domingo, 13 de maio de 2018

Duro de Matar



Vindo de um filme muito bem-sucedido (“O Predador”, com Arnold Schwarzenegger), o diretor John McTiernam –que, depois deste trabalho passou a ser considerado, com méritos, um especialista –conseguiu entregar, neste projeto seguinte, um filme de apelo irresistível, onde o gênero de ação encontra um de seus mais perfeitos (e mais imitados) exemplares.
Para tanto, inúmeras coisas deram certo em “Duro de Matar” –a começar pela imprevista escolha de Bruce Willis, cujo carisma segura o filme maravilhosamente bem, no lugar do inicialmente cotado Schwarzenegger; Willis (na crista da onda com o sucesso da série “A Gata e O Rato”) termina introduzindo o elemento que mais distingue e define seu personagem –o policial John McClane –e o próprio filme que ele protagoniza: A sua vulnerabilidade.
Os anos 1980 estavam abarrotados –e talvez até defasados –de protagonistas durões, fortes e invencíveis; entre os quais muitos deles vividos pelo próprio Arnold Schwarzenegger e por Sylvester Stallone (como “Rambo”).
“Duro de Matar” como quem não quer nada estabeleceu uma nova equação: O filme de McTiernam testa o expectador. Até mesmo provocando-o com a possibilidade de um filme mais contido em sua primeira meia hora: Vemos o policial nova-iorquino John McClane chegando em Los Angeles, para visitar a família no feriado de Natal.
Em plena véspera, ele acaba indo parar numa festa em um edifício luxuoso onde sua esposa Holly (Bonnie Bedelia) trabalha ambiciosamente como uma das executivas –fato que deixou seu casamento abalado; e nesse breve trecho notamos o quão indispensável é a versatilidade dramática de Willis em dar facetas humanas ao personagem (coisa que Schwarzenegger e Stallone possivelmente não seriam capazes de fazer).
Esses elementos serão essenciais mais a frente.
Colidindo com as expectativas do público ao deixar de entregar cenas de ação ocasionais –e, em vez disso, deixando que a narrativa se torne tensa, eletrizante e épica aos poucos, McTiernam monta o cenário devagarzinho: Subitamente, bandidos altamente organizados tomam o local. Isolam o prédio e fazem todos de refém no único andar ocupado (o da festa). Eles e seu líder (interpretado primorosamente por Alan Rickman) têm um propósito que se mantém misterioso (e que, no fim das contas, não importa muito).
Durante o tumulto, o policial McClane passa despercebido e consegue se refugiar nos outros andares do edifício, vazio em função do feriado.
E está assim armada a circunstância sensacional em torno da qual a narrativa de “Duro de Matar” irá girar –e que irá explorar em todos os desdobramentos explosivos. McClane acaba por se tornar a única esperança para os reféns, e uma dor de cabeça gradualmente alarmante para os bandidos –e nesse crescendo, o diretor McTiernam amplia o suspense e o assombro do público amparando-se na autenticidade de seu protagonista. Ao ver McClane sangrar, sentir medo, apreensão e até frustração (na contínua incapacidade de encontrar algo para vestir seus pés descalços) o diretor aproxima um herói de ação de seu público de forma até então inédita e ainda se dá ao luxo, quando “Duro de Matar” diz a que veio e se torna o filmaço que é, de entregar uma cena de ação memorável atrás da outra. Cito duas: A luta brutal e (à época) impressionante entre McClane e o brutamontes vivido por Alexander Godunov (de “Um Dia A Casa Cai”); e aquela que talvez seja a grande cena clássica do filme –McClane encurralado numa cobertura prestes a explodir se amarra numa reles mangueira de incêndio para saltar do edifício num dos momentos mais vertiginosos do cinema comercial dos anos 1980.
Tão envolvente e vibrante foi a simplicidade e a objetividade de sua premissa que “Duro de Matar” virou nas décadas seguintes, uma espécie de conceito: Os filmes de ação produzidos passaram a ser variações de “Duro de Matar” com seus heróis confinados em porta-aviões (“A Força Em Alerta”, com Steve Segal), em estádios de hóquei (“Morte Súbita”, com Jean Claude Van Damme), e até em um ônibus (“Velocidade Máxima”, com Keanu Reeves)! Mesmo hoje esse conceito ainda perdura (caso do recente “Invasão À Casa Branca”, com Gerard Butler).
O próprio “Duro de Matar” rendeu até então quatro continuações (todas com Bruce Millis em boa forma), mas nem elas nem seus imitadores foram capazes de capturar a genialidade deste primeiro filme.

Nenhum comentário:

Postar um comentário