terça-feira, 20 de novembro de 2018

Tempestade de Paixões


Bons diretores possuem uma técnica tão notável e envolvente que são capazes de tornar atrativo até mesmo um enredo pontuado por eventos banais. É o que o inglês Mike Figgis faz aqui ao registrar alguns personagens de caráter quase marginal em suas linhas particulares de causa e efeito sendo entrecruzadas por ocorrências, na maior parte das vezes, corriqueiras, e ainda assim impondo à condução disso tudo um charme noir.
“Tempestade de Paixões” –que no Brasil também recebeu o título de “Dia Fatal” –conta com a inebriante presença de Melanie Griffith, então em estado de graça (naquele mesmo ano, 1988, ela estrelou o melhor trabalho de sua carreira, “Uma Secretária de Futuro”), vivendo com encanto, sensualidade e primor a jovem norte-americana Kate obrigada a se revezar entre o trabalho árduo de garçonete e o de eventual acompanhante para políticos sob orientação do influente Cosmo (Tommy Lee Jones) que almeja tornar-se a figura mais poderosa em uma cidadezinha portuária da Inglaterra –um ciclo vicioso da qual ela não consegue sair.
Também há Sean Bean, ainda bem jovem, como Brendan, um rapaz irlandês que obtêm trabalho com Sr. Finney (o cantor Sting), o dono de um clube prestigiado daquelas redondezas, para quem passa a fazer serviços diversos como servir de motorista para músicos eventualmente contratados –até um lance inesperado torna-lo cada vez mais importante e leal aos olhos do patrão.
Em algum momento, Kate e Brendan terão seus caminhos cruzados (primeiro numa constrangedora trombada em um shopping, depois, no restaurante em que ela trabalha), no que o amor encontrará seus atalhos para se expressar em meio ao pessimismo e à desilusão.
Também terão caminhos cruzados o Sr. Cosmo e o Sr. Finney, os quais a narrativa irá mostrar como similares em termos de obsessão por controle, e opostos no que pretendem no final das contas: O primeiro, um americano empreendedor cuja aparência afável e o discurso liberal escondem uma avidez de poder e uma disposição inescrupulosa para atingi-lo; o segundo, um empresário no domínio de seu território, absolutamente avesso à novidades externas, e hostil feito fera acuada em relação à tudo que perturba a harmonia de seu lugarejo.
Aos poucos vamos percebendo que Cosmo é essa perturbação.
No entanto, o diretor (e também roteirista) Figgis não conduz esse antagonismo em direção a um embate explosivo –ele prefere adotar o ponto de vista de Kate e Brendan, o mais próximo de pessoas normais na trama, e observa detalhadamente o caminho tortuoso que ambos percorrem, em meio ao fogo cruzado de duas personalidades poderosas, para ficarem juntos.

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