quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Elvis & Anabelle - O Despertar de Um Amor


Talvez o dado mais notável de “Elvis & Anabelle” seja seu diretor de fotografia: O veterano, premiado e hoje já falecido Conrad Hall (que venceu o Oscar da categoria por “Beleza Americana”, entre outras ocasiões).
Realmente, mais do que seu roteiro abarrotado de situações forçosamente disfuncionais para um romance entre indivíduos incompatíveis; mais do que sua condução algo desanimada do diretor Will Geiger (que é também o roteirista), é a direção de fotografia, sempre construindo imagens sedutoras e encontrando os enquadramentos mais envolventes, que consegue extrair o máximo de potencial da narrativa.
Elvis Moreau (o jovem Max Minghella, filho do diretor Anthony Minghella, de “O Paciente Inglês”) é um jovem taciturno, anti-social e solitário. Mesmo as circunstâncias que o fazem ser assim não fogem muito do clichê: Ele mora e trabalha numa casa funerária, embalsamando com perícia obsessiva os cadáveres no lugar do pai já debilitado fisicamente (vivido de forma comovente por Joe Mantegna que havia tempos não dava as caras nas telas).
A outra ponta do inevitável par romântico da história é Anabelle Leigh (Blake Lively, na época em que ainda fazia o seriado “Gossip Girl”) cuja caracterização também tem lá sua própria dose de clichê: Anabelle é linda e, para tanto, frequenta concursos de beleza que a tornam popular na cidade e preenchem de orgulho sua mãe (Mary Steenburgen, muito bonita), outrora também uma miss.
Mas... ei! Anabelle se ressente dessa vida! Isso não a faz feliz.
Não que ela ou Elvis façam muito esforço para mudarem suas rotinas.
O que ameaça levar suas vidas a uma transformação é, na verdade, um acontecimento bastante arbitrário e até desonesto do roteiro: Na noite em que é coroada como vencedora do concurso Miss Texas, Anabelle cai morta (!).
Ou, pelo menos, é o que parece: Levada à funerária onde Elvis trabalha para que seja embalsamada, ela subitamente desperta –do que aparentemente foi um caso extremamente raro registrado pela ciência (em cujas explicações o filme tem pouquíssima intenção de se demorar).
O marasmo periga se abater sobre a narrativa novamente –um perigo que ronda o filme o tempo todo –até que sem razões muito claras, Anabelle resolve fugir de casa e ficar morando com Elvis e seu pai, tornando tudo, além de enfadonho, previsível.
“Elvis & Anabelle” é aquilo que parece: Um romance entre o jovem introspectivo e sisudo e a garota popular e inalcançável que as artimanhas da narrativa a farão ‘alcançável’, para então, lá pelas tantas, inventar um pretexto muito do mal explicado para eles tornarem a se afastar. Ainda que o roteiro e a direção façam malabarismos para não parecer que é bem isso –e mesmo nessa tentativa, ele falha!
Dessa forma, seu maior mérito –a direção de fotografia de Conrad Hall –acaba gerando um efeito colateral: Dono de imagens bem concebidas e com frequência encantadoras (ainda mais quando Blake Lively está em cena), o filme acaba atraindo o expectador por um suposto primor que no final das contas ele não tem.

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