Em 1982, o giallo já era um sub-gênero
anacrônico, condicionado, na opinião de público e crítica, às impressões da
década anterior; afinal, desde então, o cinema de terror e suspense já tinha o
slasher e seu exemplar mais ilustrativo, “Halloween”, de John Carpenter.
Para este giallo (que nem é um giallo tanto
assim), o diretor Lucio Fulci agregou diversos ecos de outros gêneros como o
próprio slasher, o filme de investigação policial e o sexploitation –para
tornar ainda mais cosmopolita sua obra, ele ambientou-a em Nova York, o quê
ajuda sua narrativa a absorver muitas peculiaridades do cinema americano.
O mal-humorado policial vivido por Jack Hedley
investiga a ação de um serial killer: O psicopata mata mulheres dando sangrenta
atenção aos órgãos genitais.
E na encenação de cada uma das mortes, o
diretor Fulci também dá sangrenta atenção aos detalhes macabros fazendo valer
sua fama como mestre do gore.
Ele sequer tem muita paciência para desenvolver
seus personagens –mesmo o protagonista: Em vez disso, Fulci quase enumera uma
morte seguida da outra simultaneamente, preocupado, acima de tudo, com o
requinte sádico dado a todas elas: À primeira (que, na realidade não é
mostrada, sendo só uma cena onde um cão acha uma mão humana num barranco) logo
se segue a segunda, onde uma jovem motociclista é encurralada por alguém que
fala com voz de pato (!) –um detalhe estranhamente pertinente no filme. Na seqüência
vemos a atriz Zora Kerova (do esdrúxulo “Cannibal Ferox”) logo após um
espetáculo de sexo ao vivo, ser golpeada na virilha pelo mesmo assassino.
Aos poucos, conforme essas mortes vão se
sucedendo, o policial, aliado a um displicente psicólogo (Paolo Malco) começam
a elaborar um perfil do maníaco e entender seu modus operandi e sua motivação
–que, não se engane, é incoerente, banal e redundante como ocorre em muitos
gialli!
Se com Alfred Hitchcock –a pedra essencial do
suspense e modelo por meio do qual Argento, Bava e outros realizadores
acenderam o estopim inicial do giallo –o registro subjetivo do assassino e de
seus atos vinha embalado numa elegância cheia de sugestão, hoje podemos notar
que o giallo (que começou em princípio como toda uma alusão italiana às
características de Hitchcock) logo se transfigurou pela ousadia e transgressão
do tempo a que pertenceu (os anos 1970) e pelas personalidades diversas de seus
realizadores: Hitchcock torceria o nariz para a vulgaridade que é empregada em
“O Estripador de Nova York”, mas o diretor Lucio Fulci a abraça como um
elemento que define e dá textura à todo o contexto onde a trama se desenvolve.
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