sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Spartacus


É necessário um gênio para adentrar um estilo de filmes já específico e nele deixar uma marca indelével. Tais mais assombroso é quando esse gênio ainda se encarrega de um projeto já em andamento, herdando uma obra iniciada por outro diretor. Foram nessas circunstâncias que Stanley Kubrick chegou ao épico “Spartacus”.
Dono de fato e de direito do filme, o produtor e astro Kirk Douglas (que usa e abusa de seu fulgor físico e carismático no papel-título) ficou impressionado com o jovem diretor (com quem trabalhou em “O Grande Golpe” e “Glória Feita de Sangue”) e terminou requisitando-o quando o diretor original (Anthony Mann, de “El Cid”) abandonou o projeto.
A personalidade destemida e impecável de Douglas certamente se reflete na história de Spartacus, o escravo, trabalhador nas minas, levado pelo treinador de gladiadores Batiatus (Peter Ustinov, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) a lutar nas arenas para divertimento de nobres hedonistas como Marcus Crassus (Laurence Olivier).
Todavia, uma mudança se opera em Spartacus. Indignado com o tratamento inumano dado a si e aos seus pares. Atormentado pela paixão que nutre pela escrava de companhia Karina (Jean Simmons). E insuflado por um desejo cada vez maior de se ver livre e retribuir os maus-tratos sofridos, Spartacus lidera uma súbita rebelião de escravos cuja repercussão não só vai galgando o clamor popular entre os camponeses (ganhando numerosos adeptos, entre eles, o criado de Crassus, Antoninus, vivido por Tony Curtis) como também chega aos altos escalões de Roma, convertendo-se numa sucessão de batalhas campais entre os rebeldes e o exército romano.
“Spartacus” irmana-se assim aos grandes épicos do cinema por seu perfeccionismo técnico, pelas cenas esplêndidas e grandiosas de batalha, mas também diferenciando-se deles por uma série de peculiares elementos, como o roteiro assinado por Dalton Trumbo que despe-se de referências bíblicas e religiosas para abraçar um cunho político, social e comportamental (tão caro ao seu autor) que o torna único.
A despeito do resultado superlativo que “Spartacus” obteve em todos os seus aspectos técnicos e artísticos, Kubrick não ficou satisfeito em ser um mero diretor contratado e não ter, portanto, a palavra final sobre o material: “Spartacus” marca sua migração definitiva para os projetos independentes e profundamente pessoais dos quais ele se ocupou até o fim da vida.

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