sexta-feira, 13 de abril de 2018

Paris Pode Esperar

Eleanor Coppola é mais conhecida pelo espetacular documentário “Apocalypse de Um Cineasta” no qual acompanha as agruras épicas experimentadas por seu marido, Francis Ford Coppola, na realização de “Apocalypse Now”. Agora, ela resolveu seguir os passos dele e de sua filha, Sofia Coppola, e arriscar-se como diretora numa obra de ficção.
Uma ficção que flerta com inesperados lampejos do que poderia ser a realidade, a exemplo do que a própria Sofia às vezes faz em seus projetos.
O filme inicia-se em Cannes, acompanhando a estadia na França do produtor Michael Lockwood (Alec Baldwin, num personagem que leva o mesmo sobrenome do protagonista de “Cantando Na Chuva”) e sua esposa Anne (Diane Lane, uma atriz bastante familiar aos Coppola tendo sido dirigida por Francis Ford em três ocasiões, “Cotton Club”, “O Selvagem da Motocicleta” e “Jack”).
Já na cena inicial somos induzidos a perceber que há muito de Eleanor em Anne: Além da rotina simbiótica entre a arte cinematográfica e seu matrimônio, ela registra com fotos toda a rotina doméstica junto de Michael, fotografando até mesmo o café da manhã –documentando toda a realidade que transcorre ao lado do marido, como a própria Eleanor fez em seu documentário.
Todavia, é por caminhos austeros e relaxantes que seu filme seguirá: Pouco sintonizada com a rotina estafante de Michael, Anne aceita uma carona oferecida por seu sócio francês, Jacques (Arnaud Viard), para ir de carro até Paris, enquanto ele cuida de uma produção em Budapeste.
No percurso, Jacques se revela um francês com todas as características melindrosas com as quais eles são conhecidos: Ostenta uma irresistível aura de bon vivant, faz desvios constantes para apreciar paisagens turísticas (das quais possui conhecimento enciclopédico), e sempre sabe de algum lugar onde se pode desfrutar da melhor comida.
Isso estende a viagem de carro –que em princípio, parecia ser breve e instantânea –e leva Anne a passar alguns dias ao lado de Jacques, tornando-os pouco a pouco confidentes um do outro.
Quase todo o filme se desenvolve ao redor de uma mesa. “Paris Pode Esperar”, dessa forma, acaba sendo, mais que um filme de cartão-postal, uma daquelas produções gastronômicas que não economizam nos closes em pratos e iguarias fotogenicamente preparados, e a presença de Diane Lane (conduzindo com carisma e graciosidade um filme que corria o risco de entediar o expectador) faz muito lembrar o seu belíssimo “Sob O Sol da Toscana”.
A narrativa propositadamente serena de Eleanor Coppola pega emprestada algumas características do estilo de Sofia: Como em “Encontros e Desencontros” ou “Um Lugar Qualquer”, não falta a “Paris Pode Esperar” cenas de contemplação, onde o filme convida o expectador a vislumbrar a beleza e o ritmo particulares dos locais visitados.
Essa percepção, somada ao desnudar emotivo e emocional de Anne, fazem do filme uma observação sutil, ainda que tímida, das incertezas de uma mulher madura e moderna acerca de sua postura no casamento, na vida profissional (ou na isenção dela) e na maternidade.
Em algum momento, Eleanor acaba tendo de dar um respaldo nas provocações que ela tanto prorroga –ou seja, deve responder ou não, se entre Anne e Jacques haverá algum romance. E ela o faz de modo sutil e elegante, sem exageros e contando com muito da excelência de seu par central: O desfecho, por isso mesmo, opta por uma dubiedade descontraída e graciosa que faz dele uma versão de “Antes do Amanhecer” na meia-idade.
Não há em Eleanor Coppola qualquer traço da exuberância narrativa de seu marido, mas ela soube –com a imprescindível ajuda de Diane Lane –realizar uma obra bastante agradável.

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