quinta-feira, 12 de abril de 2018

Budapeste

Do momento que começa ao momento em que termina, “Budapeste” é um exercício em torno do ato criativo e suas escorregadias considerações –e essas reflexões certamente já habitavam o livro de Chico Buarque de Hollanda (que faz uma breve ponta) no qual se inspirou.
Costa (o ótimo Leonardo Medeiros, de “Lavoura Arcaica”) trabalha como um escritor fantasma. O combustível que alimenta sua prosa parece ser a volúpia ou mesmo o mero afeto que encontra em seus relacionamentos românticos –que surgem, esparsos e episódicos, ao longo da narrativa, pontuados nas participações de atrizes famosas como Paola Oliveira, Débora Nascimento e Giovanna Antonelli –mas, a verve de Costa sofre uma espécie de bloqueio ocasionado pela avalanche de recordações de suas desilusões amorosas. Na tentativa de compreender seus sentimentos e readquirir a escrita, ele vai a Budapeste, na Hungria, onde tenta se afastar de suas aflições e das palavras que já não consegue domar –lá, ninguém que ele conhece sabe falar sua língua e ele não entende patavina do que os outros falam.
Em algum momento, Costa encontra Kriska (a bela Gabriella Hámori) que o acolhe em sua casa e sua cama: Não existe maneira melhor de capturar as idiossincrasias de um idioma, afirma ela, do que por meio de um aprendizado de alcova.
Costa domina o húngaro a ponto de conseguir escrever um manuscrito acerca das vicissitudes metafísicas do idioma e suas considerações no relacionamento a dois. De volta ao Brasil, no entanto, ele conclui que a relação afetiva que experimentou com Kriska vai além da mera casualidade que ambos tentaram encenar; e busca, com isso, um retorno, submetendo-se assim a toda sorte de imprevisto, rejeições e impossibilidades que assombram um relacionamento –os mesmos fantasmas que antes o traumatizaram, e dos quais, de certa forma, ele fugiu indo para Hungria.
É meio nebulosa a intenção enquanto arte deste filme de Walter Carvalho, reflexivo, porém, pantanoso no que tange ao seu propósito ou mesmo seu objeto de reflexão: Seria a arte? Os relacionamentos? Os bloqueios criativos ocasionados pelas dores do amor? Ou o ímpeto para achar nesse mesmo vazio alguma inspiração?
Como todo filme de autor que se preze, “Budapeste” não fornece informações didáticas para esse entendimento, ao contrário, do início ao fim, passeia por considerações que lhe enevoam a narrativa fazem nela o expectador flutuar como um visitante mal informado, cujas instruções do espetáculo lhe foram negadas pelos demais participantes.
O final trás uma pequenina manobra de metalinguagem (vagamente similar ao rápido prólogo de “O Jogador”, de Robert Altman) sem uma explicação muito clara em suas intenções –talvez, haja algum dado referente à isso no livro –e que não chega a acrescentar muita coisa ao todo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário