“Os Olhos Sem Rosto”, de Georges Franju, já
havia influenciado “O Terrível Dr. Orloff”, que Jess Franco havia realizado
quatro anos antes, e ainda viria a influenciar, uns vinte e poucos anos depois,
o terror “Sem Face”. Ele tornou a servir de inspiração para Franco construir a
trama do quarto filme de terror de sua carreira, depois que ele percebeu que as
imposições da censura na Espanha de então não deixariam que fizesse os filmes
de expressão que tinha em mente –e que, por outro lado, poderia refugiar-se nas
fileiras subestimadas dos filmes B para realizar esses mesmos filmes desde que
com um ligeira viés popular.
Daí nasceu a trama de “Miss Muerte”.
Obedecendo uma série de expedientes que Franco
revisitaria ao longo da carreira –como em “Ela Matou Em Êxtase”, por exemplo –o
roteiro acompanha a vingativa Irma (Mabel Karr), filha do Doutor Zimmer
(Antonio Jiménez Escribano), que morreu de um infarto ao ser ridicularizado por
seus colegas médicos ao propor experiências que inibem a vontade mesmo dos
indivíduos mais hostis e os converte em autômatos –e isso é, inclusive,
mostrado na cena que abre o filme.
Tendo os alvos específicos para sua vingança
–os médicos Vicas (Howard Vernon), Moroni (Marcelo Arroita Jáuregui) e Kallman (Cris Huerta), que
ridicularizaram seu pai –Irma inicia seu plano forjando a própria morte e
depois, usando das experiências de seu pai para controlar a vontade de Nadia (a
sensual Estella Blain), uma dançarina que realiza um prestigiado número
conhecido como ‘Miss Muerte’.
Uma vez controlada, Nadia passa a servir como
instrumento de vingança de Irma, dando cabo um a um de seus desafetos, usando
seu poderoso e irresistível sex-appeal para atraí-los; uma manobra bastante
inventiva da parte de Franco para driblar a censura foi o inspirado traje que a
Miss Muerte usa –é um traje colado ao corpo que simula uma transparência e dá a
nítida impressão de que ela está ali nua, ao mesmo tempo em que deixa claro que
ela está também vestida.
Imaginativo, pontuado de referências muito
significativas e ilustrativo de seu estilo peculiar –pelo menos, antes dele
virar uma caricatura de si mesmo –“Miss Muerte” representa certamente um
divisor de águas na evolução criativa de Jess Franco: Aqui ele atingiu o
equilíbrio ideal entre as propostas mirabolantes oriundas da ficção científica,
o subtexto noir e um sem fim de influências do gênero terror, num produto que
revelou-se redondo e satisfatório, uma tentativa que ele passaria incontáveis
projetos futuros buscando repetir.
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