terça-feira, 15 de maio de 2018

O Estripador de nova York


Em 1982, o giallo já era um sub-gênero anacrônico, condicionado, na opinião de público e crítica, às impressões da década anterior; afinal, desde então, o cinema de terror e suspense já tinha o slasher e seu exemplar mais ilustrativo, “Halloween”, de John Carpenter.
Para este giallo (que nem é um giallo tanto assim), o diretor Lucio Fulci agregou diversos ecos de outros gêneros como o próprio slasher, o filme de investigação policial e o sexploitation –para tornar ainda mais cosmopolita sua obra, ele ambientou-a em Nova York, o quê ajuda sua narrativa a absorver muitas peculiaridades do cinema americano.
O mal-humorado policial vivido por Jack Hedley investiga a ação de um serial killer: O psicopata mata mulheres dando sangrenta atenção aos órgãos genitais.
E na encenação de cada uma das mortes, o diretor Fulci também dá sangrenta atenção aos detalhes macabros fazendo valer sua fama como mestre do gore.
Ele sequer tem muita paciência para desenvolver seus personagens –mesmo o protagonista: Em vez disso, Fulci quase enumera uma morte seguida da outra simultaneamente, preocupado, acima de tudo, com o requinte sádico dado a todas elas: À primeira (que, na realidade não é mostrada, sendo só uma cena onde um cão acha uma mão humana num barranco) logo se segue a segunda, onde uma jovem motociclista é encurralada por alguém que fala com voz de pato (!) –um detalhe estranhamente pertinente no filme. Na seqüência vemos a atriz Zora Kerova (do esdrúxulo “Cannibal Ferox”) logo após um espetáculo de sexo ao vivo, ser golpeada na virilha pelo mesmo assassino.
Aos poucos, conforme essas mortes vão se sucedendo, o policial, aliado a um displicente psicólogo (Paolo Malco) começam a elaborar um perfil do maníaco e entender seu modus operandi e sua motivação –que, não se engane, é incoerente, banal e redundante como ocorre em muitos gialli!
Se com Alfred Hitchcock –a pedra essencial do suspense e modelo por meio do qual Argento, Bava e outros realizadores acenderam o estopim inicial do giallo –o registro subjetivo do assassino e de seus atos vinha embalado numa elegância cheia de sugestão, hoje podemos notar que o giallo (que começou em princípio como toda uma alusão italiana às características de Hitchcock) logo se transfigurou pela ousadia e transgressão do tempo a que pertenceu (os anos 1970) e pelas personalidades diversas de seus realizadores: Hitchcock torceria o nariz para a vulgaridade que é empregada em “O Estripador de Nova York”, mas o diretor Lucio Fulci a abraça como um elemento que define e dá textura à todo o contexto onde a trama se desenvolve.

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