Chamado aqui no Brasil pelo desleixado título
de “Uma Mistura Especial”, quando foi lançado nos anos 1980, este filme
rapidamente se tornou um clássico obscuro da sessão da tarde.
Longe de pertencer a alguma variação do
sub-gênero de super-heróis –embora sua premissa seja essencialmente sobre
super-poderes –ele meio que se irmana a um grande cult movie do período, o
insano “Vingador Tóxico”.
Se naquele filme vemos um jovem zelador ganhar
força e aspecto sobre-humano para confrontar seus torturadores sociais da
maneira mais literal possível, aqui vemos o estudante metido a cientista (e
compulsivamente enfurnado no laboratório) Barn (Scott Baio, de “Bugsy
Malone-Quando As Metralhadoras Cospem”) que uma série de incidentes sem noção
leva a adquirir poderes de telecinesia.
Ao contrário do Melvin de “Vingador Tóxico”,
porém, Barn não padece de maiores opressões –e nisso se reflete algum
amadorismo de seus realizadores.
Ele não sobre bullying (os valentões, quando
muito são indiferentes a ele); ele não é apaixonado pela garota bonita que o
rejeita (essa situação vem a ser de seu melhor amigo, Peyton, interpretado por
William Aames, que mesmo assim não vive maiores dramas); não tem problemas com
as aulas ou os professores (também eles retratados em uma insegurança
sardônica); os momentos de mais atrito, por assim dizer, se dão dentro de sua
casa, onde seus pais apresentam um nível de implicância e neurose que chega a
ser patético –parece que o roteiro não possui precedentes para moldar conflitos
plausíveis e identificáveis para o protagonista.
Com efeito, quando ele adquire os poderes de
telecinesia que movimentam a narrativa, a impressão que se tem é que Barn não
sabe muito o que fazer com eles.
Isso acende a ganância de seu amigo Peyton, em
contraponto ao constante chamado de responsabilidade de Bernadette (Felice
Schachter), por quem Barn aos poucos se apaixona. Se de início Peyton passa a
valer-se dos poderes do amigo para levar a melhor sobre seu objeto de desejo,
Jane (a belíssima Heather Thomas), logo ele passa a almejar lucros materiais
quando percebe que Barn é capaz de fazê-lo ganhar apostas, vencer jogos de
sorte e vários outros estratagemas para afastá-los da mediocridade estudantil e
social na qual antes estavam.
E “Zapped!” (ou “Uma Mistura Especial”, como
queira) começa então a se afastar de “O Vingador Tóxico” (que apesar de tudo
era incisivo e certeiro em suas motivações) e se aproximar de uma versão vazia,
esculhambada e satírica de “Carrie-A Estranha” –até mesmo a cena em que os
poderes promovem um caos no baile de formatura é recriada com ares de galhofa e
travessura.
É essa consciência da própria redundância que
confere ao filme um aura simpática e que lhe garantiu alguns admiradores –além
do fato de pertencer, de modo tão indissociável, à inusitada década de 1980,
onde obras de apelo atípico superavam a contradição e ganhavam admiradores;
“Zapped!” inclusive, ganhou uma continuação na década de 1990, que apenas
apresentava outros personagens em circunstâncias parecidas.
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