Uma cabana no meio do mato. Um grupo de jovens.
Um diretor iniciante fascinado pelos arroubos do gênero de terror.
Dessa combinação nasceu uma das mais desiguais
–e, no fim das contas, influentes –produções do gênero a aparecer nos anos
1980.
Ao realizar “Evil Dead”, Sam Raimi não era mais
que um jovem estudante de cinema. Tinha a seu favor aquele ímpeto criativo que
caracteriza os autores mais jovens cuja pouca idade conserva uma vontade de
abraçar o mundo. Contra ele, a precariedade de um orçamento pífio e uma falta
absoluta de recursos.
Todos esses revezes foram contornados com a
criação de uma premissa tão inventiva quanto simples: Liderados por Ash (Bruce
Campbell, grande amigo do diretor e, desde então, o seu ator-assinatura),
vários amigos seguem até uma cabana depauperada no meio de uma floresta.
Longe de tudo –circunstância que dava à
produção um controle sobre todos os aspectos do filme sem agregar qualquer
despesa –os jovens descobrem escondida no porão uma gravação contendo trechos
do “Livro dos Mortos” (elemento relacionado à mitologia dessa série que
estranhamente nunca foi muito explorado) e, ao ouvi-la, libertam forças
demoníacas que passam a possuí-los; a representação dessa personificação
maligna, por sinal, responde por um dos muitos lampejos de criatividade com a
qual Raimi contornou as restrições de seu filme: O demônio –ou o que quer que
aquilo seja –não é visto, mas em seu lugar, Raimi mostra o ponto de visto de
algum ser espectral usando os movimentos fluidos de câmera que rondam
ameaçadoramente a floresta até chegar à cabana –Raimi patenteou muitas das
câmeras inovadoras utilizadas em “Evil Dead”.
Cenas memoráveis se seguem, sendo talvez a mais
comentada pelos expectadores, o estranho, brusco e inacreditável ‘estupro’ de
uma jovem na floresta por um cipó (!).
Logo, “Evil Dead”
escancarou uma nova forma de se fazer cinema (inclusive influenciando produções
de renome que se seguiram como o artístico “A Companhia dos Lobos”) que, com o
tempo acabou sendo agregada até mesmo ao cinema comercial; e não é, portanto,
qualquer coincidência o fato do próprio Sam Raimi, aqui um realizador tão
ousado e transgressivo, ter sido o escolhido para moldar uma das mais
emblemáticas adaptações de histórias em quadrinhos (hoje, o supra-sumo do
cinema comercial) no início do século XXI: “Homem-Aranha”.
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