As vertentes pelas quais o cinema permitiu que
os negros pudessem se expressar foram, em princípio, a blaxploitation, nos anos
1970 e, nos anos 1980, as realizações cheias de ironia e observações
comportamentais às quais Spike Lee é, com mais frequência, relacionado.
Uma nova vertente se originou em 1991, quando o
jovem John Singleton lançou “Os Donos da Rua”, que lhe valeu indicações ao
Oscar de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original (fazendo dele, aos 24 anos, o
mais jovem cineasta indicado ao prêmio, com um ano de idade a menos que Orson
Welles na época de “Cidadão Kane”), e mostrou por fim a história até então não
contada dos jovens moradores dos violentos guetos norte-americanos.
A trama inicia-se em 1984, com o pequeno Tre,
cuja mãe (vivida por Angela Basset) conclui que deve deixá-lo aos cuidados do
pai Furious Styles (Laurence Fishburne, num personagem e numa dinâmica que
parecem ter inspirado o trabalho de Mahershala Ali em “Moonlight-Sob A Luz do
Luar”).
Tre não tem outra alternativa senão adaptar-se
ao bairro onde o pai mora e assim, sete anos depois (e sendo então interpretado
por Cuba Goding Jr.), ele é um jovem disposto a perseguir um futuro na
universidade.
A narrativa de Singleton se ramifica assim a
partir dos outros amigos de Tre, os irmãos Doughboy (o rapper Ice Cube) e Rick
(Morris Chestnut), de índoles bastante opostas; ex-presidiário, Doughboy é
violento e irascível, fruto do meio a que pertence, já o bom garoto Rick, pai
de uma criança, almeja uma bolsa escolar valendo-se de sua aptidão esportiva.
Bastante consciente de suas próprias
predisposições melodramáticas, o filme de Singleton irá mostrar, por caminhos
tortuosos, que as escolhas desses personagens podem sofrer uma imprevista
abreviatura acarretada pelas injustiças de seu mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário