O filme do norueguês Joachim Trier (diretor de
“Oslo, 31 de Agosto”, “Começar de Novo” e “Mais Forte Que Bombas”) se inicia
numa cena enigmática, nada óbvia: Um homem e uma menininha, pai e filha,
caminham por um lago congelado, depois por uma floresta. Estão caçando. Em um
momento, o homem é invadido pela possibilidade de usar a arma na criança. Por
pouco não o faz.
O filme que se segue a partir daí desafia o
expectador a tentar encontrar um motivo plausível para um gesto tão radical e
contundente e, dessa forma, desvencilha pouco a pouco a névoa misteriosa ao
redor dos personagens.
A menina Thelma (a excelente Eili Harboe),
agora uma jovem beirando os vinte anos e não mais uma criança, começa a dar os
primeiros passos de independência quando vai morar sozinha e estudar na
universidade de Oslo.
Mesmo à distância, o pai e a mãe (Henrik
Rafaelsen e Ellen Dorrit Petersen, ambos de “Blind”, produzido por Joachim
Trier) exercem influência opressora sobre Thelma e a narrativa não tarda a
vislumbrar por meio disso um passado traumático; entre outros indícios, a mãe
de Thelma usa cadeira de rodas, fator que no cinema costuma indicar uma
tragédia pregressa.
Elementos intrigantes cercam Thelma o tempo
todo. Pássaros e outros animais parecem estabelecer com ela uma estranha
sintonia. Ela tem pavorosos surtos que parecem ser crises de epilepsia. Tudo
está relacionado com poderes paranormais que ela apresenta desde criança –e que
estai diretamente ligados à incomum crença religiosa fundamentalista que
norteia sua família.
Quando Thelma conhece Anja (Kaya Wilkins) –e
por ela nutre uma irreprimível atração –o controle instável que ela mantinha
sobre esses poderes começa a se desestabilizar; e a revelar suas inacreditáveis
extensões.
Fazendo lembrar as obras de
M. Night Shyamalan, “Thelma” é um suspense primorosamente bem dirigido e bem
escrito (seu roteirista Eskil Vogt é diretor de “Blind”), o quê confere ao seu
tema fantástico um contexto poderosamente austero e realista.
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