“...Mas Tinha Vergonha de Perguntar” é o
acréscimo secundário ao já quilométrico título deste filme de Woody Allen, ao
contrário de praticamente todos de sua filmografia, baseado num livro, nem um
pouco de ficção, publicado pelo Dr. David Reuben.
A apresentação dos créditos iniciais –incomum
para Allen –se dá não em tela preta (como é habitual para ele), mas sobre cenas
que mostram coelhos; e assim, cheio de galhofa, se iniciam os sete episódios
nos quais o conceito instrutivo do livro serve de pretexto para Woody Allen
destilar sua ironia ferina que é também uma espécie de auto-defesa contra
neuroses de ordem sexual que ele próprio experimentou.
OS AFRODISÍACOS FUNCIONAM?
Um bobo da corte vivido pelo próprio Woody
Allen (usando seus habituais óculos, um detalhe hilário e anacrônico) amarga a
frustração com o fato de suas piadas –feitas com o excesso de sofisticação dos
stand ups de hoje em dia –não surtirem qualquer efeito no carrancudo rei, além
de alimentar um desejo secreto pela rainha (Lynn Redgrave, de “Deuses e
Monstros”).
Ao melhor estilo “Hamlet” –que Allen, neste
episódio, parodia sem piedade –ele é visitado pelo fantasma do pai que o
encoraja a servir um afrodisíaco à rainha e com ela tentar a sorte. A
infalibilidade do plano só esbarra no bizarro cinto de castidade com o qual o
rei se preveniu vestindo-o na rainha (!).
O QUE É SODOMIA?
Estrelado por Gene Wylder (de “Primavera Para
Hitler” e “A Dama de Vermelho”), o segundo episódio traz um médico de estável
vida profissional e matrimonial. Certo dia, ele é visitado por um imigrante da
Armênia que se mostra aflito: Ele narra, como naturalidade desconcertante, o
caso de amor que teve com uma ovelha (!) chamada Daisy! E mais: Quer que o bom
doutor converse com ela (!!) uma vez que a paixão esfriou (!!!). Inicialmente
tomando-o como louco, o doutor sofre um inesperado revés quando ele próprio se
apaixona pela ovelha Daisy (!), e por ela coloca em risco tudo o que conquistou.
POR QUE ALGUMAS MULHERES NÃO SENTEM ORGASMO?
Woody Allen volta a aparecer protagonizando
este conto cuja referência certamente é o cinema sofisticado de Michelangelo
Antonioni –até mesmo um italiano macarrônico os personagens falam!
Com efeito, a questão é, de fato, a
incomunicabilidade: Embora casado com uma bela mulher, o perplexo marido não
sabe como deixá-la excitada na cama –nenhuma das técnicas usuais parecem
funcionar.
As coisas só mudam quando, por acaso, ele descobre
que ela gosta de transar em lugares públicos!
TRAVESTIS SÃO HOMOSSEXUAIS?
Do alto de seus cinqüenta anos, Sam (o hilário
Lou Jacobi) vai com a esposa visitar os sogros do próprio filho. Durante a
confraternização, Sam dá uma escapadela para, escondido, vestir as roupas da
dona da casa (!), mas um imprevisto o obriga a pular a janela para não ser
flagrado e, uma vez na rua (e trajado de um vestido), tudo do pior começa a acontecer:
Ele é roubado. A polícia aparece. Forma-se uma multidão.
O QUE SÃO PERVERTIDOS SEXUAIS?
Numa linguagem que recria a TV dos anos 1950
(com imperfeições e defeitos típicos da imagem), Allen coloca o próprio John
Barry para apresentar um programa de variedades intitulado “Qual a Sua
Perversão?”.
Entre tentativas de adivinhação dos jurados e
perguntas e respostas descontraídas, o tema são hábitos potencialmente capazes
de chocar os mais conservadores.
OS RESULTADOS DOS MÉDICOS E DAS CLÍNICAS QUE
FAZEM PESQUISAS SOBRE SEXO E EXPERIMENTOS SÃO PRECISOS?
Aqui, Allen (que interpreta o protagonista
metido a herói) homenageia, desta vez, os filmes B de monstros e cientistas
malucos –é, por sinal, com um personagem cheio dessas características que
Victor se cruza numa mansão que também serve como laboratório. Quando algo dá
errado, surge então um seio gigante (!), que passa a ameaçar as pessoas
–sobretudo, os homens que não conseguem escapar de seu fascínio por ele!
O QUE ACONTECE NA EJACULAÇÃO?
Numa cabine de comando que lembra o cenário da
série “Jornada Nas Estrelas”, uma tripulação –em meio à qual se nota uma ponta
de Burt Reynolds –inicia os preparativos para um intercurso sexual (!). Na
verdade, é o interior do corpo humano (de um homem) e o episódio visita os
diferentes órgãos que efetuam seu funcionamento durante o sexo: O cérebro (onde
as decisões ocorrem, e até algumas dúvidas –quando aparece um padre para
realizar uma sabotagem!); o coração; as glândulas (funcionários perplexos
tentando manter a língua lubrificada); e o órgão genital (os trabalhadores
braçais sofrendo para manter a ereção e os espermatozóides, entre os quais está
um assustado e preocupado Woody Allen).
Oscilante em qualidade –o quê é até normal numa
obra episódica –a narrativa parece não se resolver completamente ao dar conta
de todos os segmentos curtos e a montagem (principal responsável pelo ritmo e
pela coesão de um trabalho assim) se mostra trôpega.
Ainda assim é válido como
uma das mais diferenciadas obras de Woody Allen.
Nenhum comentário:
Postar um comentário