Do momento que começa ao momento em que termina,
“Budapeste” é um exercício em torno do ato criativo e suas escorregadias
considerações –e essas reflexões certamente já habitavam o livro de Chico
Buarque de Hollanda (que faz uma breve ponta) no qual se inspirou.
Costa (o ótimo Leonardo Medeiros, de “Lavoura
Arcaica”) trabalha como um escritor fantasma. O combustível que alimenta sua
prosa parece ser a volúpia ou mesmo o mero afeto que encontra em seus
relacionamentos românticos –que surgem, esparsos e episódicos, ao longo da
narrativa, pontuados nas participações de atrizes famosas como Paola Oliveira,
Débora Nascimento e Giovanna Antonelli –mas, a verve de Costa sofre uma espécie
de bloqueio ocasionado pela avalanche de recordações de suas desilusões
amorosas. Na tentativa de compreender seus sentimentos e readquirir a escrita,
ele vai a Budapeste, na Hungria, onde tenta se afastar de suas aflições e das
palavras que já não consegue domar –lá, ninguém que ele conhece sabe falar sua
língua e ele não entende patavina do que os outros falam.
Em algum momento, Costa encontra Kriska (a bela
Gabriella Hámori) que o acolhe em sua casa e sua cama: Não existe maneira
melhor de capturar as idiossincrasias de um idioma, afirma ela, do que por meio
de um aprendizado de alcova.
Costa domina o húngaro a ponto de conseguir
escrever um manuscrito acerca das vicissitudes metafísicas do idioma e suas
considerações no relacionamento a dois. De volta ao Brasil, no entanto, ele
conclui que a relação afetiva que experimentou com Kriska vai além da mera
casualidade que ambos tentaram encenar; e busca, com isso, um retorno,
submetendo-se assim a toda sorte de imprevisto, rejeições e impossibilidades
que assombram um relacionamento –os mesmos fantasmas que antes o traumatizaram,
e dos quais, de certa forma, ele fugiu indo para Hungria.
É meio nebulosa a intenção enquanto arte deste
filme de Walter Carvalho, reflexivo, porém, pantanoso no que tange ao seu
propósito ou mesmo seu objeto de reflexão: Seria a arte? Os relacionamentos? Os
bloqueios criativos ocasionados pelas dores do amor? Ou o ímpeto para achar
nesse mesmo vazio alguma inspiração?
Como todo filme de autor que se preze,
“Budapeste” não fornece informações didáticas para esse entendimento, ao
contrário, do início ao fim, passeia por considerações que lhe enevoam a
narrativa fazem nela o expectador flutuar como um visitante mal informado,
cujas instruções do espetáculo lhe foram negadas pelos demais participantes.
O final trás uma pequenina
manobra de metalinguagem (vagamente similar ao rápido prólogo de “O Jogador”,
de Robert Altman) sem uma explicação muito clara em suas intenções –talvez,
haja algum dado referente à isso no livro –e que não chega a acrescentar muita
coisa ao todo.
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