segunda-feira, 9 de abril de 2018

O Império da Paixão

O título nacional pode sugerir uma tentativa de Nagisa Oshima reaproveitar a grande repercussão de seu polêmico “O Império dos Sentidos”, mas, este trabalho lançado anos depois, nos anos 1980, tem muitos méritos próprios; é, por exemplo, uma obra de notável flagrante na evolução que Oshima sofreu como cineasta –sua narrativa abrange os elementos de seu cinema com um refinamento ainda maior, justificando assim o prêmio de direção recebido em Cannes.
Sua trama é sobre a resignada e desiludida Seki (Kasuko Yoshiyuki, de um charme maduro), que vive numa pequena aldeia do Japão Feudal, casada com o condutor de riquixá, Gisaburo (Takahiro Tamura). A proximidade com o jovem Toyoji (Tatsuya Fuji, mesmo ator de “O Império dos Sentidos”), quando este passa a seduzi-la, leva Seki a cometer adultério, fazendo a paixão se intensificar em paralelo ao perigo.
Não tarda para que Seki e Toyoji vejam em Gisaburo um inconveniente em sua relação. À isso segue-se a conclusão de tirá-lo do caminho, o quê conduzirá a trama à tragédia real, registrada no Século XIX, na qual o filme de Oshima se inspira.
Todavia, Oshima ergue uma atmosfera quase mágica no terço final, quando o peso do crime que perpetraram leva Seki e Toyoji à paranóia e à superstição –as aparições do que seria o fantasma de Gisaburo são imagens construídas com um refinamento visual inesperado e fascinante –e, por fim, à sua derrocada.
Como em seu trabalho mais famoso, Oshima observa seus personagens, conduzidos pelo desejo irrefreável, avançarem ao abismo da tragédia sem qualquer possibilidade de socorro; para ele, o ser humano –mesmo que o mais civilizado e passivo –vive e morre guiado por impulsos tão primitivos quanto guturais, e ele dedicou, ao menos, dois grandes filmes na tentativa de ratificar essa conclusão.

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