Outrora especialista em crônicas da vida real
sobre personagens absolutamente comuns, o diretor e roteirista Alexander Payne
mergulha aqui na sua primeira premissa dotada de um viés de ficção científica.
Aproveitando –como todo bom autor que andou pelo gênero –para fazer sua
dissertação particular sobre a periclitante situação do meio ambiente e o
imponderável destino da raça humana sob esse prisma, sem nunca abandonar, no
entanto, o ponto de vista do homem comum.
Tal homem comum é Matt Damon que interpreta o
terapeuta ocupacional Paul Safrânek. Desde sempre com a conta bancária no
vermelho, Paul junto da esposa (Kristen Wiig) testemunham, no início como todo
o mundo, por noticiários na TV, a criação de um método revolucionário para
resolver o problema de superpopulação mundial: A miniaturização.
Pessoas são levadas em centros específicos e,
por meio de um processo avançadíssimo (esmiuçado pelo roteiro com raro
preciosismo), reduzidos a um tamanho de não mais que doze centímetros.
Essas pessoas passam a viver em comunidades
montadas especificamente para sua proporção reduzida. O pulo do gato: Sendo
muito menores, eles consomem menos comida, ocupam menos espaço e demandam uma
quantidade muito menor de recursos –mesmo aqueles que representam uma vida de
regalia –e, por consequência, gastam menos dinheiro.
Para Paul, a renda financeira de que dispõe
relega ele e a mulher à uma vida suburbana, mas, uma vez reduzidos, esse valor
lhes permite uma vida de luxo –um dado que, somado ao fato de um amigo (vivido
por Jason Sudeikis) fazer uma exaltada propaganda positiva da miniaturização, o
convence a tentar o procedimento.
Entretanto, como vem a ser tão sintomático
quanto notável no cinema de Payne, as certezas só se expressam na teoria –na
prática, elas esbarram na volatilidade humana: Quando Paul já passou pelo
processo de miniaturização, eis que sua esposa lhe anuncia, num telefonema, ter
se arrependido.
Assim, a dita nova vida, que Paul almejava com
entusiasmo já começa com dolorosos transtornos imprevistos. Solteiro, ele acaba
–num reflexo de crise de meia idade –no meio de uma festa promovida pelo
vizinho e novo amigo, Dusan (Christoph Waltz), na qual ele acaba conhecendo a
diarista Ngoc Lan (a notável Hong Chau), uma ex-ativista e imigrante
vietnamita, outrora famosa por uma situação inusitada: No Vietnam, as autoridades
passaram a usar a miniaturização para conter o excesso carcerário, reduzindo os
prisioneiros, como Ngoc Lan, sem o seu consentimento.
Por isso, Paul descobre, ela entra num nicho
desconhecido, que não estava previsto nas ostensivas propagandas: As pessoas
pobres que terminam passando pela miniaturazação por inúmeras razões
improváveis, e integram o grupo cada vez maior de pobres de classe baixa que
passam a trabalhar para os hedonistas miniaturizados das classes superiores.
Ao conceber essa estranha utopia que logo ganha
ares de distopia, Alexander Payne parece incapaz (e indiferente) de conter seu
ímpeto natural de falar sobre impressões e sentimentos quase sempre muito
íntimos e pouco evidentes –muito mais em foco do que o rumo que essa inusitada
sociedade em miniatura toma (embora isso também faça parte dos desdobramentos
da premissa) está a curiosa relação que se estabelece entre Paul e Ngoc Lan.
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