domingo, 13 de maio de 2018

Tudo O Que você Sempre Quis Saber Sobre Sexo


“...Mas Tinha Vergonha de Perguntar” é o acréscimo secundário ao já quilométrico título deste filme de Woody Allen, ao contrário de praticamente todos de sua filmografia, baseado num livro, nem um pouco de ficção, publicado pelo Dr. David Reuben.
A apresentação dos créditos iniciais –incomum para Allen –se dá não em tela preta (como é habitual para ele), mas sobre cenas que mostram coelhos; e assim, cheio de galhofa, se iniciam os sete episódios nos quais o conceito instrutivo do livro serve de pretexto para Woody Allen destilar sua ironia ferina que é também uma espécie de auto-defesa contra neuroses de ordem sexual que ele próprio experimentou.
OS AFRODISÍACOS FUNCIONAM?
Um bobo da corte vivido pelo próprio Woody Allen (usando seus habituais óculos, um detalhe hilário e anacrônico) amarga a frustração com o fato de suas piadas –feitas com o excesso de sofisticação dos stand ups de hoje em dia –não surtirem qualquer efeito no carrancudo rei, além de alimentar um desejo secreto pela rainha (Lynn Redgrave, de “Deuses e Monstros”).
Ao melhor estilo “Hamlet” –que Allen, neste episódio, parodia sem piedade –ele é visitado pelo fantasma do pai que o encoraja a servir um afrodisíaco à rainha e com ela tentar a sorte. A infalibilidade do plano só esbarra no bizarro cinto de castidade com o qual o rei se preveniu vestindo-o na rainha (!).
O QUE É SODOMIA?
Estrelado por Gene Wylder (de “Primavera Para Hitler” e “A Dama de Vermelho”), o segundo episódio traz um médico de estável vida profissional e matrimonial. Certo dia, ele é visitado por um imigrante da Armênia que se mostra aflito: Ele narra, como naturalidade desconcertante, o caso de amor que teve com uma ovelha (!) chamada Daisy! E mais: Quer que o bom doutor converse com ela (!!) uma vez que a paixão esfriou (!!!). Inicialmente tomando-o como louco, o doutor sofre um inesperado revés quando ele próprio se apaixona pela ovelha Daisy (!), e por ela coloca em risco tudo o que conquistou.
POR QUE ALGUMAS MULHERES NÃO SENTEM ORGASMO?
Woody Allen volta a aparecer protagonizando este conto cuja referência certamente é o cinema sofisticado de Michelangelo Antonioni –até mesmo um italiano macarrônico os personagens falam!
Com efeito, a questão é, de fato, a incomunicabilidade: Embora casado com uma bela mulher, o perplexo marido não sabe como deixá-la excitada na cama –nenhuma das técnicas usuais parecem funcionar.
As coisas só mudam quando, por acaso, ele descobre que ela gosta de transar em lugares públicos!
TRAVESTIS SÃO HOMOSSEXUAIS?
Do alto de seus cinqüenta anos, Sam (o hilário Lou Jacobi) vai com a esposa visitar os sogros do próprio filho. Durante a confraternização, Sam dá uma escapadela para, escondido, vestir as roupas da dona da casa (!), mas um imprevisto o obriga a pular a janela para não ser flagrado e, uma vez na rua (e trajado de um vestido), tudo do pior começa a acontecer: Ele é roubado. A polícia aparece. Forma-se uma multidão.
O QUE SÃO PERVERTIDOS SEXUAIS?
Numa linguagem que recria a TV dos anos 1950 (com imperfeições e defeitos típicos da imagem), Allen coloca o próprio John Barry para apresentar um programa de variedades intitulado “Qual a Sua Perversão?”.
Entre tentativas de adivinhação dos jurados e perguntas e respostas descontraídas, o tema são hábitos potencialmente capazes de chocar os mais conservadores.
OS RESULTADOS DOS MÉDICOS E DAS CLÍNICAS QUE FAZEM PESQUISAS SOBRE SEXO E EXPERIMENTOS SÃO PRECISOS?
Aqui, Allen (que interpreta o protagonista metido a herói) homenageia, desta vez, os filmes B de monstros e cientistas malucos –é, por sinal, com um personagem cheio dessas características que Victor se cruza numa mansão que também serve como laboratório. Quando algo dá errado, surge então um seio gigante (!), que passa a ameaçar as pessoas –sobretudo, os homens que não conseguem escapar de seu fascínio por ele!
O QUE ACONTECE NA EJACULAÇÃO?
Numa cabine de comando que lembra o cenário da série “Jornada Nas Estrelas”, uma tripulação –em meio à qual se nota uma ponta de Burt Reynolds –inicia os preparativos para um intercurso sexual (!). Na verdade, é o interior do corpo humano (de um homem) e o episódio visita os diferentes órgãos que efetuam seu funcionamento durante o sexo: O cérebro (onde as decisões ocorrem, e até algumas dúvidas –quando aparece um padre para realizar uma sabotagem!); o coração; as glândulas (funcionários perplexos tentando manter a língua lubrificada); e o órgão genital (os trabalhadores braçais sofrendo para manter a ereção e os espermatozóides, entre os quais está um assustado e preocupado Woody Allen).
Oscilante em qualidade –o quê é até normal numa obra episódica –a narrativa parece não se resolver completamente ao dar conta de todos os segmentos curtos e a montagem (principal responsável pelo ritmo e pela coesão de um trabalho assim) se mostra trôpega.
Ainda assim é válido como uma das mais diferenciadas obras de Woody Allen.

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