Para tanto, inúmeras coisas deram certo em
“Duro de Matar” –a começar pela imprevista escolha de Bruce Willis, cujo
carisma segura o filme maravilhosamente bem, no lugar do inicialmente cotado
Schwarzenegger; Willis (na crista da onda com o sucesso da série “A Gata e O
Rato”) termina introduzindo o elemento que mais distingue e define seu
personagem –o policial John McClane –e o próprio filme que ele protagoniza: A
sua vulnerabilidade.
Os anos 1980 estavam abarrotados –e talvez até
defasados –de protagonistas durões, fortes e invencíveis; entre os quais muitos
deles vividos pelo próprio Arnold Schwarzenegger e por Sylvester Stallone (como
“Rambo”).
“Duro de Matar” como quem não quer nada
estabeleceu uma nova equação: O filme de McTiernam testa o expectador. Até
mesmo provocando-o com a possibilidade de um filme mais contido em sua primeira
meia hora: Vemos o policial nova-iorquino John McClane chegando em Los Angeles,
para visitar a família no feriado de Natal.
Em plena véspera, ele acaba indo parar numa
festa em um edifício luxuoso onde sua esposa Holly (Bonnie Bedelia) trabalha
ambiciosamente como uma das executivas –fato que deixou seu casamento abalado;
e nesse breve trecho notamos o quão indispensável é a versatilidade dramática
de Willis em dar facetas humanas ao personagem (coisa que Schwarzenegger e
Stallone possivelmente não seriam capazes de fazer).
Esses elementos serão essenciais mais a frente.
Colidindo com as expectativas do público ao
deixar de entregar cenas de ação ocasionais –e, em vez disso, deixando que a
narrativa se torne tensa, eletrizante e épica aos poucos, McTiernam monta o
cenário devagarzinho: Subitamente, bandidos altamente organizados tomam o local.
Isolam o prédio e fazem todos de refém no único andar ocupado (o da festa).
Eles e seu líder (interpretado primorosamente por Alan Rickman) têm um
propósito que se mantém misterioso (e que, no fim das contas, não importa
muito).
Durante o tumulto, o policial McClane passa
despercebido e consegue se refugiar nos outros andares do edifício, vazio em
função do feriado.
E está assim armada a circunstância sensacional
em torno da qual a narrativa de “Duro de Matar” irá girar –e que irá explorar
em todos os desdobramentos explosivos. McClane acaba por se tornar a única
esperança para os reféns, e uma dor de cabeça gradualmente alarmante para os
bandidos –e nesse crescendo, o diretor McTiernam amplia o suspense e o assombro
do público amparando-se na autenticidade de seu protagonista. Ao ver McClane
sangrar, sentir medo, apreensão e até frustração (na contínua incapacidade de
encontrar algo para vestir seus pés descalços) o diretor aproxima um herói de
ação de seu público de forma até então inédita e ainda se dá ao luxo, quando
“Duro de Matar” diz a que veio e se torna o filmaço que é, de entregar uma cena
de ação memorável atrás da outra. Cito duas: A luta brutal e (à época)
impressionante entre McClane e o brutamontes vivido por Alexander Godunov (de
“Um Dia A Casa Cai”); e aquela que talvez seja a grande cena clássica do filme
–McClane encurralado numa cobertura prestes a explodir se amarra numa reles
mangueira de incêndio para saltar do edifício num dos momentos mais
vertiginosos do cinema comercial dos anos 1980.
Tão envolvente e vibrante foi a simplicidade e
a objetividade de sua premissa que “Duro de Matar” virou nas décadas seguintes,
uma espécie de conceito: Os filmes de ação produzidos passaram a ser variações
de “Duro de Matar” com seus heróis confinados em porta-aviões (“A Força Em
Alerta”, com Steve Segal), em estádios de hóquei (“Morte Súbita”, com Jean
Claude Van Damme), e até em um ônibus (“Velocidade Máxima”, com Keanu Reeves)!
Mesmo hoje esse conceito ainda perdura (caso do recente “Invasão À Casa
Branca”, com Gerard Butler).
O próprio “Duro de Matar”
rendeu até então quatro continuações (todas com Bruce Millis em boa forma), mas
nem elas nem seus imitadores foram capazes de capturar a genialidade deste
primeiro filme.
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