Mesmo em obras magistrais como esta é difícil
deixar de notar nos filmes estrelados por Brabra Streisand uma convulsiva
massagem em seu ego de estrela: Essa característica aparece ressaltada em
monólogos deliberados, e em closes descabidos em suas unhas bem feitas, em seu
cabelo e sua maquiagem. Em contraponto, há intensidade em sua presença, seja na
atuação, seja na performance que ela dedica à música-tema “The Way We Where”
(ganhadora, aliás, do Oscar). Barbra é Katie Morosky, judia nova-iorquina e
idealista. Ela trabalha no Departamento de Guerra em plenos anos 1940,
enfatizando o patriotismo em tramas de radionovelas, e em mais um sem fim de
sub-empregos. Um excesso de ocupações que preenche sua ansiedade e sua
irreprimível necessidade de fazer a diferença.
Numa saída de happy hour, onde confraternizam
com eventuais combatentes da Segunda Guerra Mundial, ela reencontra Hubbell
Gardiner (Robert Redford, também tendo lá a sua parcela de massagem no ego).
Ela e Hubbell se conheceram uma década antes
–fato que o flashback logo trata de ilustrar –quando eram apenas estudantes
universitários. Ela, a idealista de sempre, politizada, cheia de iniciativas
pacifistas e ideais socialistas. Ele, despreocupado, oferecia uma imagem do
loiro norte-americano confortável e bem apessoado (imagem que, de fato, tem
tudo a ver com Robert Redford).
Diante do fato evidente de que eram pessoas de
mundos diferentes, os dois ainda assim estabeleceram uma curiosa relação de
afeto; que foi retomada naquele reecontro anos depois.
Quando a guerra se encerra, Hubbell,
aconselhado por Katie, busca seguir sua carreira como romancista, o quê o leva,
mais tarde, quando já estão casados, à Hollywood.
Mas, é chegada a década de 1950 e com ela a
assim chamada Caça às Bruxas, quando um Comitê de Assuntos Anti-Americanos no
congresso passa a perseguir pessoas entre os artistas de Hollywood com possível
envolvimento comunista.
As personalidades de Hubbell (afável e pouco
interessado em política) e Katie (uma ativista desde sempre) inevitavelmente se
defrontam.
Os efeitos do machartismo começavam a
cicatrizar em Hollywood em meados dos anos 1970, quando este belo filme foi
realizado, o quê em parte explica a abordagem amena com o qual a questão é
executada: Na direção sempre sólida de Sidney Pollack, esta é, antes de mais
nada, uma história de amor e de como as mudanças radicais experimentadas pelo
mundo nesse trecho específico do século XX transfiguraram esse amor, e menos
uma obra de denúncia ou panfletagem.
Apesar da rasa ideologia, pode ter sido essa
opção que fez –e ainda faz –este filme ser tão incrivelmente atemporal,
universal e tocante.
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