sexta-feira, 15 de junho de 2018

O Perfume da Senhora de Preto


Herdeiro direto do espetacular thriller psicológico de Roman Polanski, “Repulsa Ao Sexo”, o filme do diretor Francesco Barilli justapõe memórias traumáticas com a dúvida persistente na narrativa onde não se distingue alucinação de realidade.
Silvia (Mimsy Farmer) é o epicentro de tal questão. Funcionária de uma fábrica química, ela mora sozinha, tem amigos que se consideram da elite, e um namorado ocasional.
Tem também lá a sua quota de anormalidade: Em seu íntimo, Silvia é perseguida pelas lembranças da difícil relação com a mãe, esboçada de forma superficial no filme ainda que, aos poucos, mais informações vão surgindo.
Vemos que ela flagrou a mãe num ato de adultério quando criança –e essa perturbação leva seu ‘eu criança’ a aparecer constantemente para assombrá-la (!) –e, mais tarde, a própria Silvia, num ato impensado deu cabo da mãe, empurrando-a de uma sacada.
Podem ou não os elementos dessas lembranças estarem interferindo em sua realidade para atormentá-la –na narrativa que Barilli desenvolve, sugerindo a fragmentação da realidade através de sistemáticos enquadramentos com espelhos e reflexos, tudo é vago e hipotético, e o diretor volta e meia se vale do benefício da dúvida para contornar idéias implausíveis.
A grande diferença entre este filme e a obra de Polanski está no fato de que, em “Repulsa Ao Sexo”, o isolamento e a insanidade da protagonista vão ficando bem claros ao expectador, enquanto que em “O Perfume da Senhora de Preto” (o título, espalhafatoso como muitos suspense italianos, se refere à uma cena específica, e nada importante à trama, onde Silvia tem uma visão alucinatória), o diretor não deseja abrir mão de absolutamente até o final –a paranóia de Silvia, por mais que tivesse origens no campo da insanidade, tinha razão de ser, já que na sequência final vemos todos os personagens reuindos em torno dela, comungando uma conspiração.

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