segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Zapped!


Chamado aqui no Brasil pelo desleixado título de “Uma Mistura Especial”, quando foi lançado nos anos 1980, este filme rapidamente se tornou um clássico obscuro da sessão da tarde.
Longe de pertencer a alguma variação do sub-gênero de super-heróis –embora sua premissa seja essencialmente sobre super-poderes –ele meio que se irmana a um grande cult movie do período, o insano “Vingador Tóxico”.
Se naquele filme vemos um jovem zelador ganhar força e aspecto sobre-humano para confrontar seus torturadores sociais da maneira mais literal possível, aqui vemos o estudante metido a cientista (e compulsivamente enfurnado no laboratório) Barn (Scott Baio, de “Bugsy Malone-Quando As Metralhadoras Cospem”) que uma série de incidentes sem noção leva a adquirir poderes de telecinesia.
Ao contrário do Melvin de “Vingador Tóxico”, porém, Barn não padece de maiores opressões –e nisso se reflete algum amadorismo de seus realizadores.
Ele não sobre bullying (os valentões, quando muito são indiferentes a ele); ele não é apaixonado pela garota bonita que o rejeita (essa situação vem a ser de seu melhor amigo, Peyton, interpretado por William Aames, que mesmo assim não vive maiores dramas); não tem problemas com as aulas ou os professores (também eles retratados em uma insegurança sardônica); os momentos de mais atrito, por assim dizer, se dão dentro de sua casa, onde seus pais apresentam um nível de implicância e neurose que chega a ser patético –parece que o roteiro não possui precedentes para moldar conflitos plausíveis e identificáveis para o protagonista.
Com efeito, quando ele adquire os poderes de telecinesia que movimentam a narrativa, a impressão que se tem é que Barn não sabe muito o que fazer com eles.
Isso acende a ganância de seu amigo Peyton, em contraponto ao constante chamado de responsabilidade de Bernadette (Felice Schachter), por quem Barn aos poucos se apaixona. Se de início Peyton passa a valer-se dos poderes do amigo para levar a melhor sobre seu objeto de desejo, Jane (a belíssima Heather Thomas), logo ele passa a almejar lucros materiais quando percebe que Barn é capaz de fazê-lo ganhar apostas, vencer jogos de sorte e vários outros estratagemas para afastá-los da mediocridade estudantil e social na qual antes estavam.
E “Zapped!” (ou “Uma Mistura Especial”, como queira) começa então a se afastar de “O Vingador Tóxico” (que apesar de tudo era incisivo e certeiro em suas motivações) e se aproximar de uma versão vazia, esculhambada e satírica de “Carrie-A Estranha” –até mesmo a cena em que os poderes promovem um caos no baile de formatura é recriada com ares de galhofa e travessura.
É essa consciência da própria redundância que confere ao filme um aura simpática e que lhe garantiu alguns admiradores –além do fato de pertencer, de modo tão indissociável, à inusitada década de 1980, onde obras de apelo atípico superavam a contradição e ganhavam admiradores; “Zapped!” inclusive, ganhou uma continuação na década de 1990, que apenas apresentava outros personagens em circunstâncias parecidas.

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