De início, é de se perguntar, como em qualquer
caso, o quê faz de “Admiradora Secreta” um filme digno de uma menção já
passados trinta e três anos de seu lançamento.
Além de ser exemplar como ótimo produto
comercial típico dos anos 1980, ele passou muito bem pelo teste do tempo: No
que se propõe e no que lhe compete, o filme continua eficaz, fluido e tão cheio
de empatia quanto em 1985!
O elenco é povoado por rostos apontados como
estrelas promissoras do período –e que se tornaram estrelas restritas aos anos
1980 mesmo –sempre presentes em projetos que envolviam o mesmo tipo de
entrenimento que passou a ser relacionado com a ‘sessão da tarde’: Três anos
antes, o jovem protagonista C. Thomas Howell tinha aparecido em “E.T. O
Extraterrestre” (e viria a aparecer um ano depois em “A Morte Pede Carona”);
além dele comparecem também Casey Siemaszko (astro do ótimo “Te Pego Lá Fora”)
e, numa participação rápida, mas até que bem importante para os rumos da trama,
um ainda bem jovem Corey Haim (que estrelaria, mais tarde, “Sem Licença Para
Dirigir”, e viria a falecer em 2010), no papel do irmão menor do personagem
principal.
A trama de “Admiradora Secreta” se desenvolve
sem firulas (como tinha que ser) e demonstrando um notável senso de compreensão
dos gatilhos que impulsionam uma narrativa: O adolescente Michael (Howell)
recebe uma carta anônima do que tudo indica ser uma garota apaixonada por ele.
Tal garota é a sensata e carinhosa Toni (a
angelical Lori Loughlin), mas tanto Michael como seus amigos otários insistem
em acreditar que pode ser a garota mais linda da escola, Debbie (Kelly Preston,
habitante das fantasias masculinas de toda uma geração desde sua participação
em “A Primeira Transa de Jonathan”).
A questão então não passa a ser assim o mistério
em torno da identidade da admiradora secreta; parte porque isso não tarda a ser
revelado ao expectador mais atento, parte porque Michael e os outros
personagens sequer se detêm nessa dúvida –o objetivo acaba sendo Michael
tentando conquistar Debbie. Para tanto, Michael escreve, ele próprio, uma carta
–e, como ele usa Toni como intermediária, ela trata de ‘reescrevê-la’ a fim de
melhorá-la. E o resultado é que –a exemplo de Roxana em “Cyrano de Bergerac” –Debbie
cai de amores pela expressividade romântica dedicada a ela.
As cartas, no entanto, se extraviam, indo parar
nas mãos dos casais adultos dos pais, e um quiproquó tem início: George (Cliff
De Young), pai de Michael, encontra tal carta e deduz que ela lhe foi entregue
por Elizabeth (a bonita Leight Taylor-Young), mãe de Debbie, por sua vez,
despertando as desconfianças do paranóico Lou (Fred Ward, outro ator
emblemático da década de 1980), pai de Debbie, que traz para dentro do rebuliço
a mãe de Michael e esposa de George, Connie (Dee Wallace Stone, que também
estava no elenco de “E.T.”).
Na graça autêntica de sua comédia e no apelo
verdadeiramente cativante de seu romance, “Admiradora Secreta” só não se
encaixa com perfeição à pecha de obra-prima porque sua própria despretensão não
o permite –na hábil condução moral que oferece de seu triângulo amoroso
(Michael se dá conta que, a despeito da beleza acachapante de Debbie, é Toni
quem realmente vale a pena namorar) o roteiro se esquiva até mesmo de possíveis
acusações de machismo tão comum a obras dos anos 1980: O sortudo protagonista
de fato se vê dividido entre duas lindas garotas, mas existem inúmeros exemplos
de outros filmes que incluem até mesmo uma garota com dois rapazes apaixonados
para escolher; como é o caso das sagas juvenis “Jogos Vorazes” e “Crepúsculo”.
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