Embora quase sempre talentoso, o cineasta John
Hugues costumava construir alguns de seus filmes em cima de fórmulas. Se dava
sucesso, não havia porque não ir lá e repetir o feito, afinal. E, após “Curtindo
A Vida Adoidado” –talvez, seu melhor trabalho –no qual ele não só teve êxito
como também criou um dos mais sensacionais personagens adolescentes do cinema
(o Ferris Bueler, de Matthew Broderick), eis que Hugues resolve se arriscar a
fazer outro grande personagem, tentando lançar outro nome entre os jovens
atores do período.
O personagem em questão era Jim Dodge e o ator
que o vivia, o então jovem Frank Whaley (de “The Doors” e pouca coisa mais
expressiva depois disso). Jim Dodge é um protagonista sonhador e petulante até
nas bravatas que dele declama sobre si mesmo, em relação ao que (supostamente)
vai fazer e ao que (dissimuladamente) já fez. O que ele diz de si é inverso à
sua realidade medíocre: Jim trabalha sozinho como uma espécie de vigia noturno
numa loja de departamentos.
É, de fato, um personagem construído nos moldes
de Ferris Bueler (e, como ele, cheio de planos, do atrevimento da juventude e
de um idealizado encanto que essas características inspirariam no público),
mas, ao contrário de Bueler, não há toda essa empatia em Jim; e isso é culpa
tanto da insuficiência do ator que o interpreta quanto do roteiro indeciso e do
filme algo equivocado a que ele pertence –que, diga-se, é dirigido por Bryan
Gordon, mas quem manda mesmo é John Hugues, atuando como produtor e como
roteirista.
Pois, como em “Curtindo A Vida...”, Hugues
coloca esse personagem numa situação específica, ilustrativa de um período de
tempo também específico: Ao lado da patricinha Josie (Jennifer Connelly, a
razão pela qual fui atrás do filme), Jim acaba confinado dentro da loja de
departamentos onde trabalha. Ele só sairá de lá ao amanhecer (passa a noite
toda lá dentro desfrutando de todo o tipo de utensílios), e como ela fugiu de
casa e ali se escondeu (a cena em que ela constrange o pai é muito bem feita
por Jennifer, ainda que roteirizada com um pouco de nonsense), ambos terão a
companhia um do outro durante toda a noite –as portas são fechadas e só são
abertas de manhã.
E assim, como também fez –numa orientação mais
dramática –em “O Clube dos Cinco”, Hugues contrapõe as duas personalidades
jovens: O rapaz de classe média baixa, mas cheio de ímpeto e sonhos e a garota
de classe alta, linda, desejada e popular, mas imbuída de insuspeita atitude
constestadora.
É óbvio que, também, o diretor não deixará de
aproveitar a oportunidade para esboçar ali um romance, daqueles adoráveis aos
olhos dos jovens dos anos 1980, onde uma mulher deslumbrante e impossível
(Josie) se torna acessível para um cara normal e possível (Jim).
Se a intenção era lançar algumas luzes sobre
Frank Whaley da forma como ocorre com Matthew Broderick, o efeito sofre um
reverso aqui: É Jennifer Connelly quem rouba a cena de todo o filme, quase sem
o menor esforço.
Além disso, Hugues introduz também uma dupla de
ladrões apalermados que invadem a loja (os irmãos na vida real Kieran e Dermot
Mulroney) e se tornam eventuais e engraçadinhos antagonistas do casal –são uma espécie
de experiência inicial para a adorável dupla de ladrões que Hugues criou, anos
depois, para “Esqueceram de Mim”.
Da forma como é, este “Career Opportunities” –o
título original é de sua exibição na ‘sessão da tarde’ uma vez que jamais foi
lançado em cinema ou homevideo no Brasil –une assim uma série de inspirações e
idéias de John Hugues (como num inventário), as quais ele empregou com mais
criatividade e talento em outros filmes.
Mas, Jennifer Connelly vale
cada minuto!
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