quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Os Donos da Rua


As vertentes pelas quais o cinema permitiu que os negros pudessem se expressar foram, em princípio, a blaxploitation, nos anos 1970 e, nos anos 1980, as realizações cheias de ironia e observações comportamentais às quais Spike Lee é, com mais frequência, relacionado.
Uma nova vertente se originou em 1991, quando o jovem John Singleton lançou “Os Donos da Rua”, que lhe valeu indicações ao Oscar de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original (fazendo dele, aos 24 anos, o mais jovem cineasta indicado ao prêmio, com um ano de idade a menos que Orson Welles na época de “Cidadão Kane”), e mostrou por fim a história até então não contada dos jovens moradores dos violentos guetos norte-americanos.
A trama inicia-se em 1984, com o pequeno Tre, cuja mãe (vivida por Angela Basset) conclui que deve deixá-lo aos cuidados do pai Furious Styles (Laurence Fishburne, num personagem e numa dinâmica que parecem ter inspirado o trabalho de Mahershala Ali em “Moonlight-Sob A Luz do Luar”).
Tre não tem outra alternativa senão adaptar-se ao bairro onde o pai mora e assim, sete anos depois (e sendo então interpretado por Cuba Goding Jr.), ele é um jovem disposto a perseguir um futuro na universidade.
A narrativa de Singleton se ramifica assim a partir dos outros amigos de Tre, os irmãos Doughboy (o rapper Ice Cube) e Rick (Morris Chestnut), de índoles bastante opostas; ex-presidiário, Doughboy é violento e irascível, fruto do meio a que pertence, já o bom garoto Rick, pai de uma criança, almeja uma bolsa escolar valendo-se de sua aptidão esportiva.
Bastante consciente de suas próprias predisposições melodramáticas, o filme de Singleton irá mostrar, por caminhos tortuosos, que as escolhas desses personagens podem sofrer uma imprevista abreviatura acarretada pelas injustiças de seu mundo.

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