Bons diretores possuem uma técnica tão notável
e envolvente que são capazes de tornar atrativo até mesmo um enredo pontuado
por eventos banais. É o que o inglês Mike Figgis faz aqui ao registrar alguns
personagens de caráter quase marginal em suas linhas particulares de causa e
efeito sendo entrecruzadas por ocorrências, na maior parte das vezes,
corriqueiras, e ainda assim impondo à condução disso tudo um charme noir.
“Tempestade de Paixões” –que no Brasil também
recebeu o título de “Dia Fatal” –conta com a inebriante presença de Melanie
Griffith, então em estado de graça (naquele mesmo ano, 1988, ela estrelou o
melhor trabalho de sua carreira, “Uma Secretária de Futuro”), vivendo com
encanto, sensualidade e primor a jovem norte-americana Kate obrigada a se
revezar entre o trabalho árduo de garçonete e o de eventual acompanhante para
políticos sob orientação do influente Cosmo (Tommy Lee Jones) que almeja
tornar-se a figura mais poderosa em uma cidadezinha portuária da Inglaterra –um
ciclo vicioso da qual ela não consegue sair.
Também há Sean Bean, ainda bem jovem, como
Brendan, um rapaz irlandês que obtêm trabalho com Sr. Finney (o cantor Sting),
o dono de um clube prestigiado daquelas redondezas, para quem passa a fazer
serviços diversos como servir de motorista para músicos eventualmente
contratados –até um lance inesperado torna-lo cada vez mais importante e leal
aos olhos do patrão.
Em algum momento, Kate e Brendan terão seus
caminhos cruzados (primeiro numa constrangedora trombada em um shopping,
depois, no restaurante em que ela trabalha), no que o amor encontrará seus
atalhos para se expressar em meio ao pessimismo e à desilusão.
Também terão caminhos cruzados o Sr. Cosmo e o
Sr. Finney, os quais a narrativa irá mostrar como similares em termos de
obsessão por controle, e opostos no que pretendem no final das contas: O
primeiro, um americano empreendedor cuja aparência afável e o discurso liberal
escondem uma avidez de poder e uma disposição inescrupulosa para atingi-lo; o
segundo, um empresário no domínio de seu território, absolutamente avesso à
novidades externas, e hostil feito fera acuada em relação à tudo que perturba a
harmonia de seu lugarejo.
Aos poucos vamos percebendo que Cosmo é essa
perturbação.
No entanto, o diretor (e também roteirista)
Figgis não conduz esse antagonismo em direção a um embate explosivo –ele
prefere adotar o ponto de vista de Kate e Brendan, o mais próximo de pessoas
normais na trama, e observa detalhadamente o caminho tortuoso que ambos
percorrem, em meio ao fogo cruzado de duas personalidades poderosas, para
ficarem juntos.
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