segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O Que As Mulheres Querem


É preciso superar a sensação de mesmice que “O Que As Mulheres Querem” suscita no expectador quando fica clara sua divisão quase episódica: São onze personagens femininas que vão e que vêem que cruzam-se e separam-se ao longo do filme oscilando, como manda a cartilha, entre o humor e o drama.
A vida conjugal de Ysis (Geraldine Nakache) anda tumultuada. Às vésperas de completar 27 anos –idade com a qual sua mãe morreu –ela está casada e com quatro filhos, numa rotina onde não lhe sobra tempo para nada. Talvez, por isso, haja uma inesperada excitação quando descobre que a charmosa Marie (Alice Taglioni), sua babá, é lésbica –daí para o flerte e o ato sexual é um pulo.
Compreensivo e ao mesmo tempo perplexo, o marido de Ysis (Guillaume Gouix) trabalha num escritório de publicidade onde outros contratempos femininos modernos se desenrolam; a chefe Lili (isabelle Adjani) está à beira de uma crise de meia-idade (ou algo assim) deflagrada pela recente descoberta da vida sexual da própria filha; Adeline (Alice Belaïdi), uma grande amiga, se desdobra em duas como secretária de Rose (Vanessa Paradis), abalada recentemente por uma afirmação de um médico sobre não ter amigas –e inicia assim uma cruzada em busca de amizades, primeiramente antigas (o que resulta em catástrofe) e em seguida de novas; uma das figurinistas, Inés (Marina Hands) tem uma tremenda desilusão com o marido (Alex Lutz) e com o casamento que julgava estável, sendo que a amante dele, a também desesperada Jo (Audrey Dana, diretora e roteirista do filme) mora no mesmo prédio que sua colega de trabalho, a frígida e ligeiramente ostensiva Sophie (Audrey Fleurot), e é melhor amiga da hilária Agathe (a bela Laetitia Casta, de “A Negociação”), uma advogada às voltas com um possível romance, porém, constrangida pelas reações fisiológicas de seu corpo (flatos e roncos na barriga!) toda a vez que está perto do amado (Pascal Elbé).
Há ainda espaço para as atribulações de Fanny (a divertida Julie Ferrier) que, após uma batida de cabeça (!), adquire uma condição frontotemporal que a deixa compulsivamente sedenta de sexo –e a faz ficar com cacoetes bizarros quanto não se satisfaz (!); e Sam (Sylvie Testud, de “Piaf-Um Hino Ao Amor”) que, da neura paranoica migra para a angústia real quando é diagnosticada com câncer de mama.
A diretora Audrey Dana logrou uma obra graciosa, debruçada e amparada no timing cômico de seu elenco –que, de modo geral, segura o rojão, em especial, Laetitia Casta, maravilhosa –e, se possível, reveladora de uma das mais antigas questões da humanidade; justamente aquela que leva em seu título.
Entretanto, não foi bem isso que ela conseguiu: Claudicante na graça e na leveza, os núcleos narrativos se alternam entre o singelamente simpático e o ocasionalmente fora do tom, problema bastante recorrente em filmes que optam por um elenco numeroso numa miríade de tramas paralelas.
O resultado passa longe de ser desagradável, mas flerta frequentemente com o enfadonho.

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