Sublime este trabalho fabuloso do diretor
Ettore Scola, daqueles que não encontrariam uma categoria à qual se encaixar
nos dias de hoje –e, por isso mesmo, jamais seriam realizados.
Um clássico do cinema erótico italiano que
paradoxalmente tem tanto a dizer quanto tem a mostrar –talvez, até mais!
Laura Antonelli (grande razão para se ver o
filme) é Antonia, casada com Luigi (Marcelo Mastroianni) e por ele mantida numa
certa inércia. Para Luigi é deveras conveniente que a esposa se mantenha ignorante:
Adúltero, escorregadio, não raro falastrão e ostensivo, Luigi só é tolerável em
seu comportamento incorrigível pelo pouco que a mulher tem ciência dele. Tudo
isso, lógico, muda.
Luigi é obrigado a refugiar-se num terraço de
propriedade de um amigo a fim de escapar das conseqüências acarretadas por suas
opiniões políticas inflamadas.
Desse terraço (que fica bem em frente à sua
casa) Luigi testemunha todas as fases pelas quais Antonia irá passar a partir
de seu sumiço: O desespero e a perplexidade que se seguem naturais ao seu
desaparecimento; as tentativas iniciais –e normalmente hesitantes –em assumir
por conta própria os negócios do marido; a inesperada revelação de seu tino
empresarial e sua desenvoltura para negociações; e, por fim, a descoberta da própria
sexualidade antes reprimida que se expressa então em passagens notáveis (para a
época inclusive) onde Antonia experimenta diversos parceiros sexuais e conhece
novas práticas que sequer era capaz de conceber.
O registro desse desabrochar se dá por meio de
uma atuação bastante austera da parte da belíssima Laura Antoneli, enquanto que
Luigi, na atuação melindrosa, cafajeste e sôfrega de Mastroianni, assiste toda
essa metamorfose numa espécie de “camarote forçado”, o quê proporciona uma
insuspeita sensação de catarse.
Bons tempos em que o cinema
europeu proporcionava notáveis pérolas como esta, impregnadas de malícia e
humanismo.
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