quinta-feira, 26 de abril de 2018

Me Chame Pelo Seu Nome

O maior mérito de “Me Chame Pelo Seu Nome” talvez seja a sensibilidade inconteste com a qual o diretor Luca Guadagnino narra essa trama sem maiores conflitos puramente dedicada ao registro eventual de um amor de verão. Seu estilo exercita um verve sensorial toda apropriada ao roteiro intuitivo de James Ivory (vencedor do Oscar) onde os planos de câmeras capturam superfícies úmidas, impressões subjetivas, somados aos sons da natureza que remetem prontamente a uma imersão.
O fato de tudo se ambientar na Europa, mais precisamente na Itália (o elenco fala uma mescla espontânea de inglês, italiano e francês), no ano de 1983, confere uma atmosfera sensual, lasciva e até diria libertina que justifica a expressão sexual que o filme aos poucos vai adquirindo.
Mais do que um romance homossexual, “Me Chame Pelo Seu Nome” é um romance bissexual; recebem a devida atenção da narrativa, a primeira namoradinha de Elio, Marzia (vivida pela sensacional Esther Garrel) e a paquera de Oliver, Greta (Victoria Du Bois).
Não restam dúvidas, porém, do imenso interesse que o roteiro e a direção dedicam a seus protagonistas: Elio é um jovem americano, filho de pais cultos, compreensivos e financeiramente privilegiados. Passa os dias de verão transcrevendo e tocando música clássica na belíssima mansão da família. Na atuação magnífica de Timothée Chalamet (de “Interestelar”), Elio é também um painel de emoções relativas à idade que tem –tão expressivo ele é que o filme prescinde de narração, diálogos ou qualquer outro subterfúgio para sabermos o que ele sente e pensa.
Renomado professor, o pai de Elio (Michael Stuhlbarg) chama um estudante também americano para auxiliá-lo numa pesquisa num estágio de verão. E Elio, assim, conhece Oliver (Armie Hammer) que se hospeda em sua casa.
De início, Oliver é uma incógnita. Parece polidamente arredio, e estranhamente ausente no interesse que demonstra por coisas de fora dos muros da vila. Aos poucos, porém, essa incógnita se converte, para Elio, num outro tipo de interesse.
E, com a sutileza necessária a uma trama assim, o diretor Guadagnino enlaça os dois personagens num caso de amor, acompanhando atentamente as palpitações, o crescente do desejo, as impressões fortuitas e os pequenos detalhes que conduzem às intensas reações do coração.
Para o filme (e para seus coadjuvantes), o fato de serem dois personagens do mesmo gênero a se amarem parece assim ser irrelevante –e há uma certa exaltação impar (acompanhada também de algum lamento) por esse detalhe se mostrar tão notável.
Tão bem cuidado é o trabalho de Guadagnino que ele só estabelece uma comparação válida com os dois outros grandes filmes a tratarem sobre esse tema: “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee e “Azul É A Cor Mais Quente”, de Abdellatif Kechiche. Como naquelas duas produções, a questão da homossexualidade é tratada com maestria e convicção que reduz a circunstância à sua perfeita essência –do amor puro e simples –como nelas, a excelência obtida por sua equipe resultou numa obra orgânica que encena de forma magistral as intenções, anseios, desejos e sentimentos de seus personagens; e isso tudo culminou, nos três casos, num rompimento de qualquer bloqueio preconceituoso à repercussão do filme levando-o ao sucesso de público e crítica.

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