quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A Selva


Logo nos primeiros minutos podemos notar em “A Selva” uma realização incomum para os normalmente modestos padrões do cinema brasileiro.
Explica-se: Embora ambientado no Brasil –mais precisamente na Amazônia –e povoado por atores brasileiros, “A Selva” é uma produção portuguesa com técnicos e profissionais portugueses –e embora isso não seja de conhecimento popular por aqui, o cinema realizado em Portugal é uma indústria engajada, séria e sólida.
Pena que, no frigir dos ovos, “A Selva” não seja o exemplar mais vibrante dessa vertente.
1912. o comércio da borracha segue firme na selva amazônica tendo por efeito colateral a inclemente exploração da mão de obra dos seringueiros, que arriscam-se em acampamentos precários no coração das selvas sem a devida proteção contra os índios –a cena que abre o filme, uma sequência de suspense que precede um ataque indígena já deixa muito claro o potencial comercial e o conhecimento de narrativa dos artesãos portugueses.
É, portanto, um português que se acha no centro da trama: Alberto (vivido pelo galã Diogo Morgado) vem ao Brasil em condições inóspitas. Familiares obtém uma contratação para que ele tenha um sustento, mas de imediato fica bem claro o árduo preço que viver naqueles confins de mundo irá lhe cobrar –além, claro, do antagonismo injustificado e rancoroso do capataz Velasco (Karra Elejalde).
Conduzido até o centro quase inacessível do seringal, Alberto fica sob proteção do benevolente e humilde Firmino (o fabuloso Chico Diaz) ao lado do qual toma conhecimento da rotina ingrata e massacrante dos seringueiros.
Após uma dura adaptação, ele é chamado devido ao fato de ser inteligente e alfabetizado, ao armazém da propriedade de seu contratante, Juca Tristão (Claudio Marzo) e passa a conviver com o gerente (Gracindo Jr.) e sua esposa Dona Yayá (a inebriante Maitê Proença).
A presença de uma mulher de beleza tão notável num ambiente tão hostil e rarefeito desperta dos instintos do jovem, mesmo que ele se esforce para colocar suas intenções a frente de seus desejos.
Embora seja o elemento que mais se destaca na narrativa, gerando mais interesse que todas as outras dinâmicas apresentadas, o romance entre Alberto e Yayá não chega a ser o cerne da premissa e nem tampouco leva a qualquer conflito mais expressivo até chegar ao desfecho.
Aliado e um ritmo lento é essa indefinição que depõe contra o filme impedindo-o de se mostrar interessante de fato ao público.
Poderia ser uma obra sobre as pulsões incontroláveis do amor (como são tantos bons filmes a esse respeito); poderia ser uma bela produção sobre a vida espiritualmente calejada dos trabalhos do norte amazonense, mas na dispersão entre uma coisa e outra, o filme do diretor Leonel Vieira não é nada disso.
É bem executado, bem conduzido e bem interpretado, contudo, não tarda a se revelar raso e enfadonho –um exercício de estilo notável para nós brasileiros, mas a aula sobre conteúdo deve ter ficado reservada a algum outro filme...

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