
Stiller como diretor é irrequieto e incansável: Ele incrementa cada segmento
com referências, observações e detalhes. Seu filme tem citações e piadas desde
as primeiras até as últimas cenas, não deixando espaço para o expectador
recuperar o fôlego, e nem tampouco (no caso deste filme tão divertido quanto
corajoso) para que os produtores de Hollywood, grande alvo de sua chacota,
respirem aliviados.
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