Clássico indiscutível, o curta-metragem animado
da Disney “O Touro Ferdinando” –datado, acredite se quiser, de 1938! –povoou o
subconsciente de toda uma geração de crianças brasileiras com suas constantes
exibições nas manhãs da TV na década de 1980; geração esta à qual o diretor
Carlos Saldanha (de “A Era do Gelo” e “Rio”) pertence.
Por ser tão absurdamente antigo (e esse é um
dado deveras impressionante, pois tecnicamente ele não parece antigo!), “O
Touro Ferdinando” já caiu a tempos em domínio público, o quê permitiu que
Saldanha, hoje um especialista em animação digital, realizar um longa-metragem
animado por computação com todas as referências visuais ao desenho da Disney
que tem direito (deixando clara a imensa influência que ele teve na formação
cultural e afetiva do diretor), mas produzido pelos estúdios da Blue Sky,
produtora por trás de todas as obras anteriores de Saldanha.
Assim como no curta-metragem, Ferdinando é um
bezerro que desde cedo cultivou o apreço pelas flores, o que deu a ele uma
personalidade afável e pacata, diferente dos demais bezerros que, briguentos,
almejavam a ferocidade para serem escolhidos nas touradas quando crescerem.
Aproveitando uma oportunidade, Ferdinando
escapa da fazenda de criação de touros onde nasceu e se perde pelo mundo até
encontrar Nina, uma garotinha que cultiva flores com seu pai. Com ela,
Ferdinando encontra um lar.
O tempo passa e Ferdinando se torna um touro
enorme e imponente, preservando, porém, a gentileza e a sensibilidade. Sua
compleição agigantada, entretanto, não permite mais que ele vá ao seu adorado
Festival das Flores realizado na cidade de Sevilha.
Mas, a despeito das advertências, Ferdinando
vai e, ao ser picado por acaso por uma abelha, provoca um tumulto que o leva a
ser capturado e levado mais uma vez à fazenda de criação de touros de onde um
dia escapou –agora, os bezerros são todos touros crescidos ávidos pela chance
de serem escolhidos pelo famoso toureiro El Primeiro para sua derradeira
tourada, completamente ignorantes do destino reservado aos touros na arena.
Esses e outros personagens irão ajudar
Ferdinando em sua jornada para voltar pra junto de Nina.
Expandida nessa versão mais longa, a história
tem momentos enrolados e personagens que resvalam na redundância em comparação
com o absolutamente enxuto desenho original –mas, Saldanha se beneficia
justamente do fato de que as crianças pequenas de hoje desconhecem o desenho
clássico; e é para elas que ele faz “O Touro Ferdinando”.
Como em “Rio”, onde ele realizou uma bonita e
estilizada recriação do Rio de Janeiro, aqui Saldanha aplica as habilidades
cada vez mais aperfeiçoadas dos animadores digitais para recriar parte de
Sevilha e, sobretudo, a cidade de Madri, palco do desenlace final que, de
maneira muito mais pungente e pertinente que o desenho de 1938, discute com
humor, sensibilidade e senso de denúncia, os maus tratos com animais
perpetrados nas touradas –um assunto bastante discutido nos tempos recentes.
Entre seus altos e baixos,
a versão dos tempos de hoje para “O Touro Ferdinando” é uma execução que valeu
a pena ter sido realizada.
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