Não há muita personalidade na filmografia do
diretor Richard Benjamin –que dirigiu, entre outros filmes mais irrelevantes,
“F/X 2” e “Psicose 2”. É, portanto, sabido, entendido e comprovado que a mente criativa
por trás de “Minha Mãe É Uma Sereia” trata-se da estrela Cher que, tendo
conquistado o Oscar de Melhor Atriz por “Feitiço da Lua” três anos antes,
gozava de prestígio e poder suficientes para moldar uma produção à sua vontade.
Nesse sentido, nota-se uma predileção por tipos
inusitados e incomuns, uma inclinação à mescla desigual de comédia e drama e
uma tendência subliminar em incorporar à indústria uma versão amena do retrato
cáustico e absurdo que os filmes de John Waters (“Pink Flamingos”, “Hairspray-E
Éramos Todos Jovens”) levavam à classe média norte-americana, em outras
palavras, estilo de sobra.
O ano é 1963, e a sociedade americana abraça
uma série de mudanças comportamentais. Entretanto, a família de Charlotte Flax
(Winona Ryder, sensacional) não parece responder a elas com naturalidade ou
normalidade: Sua irmãzinha menor Kate (a precoce Christina Ricci) é obcecada
por água e quando não disputa incansavelmente os campeonatos de natação na
escola fica em casa cronometrando suas tentativas de prender a respiração na
banheira (!), mas, o pior de tudo é sua mãe, a Sra. Flax (Cher, magnânima),
definida por ares de independência sexual e pessoal que norteavam a mulher
moderna de então, mas, sempre impondo às filhas as conseqüências indiretas de
seu próprio histrionismo –toda a vez que um namoro dá errado, a Sra. Flax faz
as malas e carrega as duas filhas para alguma outra cidade!
A própria Charlotte passa longe de ser alguém,
digamos, normal: Embora sejam descendentes de judeus, ela insiste na vocação
palpitante e reprimida de ser freira, tentando domar seus impulsos hormonais
com convicção religiosa e valendo-se desses preceitos para censurar intimamente
as atitudes da mãe.
Numa dessas idas e vindas provocadas pelos
desamores da mãe, todas vão parar numa cidadezinha onde um improvável príncipe
encantado parece surgir disposto a tolerar todos os desvarios da Sra. Flax, ele
é o fanático por beisebol Lou Landsky (Bob Hoskins).
Lá desembocarão muitos dos desenlaces narrativos
que cercam as personagens: Charlotte, atraída por um galante rapaz da região
(Michael Schoeffling) trairá suas acirradas convicções (e pensa que ficou
grávida após beijá-lo!); Sra. Flax irá se deparar, perplexa, com o real
sentimento por Lou, e na casualidade com que lidou com todos os outros antes
dele, ela se sentirá então intimidada (talvez, pela primeira vez); meio que
negligenciada pela mãe e pela irmã mais velha, justamente por estes percalços,
a pequena Kate –provavelmente, a personagem que melhor personifica a questão
das ‘sereias’ no título do filme –sofrerá uma ironia cruel e quase trágica.
Há beleza em “Minha Mãe É
Uma Sereia” e ela é quase sempre percebida quando Winona Ryder está em cena,
seja pelo fato dela estar realmente belíssima, seja pelo fascínio despertado
pelo arco dramático de sua personagem; todavia, há também um deliberado
estranhamento, nas atitudes e nas caracterizações de modo geral que impedem uma
entrega completa do expectador à essa trama sobre pessoas excêntricas.
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