Esta adaptação do romance de Joseph Roth pelo
mesmo diretor do árido e realista “A Árvore dos Tamancos”, o italiano Ermano
Olmi, conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 1988, superando
“Paisagem Na Névoa”, de Theo Angelopoulos, um dos fortes candidatos.
Indo de encontro ao gosto dos membros do júri
daquele festival –tão voltado para produções de arte assinadas por realizadores
profundamente autorais –o filme extrai sua beleza de um intimismo contundente,
não raro silencioso, onde predomina a parcimônia e a sutileza com a qual é
flagrado até mesmo o sobrenatural.
Perambulando por Paris após sua fuga da
Silésia, onde perpetrou um crime –ainda que movido pela intensidade dos
sentimentos –um vagabundo (Rutger Hauer, num papel dissonante dos jovens
baderneiros nos filmes de Paul Verhoeven) recebe milagrosamente a soma de
duzentos francos das mãos de um completo desconhecido (!). Essa quantia,
contudo, deverá ser devolvida na missa do domingo seguinte, perante a imagem de
Santa Teresa!
Um teste de fibra moral, portanto, que o acaso
(a despeito das relutantes tentativas do protagonista em fazê-lo se cumprir)
irá encontrar diversos meios com os quais interferir.
Um conto rústico e algo sensível sobre a
fatalidade que persegue os despossuídos refletindo perfeitamente a
personalidade de seu realizador: Olmi não se interessa por lampejos ambiciosos
de um cinema grandiloqüente e pirotécnico, preferindo a simplicidade e a
insignificância dos camponeses e cidadãos comuns. Esse juízo está traduzido num
filme humilde e deliberadamente simples, de certa maneira disperso em sua
estranha narrativa, perfeitamente capaz de entrar em conflito com a paciência
de alguns expectadores.
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