Herdeiro direto do espetacular thriller
psicológico de Roman Polanski, “Repulsa Ao Sexo”, o filme do diretor Francesco
Barilli justapõe memórias traumáticas com a dúvida persistente na narrativa
onde não se distingue alucinação de realidade.
Silvia (Mimsy Farmer) é o epicentro de tal
questão. Funcionária de uma fábrica química, ela mora sozinha, tem amigos que
se consideram da elite, e um namorado ocasional.
Tem também lá a sua quota de anormalidade: Em
seu íntimo, Silvia é perseguida pelas lembranças da difícil relação com a mãe,
esboçada de forma superficial no filme ainda que, aos poucos, mais informações
vão surgindo.
Vemos que ela flagrou a mãe num ato de
adultério quando criança –e essa perturbação leva seu ‘eu criança’ a aparecer
constantemente para assombrá-la (!) –e, mais tarde, a própria Silvia, num ato
impensado deu cabo da mãe, empurrando-a de uma sacada.
Podem ou não os elementos dessas lembranças
estarem interferindo em sua realidade para atormentá-la –na narrativa que
Barilli desenvolve, sugerindo a fragmentação da realidade através de
sistemáticos enquadramentos com espelhos e reflexos, tudo é vago e hipotético,
e o diretor volta e meia se vale do benefício da dúvida para contornar idéias
implausíveis.
A grande diferença entre este filme e a obra de
Polanski está no fato de que, em “Repulsa Ao Sexo”, o isolamento e a insanidade
da protagonista vão ficando bem claros ao expectador, enquanto que em “O
Perfume da Senhora de Preto” (o título, espalhafatoso como muitos suspense
italianos, se refere à uma cena específica, e nada importante à trama, onde
Silvia tem uma visão alucinatória), o diretor não deseja abrir mão de
absolutamente até o final –a paranóia de Silvia, por mais que tivesse origens
no campo da insanidade, tinha razão de ser, já que na sequência final vemos
todos os personagens reuindos em torno dela, comungando uma conspiração.
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