Existe uma curiosa relação entre esta saborosa
produção dos anos 1980, realizada por Emile Ardolino (diretor de “Dirty
Dancing-Ritmo Quente” e “Mudança de Hábito”) e um filme bem mais contemporâneo dirigido
por Jonathan Glazer (de “Sob A Pele”), com Nicole Kidman, “Reencarnação”.
O ponto de partida da premissa básica de ambos
é o mesmo, guardadas as devidas proporções (enquanto este é uma comédia
romântica, o filme de Glazer é, até certo ponto, um suspense dramático levado
relativamente a sério): Na trama, uma bela e apaixonada mulher perde seu marido
que retorna anos depois reencarnado em alguém mais jovem.
Tudo a mais nos dois filmes acaba sendo
diferente –o que pode fazer com que muitos expectadores refutem a comparação,
mas outra coisa também os iguala: O desfecho no qual os realizadores abrem mão
completamente de fazer um desenlace mais corajoso.
E aqui, esse pequeno lapso é até minimizado
porque os realizadores foram hábeis.
Corinne (Cybill Shepperd, abusando de ser
linda!) é casada com Louie (Christopher McDonald, de “Thelma & Louise”). Os
dois têm em Phillip (Ryan O’ Neal) seu melhor amigo –tanto que ele é sincero,
já na primeira cena, em reconhecer para Louie que é apaixonado por Corinne; e
isso durante a cerimônia de casamento deles!
Naquele ano de 1963, todos são felizes até que
um acidente tira a vida de Louie que vai parar no céu. Lá, seus protestos o
fazem parar numa fila para pessoas dispostas a voltar imediatamente à terra,
reencarnados em bebês prestes a nascer. Na pressa de reencontrar Corinne, Louie
não recebe uma espécie de injeção que drena dele todas as memórias da vida anterior
e assim, quando ele nasce no corpo de Alex Finch (Robert Downey Jr., ainda
jovem e extraordinariamente promissor), sua vida corre normal até os vinte e
três anos, quando conhece a jovem Miranda (Mary Stuart Masterson), e descobre
ser ela a filha de Louie, o que lhe traz de volta todas as memórias da vida
pregressa, inclusive a lembrança de seu amor avassalador por Corinne.
A junção desse conceito metafísico com os
expedientes de comédia romântica nem sempre se mostra perfeita: Em relação à
Alex (que, na verdade é Louie), Corinne por exemplo vai de implicante à
apaixonada sem trilhar o caminho da sutileza.
Ao nomear como cerne para seu enredo um tema
complicado como a reencarnação, o filme de Emile Ardolino se arrisca numa
direção à qual não consegue se posicionar. Exatamente como o “Reencarnação” de
Jonathan Glazer: Aqui Alex e Corinne não terminam juntos, mas pelo menos os
realizadores foram inteligentes ao dar ênfase do início ao fim da narrativa ao
personagem de Ryan O’ Neal que, negligenciado durante boa parte do filme, acaba
sendo pontual para a escolha mais conciliatória e menos audaz (certamente
insatisfatória para alguns expectadores) feita pelo roteiro no final.
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