quinta-feira, 22 de novembro de 2018

300 - A Ascensão do Império


Quando observamos o fato constatado de que “300”, de Zack Snyder, era uma história absolutamente redonda, com começo, meio e fim, não é tão improvável assim um filme tão bom como aquele render uma continuação tão sofrível e lamentável como esta.
Valendo-se de todos os expedientes possíveis para expandir e estender o conceito daquele filme, o trabalho dirigido por Noam Murro (um operário-padrão escolhido por Zack Snyder, cujo único objetivo nítido é a imitação de seu estilo) se passa antes, durante e depois da trama daquele filme –ele é, portanto, um ‘prequel’, um ‘sequel’ e um derivado.
E mesmo somadas, nenhuma dessas escolhas são capazes de fazê-lo remotamente relevante como “300”.
Partindo do princípio de uma anunciada, porém nunca concluída, graphic-novel de Frank Miller (a ideia de continuar “300”, portanto, começou nos quadrinhos), este novo filme volta-se para o passado para revelar as origens de Xerxes (Rodrigo Santoro, uma das várias tentativas de recuperar presenças do primeiro filme). Após esse primeiro trecho, onde são sondados os propósitos e motivações do vilão, temos a sensação de que tudo não passou de enchimento de linguiça, visto que ele é deixado completamente de lado –o foco principal deste filme, e narradora também do filme, acaba sendo Artemísia, a personagem da francesa Eva Green, e que seria uma antagonista até interessante não tivesse ela o infortúnio de protagonizar esta catástrofe de filme que tenta inseri-la no contexto dos acontecimentos do filme original de maneira despropositada.
Ela foi, na verdade, treinada pelo mensageiro morto numa cena memorável por Leônidas logo no começo do outro filme –e embora o momento seja magnífico, e o personagem do mensageiro, marcante, não havia muitas razões para que ele ganhasse importância maior –dessa forma, tendo seu tutor assassinado por Leônidas, ela inicia uma tortuosa cruzada de vingança contra os espartanos.
De novo, a trama esbarra na inaptidão de seus realizadores. Se a intenção de Artemísia seria a de vingar-se de Leônidas e seus homens, o que raios ela foi fazer em alto-mar, lutando contra alguns gregos adeptos da ideia de Leônidas.
E, por falar neles...
Seu líder, Temístocles (Sullivan Stapleton), o verdadeiro herói do filme, é um dos personagens mais ineptos, incoerentes e sem carisma a aparecer nas telas de cinemas –nada nele se justifica, nem a escolha de seu ator (péssimo) nem mesmo as motivações que ganha, todas elas sendo sistematicamente contrariadas pelo próprio Temístocles ao longo do filme numa sucessão de cenas tão equivocadas que ao invés de estruturar a narrativa elas a sabotam.
Não se salva nem mesmo o capricho técnico das cenas de ação –garantido com um orçamento generoso que esse tipo de produção de estúdio sempre tem –que repetem o estilo do filme anterior: Ao contrário do filme de Snyder, cujo equilíbrio narrativo era garantido por ser adaptação de uma graphic-novel impecavelmente construída, todas as espalhafatosas cenas de batalhas que se seguem (algumas, na ânsia de tentar superar o primeiro filme flertam abertamente com uma inverossimilhança ginasiana) são antecedidas por um discurso motivacional qualquer declamado por um personagem qualquer (e são todas mesmo!), o quê subtrai das sequências de ação –o único quesito que neste filme poderia prestar –toda a graça.
O ideal é esquecer que um dia pensaram em dar continuidade ao ótimo “300” e ficar só com aquele filme mesmo; este “A Ascensão de Império” revela-se tão lastimável que perde em comparação até mesmo com a desavergonhado paródia “Espartalhões”.
Às vezes, é até preciso um certo talento para fazer algo tão ruim.

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