segunda-feira, 16 de abril de 2018

Minha Mãe É Uma Sereia

Não há muita personalidade na filmografia do diretor Richard Benjamin –que dirigiu, entre outros filmes mais irrelevantes, “F/X 2” e “Psicose 2”. É, portanto, sabido, entendido e comprovado que a mente criativa por trás de “Minha Mãe É Uma Sereia” trata-se da estrela Cher que, tendo conquistado o Oscar de Melhor Atriz por “Feitiço da Lua” três anos antes, gozava de prestígio e poder suficientes para moldar uma produção à sua vontade.
Nesse sentido, nota-se uma predileção por tipos inusitados e incomuns, uma inclinação à mescla desigual de comédia e drama e uma tendência subliminar em incorporar à indústria uma versão amena do retrato cáustico e absurdo que os filmes de John Waters (“Pink Flamingos”, “Hairspray-E Éramos Todos Jovens”) levavam à classe média norte-americana, em outras palavras, estilo de sobra.
O ano é 1963, e a sociedade americana abraça uma série de mudanças comportamentais. Entretanto, a família de Charlotte Flax (Winona Ryder, sensacional) não parece responder a elas com naturalidade ou normalidade: Sua irmãzinha menor Kate (a precoce Christina Ricci) é obcecada por água e quando não disputa incansavelmente os campeonatos de natação na escola fica em casa cronometrando suas tentativas de prender a respiração na banheira (!), mas, o pior de tudo é sua mãe, a Sra. Flax (Cher, magnânima), definida por ares de independência sexual e pessoal que norteavam a mulher moderna de então, mas, sempre impondo às filhas as conseqüências indiretas de seu próprio histrionismo –toda a vez que um namoro dá errado, a Sra. Flax faz as malas e carrega as duas filhas para alguma outra cidade!
A própria Charlotte passa longe de ser alguém, digamos, normal: Embora sejam descendentes de judeus, ela insiste na vocação palpitante e reprimida de ser freira, tentando domar seus impulsos hormonais com convicção religiosa e valendo-se desses preceitos para censurar intimamente as atitudes da mãe.
Numa dessas idas e vindas provocadas pelos desamores da mãe, todas vão parar numa cidadezinha onde um improvável príncipe encantado parece surgir disposto a tolerar todos os desvarios da Sra. Flax, ele é o fanático por beisebol Lou Landsky (Bob Hoskins).
Lá desembocarão muitos dos desenlaces narrativos que cercam as personagens: Charlotte, atraída por um galante rapaz da região (Michael Schoeffling) trairá suas acirradas convicções (e pensa que ficou grávida após beijá-lo!); Sra. Flax irá se deparar, perplexa, com o real sentimento por Lou, e na casualidade com que lidou com todos os outros antes dele, ela se sentirá então intimidada (talvez, pela primeira vez); meio que negligenciada pela mãe e pela irmã mais velha, justamente por estes percalços, a pequena Kate –provavelmente, a personagem que melhor personifica a questão das ‘sereias’ no título do filme –sofrerá uma ironia cruel e quase trágica.
Há beleza em “Minha Mãe É Uma Sereia” e ela é quase sempre percebida quando Winona Ryder está em cena, seja pelo fato dela estar realmente belíssima, seja pelo fascínio despertado pelo arco dramático de sua personagem; todavia, há também um deliberado estranhamento, nas atitudes e nas caracterizações de modo geral que impedem uma entrega completa do expectador à essa trama sobre pessoas excêntricas.

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