segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A Vida Secreta de Walter Mitty


Curioso notar que, como diretor, Ben Stiller soube enfatizar suas capacidades interpretativas muito melhor do que outros realizadores com os quais trabalhou. Claro que os Irmãos Farrelly, em filmes como “Quem Vai Ficar Com Mary?” souberam tirar imenso proveito de seu timing cômico, mas tanto em “Trovão Tropical” como neste “A Vida Secreta de Walter Mitty”, Stiller não somente faz ótimo uso de seus dotes de comédia como também de sua versatilidade como ator dramático –e nesse sentido, seu trabalho é muito mais eficiente do que Noah Baumbach, por exemplo, conseguiu obter dele em “Enquanto Somos Jovens”.
“Walter Mitty”, de fato, se equilibra numa linha tênue e agridoce entre comédia e drama. Seu personagem-título, vivido pelo próprio Stiller, é um sonhador compulsivo. Resignado a um escuro e pouco valorizado escritório de negativos da revista “Life”, Walter Mitty contorna a mediocridade de sua vida com lapsos ocasionais onde se imagina mudando sua realidade e fazendo coisas extraordinárias, o que inclui atrever-se a abordar a nova funcionária da empresa, a interessantíssima Cheryl (Kristen Wiig, mais contida que o normal e, talvez por isso, encantadora).
Na realidade, porém, Walter sequer reúne coragem para falar com ela, ou para confrontar o detestável diretor de transição (Adam Scott) que enviaram para realizar uma reestruturação interna na revista.
A “Life” terá, segundo ele, sua última edição impressa. E a foto escolhida para a capa é de um negativo específico, o nº 25, enviado ao escritório de Walter pelo prestigiado fotógrafo Sean O’ Connel (Sean Penn, escolhido por Stiller especialmente para o papel). Mas, o envelope recebido não possui exatamente o nº 25 (salta do 24 para o 26!), e Walter deve encontrá-lo se deseja manter seu emprego nesse período de transição.
Ele decide então deixar de lado os sonhos e imaginações e partir pelo mundo à procura de O’ Connel –um desses aventureiros à moda antiga cujo paradeiro é sempre um pouco difícil de definir –o quê o leva à Groenlândia, à Islândia e depois ao Himalaia; e, principalmente, o leva também a uma viagem interior de descoberta onde reencontra sua própria coragem, auto-estima e iniciativa.
Integrante daquele sempre apreciado sub-gênero dos filmes ‘feel good’, “Walter Mitty” é construído tanto para passar uma positiva e edificante mensagem ao expectador (que no caso seria a de parar de perder tempo com sonhos e planos e por em prática seus objetivos, correndo atrás deles) como também deixá-lo extasiado: E nesse sentido, Stiller caprichou na concepção visual de seu filme, seja nos exuberantes cenários naturais que registra, seja nas sequências inesperadas de ‘sonhos’ com uso inventivo de efeitos visuais: Elas vão desde o fantasiosamente escancarado (Walter e o diretor de transição saem no braço no melhor estilo ‘anime japonês’!) e o romanticamente implausível (Walter se imagina como um bizarro e sedutor alpinista latino!) até o assumidamente engraçado (a referência hilária à “O Curioso Caso de Benjamin Button”).
Como em “Trovão Tropical”, esse excesso de zelo estético pode até depor contra os argumentos acerca do real talento de Stiller como diretor, mas não há como negar que ele fez um filme encantador e fascinante.

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