sexta-feira, 18 de maio de 2018

O Touro Ferdinando

Clássico indiscutível, o curta-metragem animado da Disney “O Touro Ferdinando” –datado, acredite se quiser, de 1938! –povoou o subconsciente de toda uma geração de crianças brasileiras com suas constantes exibições nas manhãs da TV na década de 1980; geração esta à qual o diretor Carlos Saldanha (de “A Era do Gelo” e “Rio”) pertence.
Por ser tão absurdamente antigo (e esse é um dado deveras impressionante, pois tecnicamente ele não parece antigo!), “O Touro Ferdinando” já caiu a tempos em domínio público, o quê permitiu que Saldanha, hoje um especialista em animação digital, realizar um longa-metragem animado por computação com todas as referências visuais ao desenho da Disney que tem direito (deixando clara a imensa influência que ele teve na formação cultural e afetiva do diretor), mas produzido pelos estúdios da Blue Sky, produtora por trás de todas as obras anteriores de Saldanha.
Assim como no curta-metragem, Ferdinando é um bezerro que desde cedo cultivou o apreço pelas flores, o que deu a ele uma personalidade afável e pacata, diferente dos demais bezerros que, briguentos, almejavam a ferocidade para serem escolhidos nas touradas quando crescerem.
Aproveitando uma oportunidade, Ferdinando escapa da fazenda de criação de touros onde nasceu e se perde pelo mundo até encontrar Nina, uma garotinha que cultiva flores com seu pai. Com ela, Ferdinando encontra um lar.
O tempo passa e Ferdinando se torna um touro enorme e imponente, preservando, porém, a gentileza e a sensibilidade. Sua compleição agigantada, entretanto, não permite mais que ele vá ao seu adorado Festival das Flores realizado na cidade de Sevilha.
Mas, a despeito das advertências, Ferdinando vai e, ao ser picado por acaso por uma abelha, provoca um tumulto que o leva a ser capturado e levado mais uma vez à fazenda de criação de touros de onde um dia escapou –agora, os bezerros são todos touros crescidos ávidos pela chance de serem escolhidos pelo famoso toureiro El Primeiro para sua derradeira tourada, completamente ignorantes do destino reservado aos touros na arena.
Esses e outros personagens irão ajudar Ferdinando em sua jornada para voltar pra junto de Nina.
Expandida nessa versão mais longa, a história tem momentos enrolados e personagens que resvalam na redundância em comparação com o absolutamente enxuto desenho original –mas, Saldanha se beneficia justamente do fato de que as crianças pequenas de hoje desconhecem o desenho clássico; e é para elas que ele faz “O Touro Ferdinando”.
Como em “Rio”, onde ele realizou uma bonita e estilizada recriação do Rio de Janeiro, aqui Saldanha aplica as habilidades cada vez mais aperfeiçoadas dos animadores digitais para recriar parte de Sevilha e, sobretudo, a cidade de Madri, palco do desenlace final que, de maneira muito mais pungente e pertinente que o desenho de 1938, discute com humor, sensibilidade e senso de denúncia, os maus tratos com animais perpetrados nas touradas –um assunto bastante discutido nos tempos recentes.
Entre seus altos e baixos, a versão dos tempos de hoje para “O Touro Ferdinando” é uma execução que valeu a pena ter sido realizada.

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