No princípio dos anos 1990 –e, por isso mesmo,
afetado por uma série de definições estéticas datadas relativas aos anos 1980 –o
famigerado diretor Tinto Brass lançou este pseudo-drama erótico nos moldes
daqueles filmes que ele nunca deixou de fazer.
A despeito da fama que seu “Calígula” adquiriu,
talvez tenha sido desse período as obras dele que mais conhecimento obtiveram
aqui no Brasil, possivelmente por causa da ascenção do mercado de homevideo,
onde assistir obras eróticas e desavergonhadas no conforto do lar era um hábito
que se podia manter sem constrangimento.
É curioso como raramente há nudez completa nas
filmes de Tinto Brass. Adepto de um erotismo carregado de fetiche e de pretensa
classe –e muito latente aos realizadores europeus –as cenas eróticas envolvem
muitas vezes mulheres usando cinta-liga, acessórios ocasionais e lingeries
reveladoras; salvo uma cena de banho coletivo, Tinto Brass não trabalha com
nudez total, o quê é curioso.
Sua protagonista –que compartilha muitas
características em comum com todas as personagens principais de Tinto Brass –é Diana
(Claudia Koll), belíssima mulher casada com um homem que, de início, aparenta
ser o típico corno manso.
Mas, Paolo (Paolo Lanza) não tolera a idéia de
infidelidade. Contudo, em sua auto-confiança (ou seria tolice mesmo?), essa
intolerância se traduz em incredulidade: Diana até relata suas inúmeras
escapadas extra-conjugais durante as transas (que, acredite, são muitas!) a fim
de apimentar a relação, mas Paolo crê que são inventadas.
Quando ele acaba se convencendo da verdade –de que
as traições de Diana não são inventadas, mas sim muito reais –ele tem uma
crise. Revela-se incapaz de aceitar o lado insaciável da mulher que sempre
esteve lá, sem que ele percebesse.
Dessa crise, seguida de inevitável separação,
não vem a ser drama que o diretor Tinto Brass necessariamente extrai: É apenas
mais um pretexto para mais e mais sequências eróticas onde ele enfatiza a
promiscuidade de sua heroína.
As obras de Tinto Brass parecem habitar um
universo moral à parte. Tão habituado ele está ao sexo e aos comportamentos
lascivos que propiciam o encontro carnal que sua percepção de sociedade, nos
filmes que realiza, se mostra impregnada por essa libertinagem. Festas,
jantares, baladas. Todas as ocasiões mostradas no filme, sejam elas de ordem
íntima ou social se mostram propensas ao erotismo –não raro com figurantes
surgindo sem roupas automaticamente.
Habitante desse mundo particular onde o sexo se
mostra tão possível quanto inevitável, não é de se admirar que Diana seja tão
libertina –é o comportamento de Paolo e seus rompantes de moralismo repressor
que não fazem o menor sentido. E, com efeito, em algum momento da previsível
trama que segue, é ele quem terá de se dobrar a essa realidade.
Com uma encenação melindrosa e brega, onde o
bom e o mau gosto parecem co-existir de forma desafiadora, o diretor não se
mostra nem um pouco interessado em tirar qualquer reflexão dessa premissa –e se
está, ele falha completamente em demonstrar –o que ele faz, com insistência
compulsória, é contemplar os belos corpos, flagrar o ascender do êxtase nas
posturas de seus personagens (mais até do que flagrar o sexo em si) e dissertar
de modo folhetinesco e superficial sobre as razões dos comportamentos sociais e
sexuais.
Na qualidade irregular com a qual trabalha o
material, Tinto Brass escapa, por pouco, de realizar um pornô bem vagabundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário