É preciso superar a sensação de mesmice que “O
Que As Mulheres Querem” suscita no expectador quando fica clara sua divisão
quase episódica: São onze personagens femininas que vão e que vêem que
cruzam-se e separam-se ao longo do filme oscilando, como manda a cartilha,
entre o humor e o drama.
A vida conjugal de Ysis (Geraldine Nakache)
anda tumultuada. Às vésperas de completar 27 anos –idade com a qual sua mãe
morreu –ela está casada e com quatro filhos, numa rotina onde não lhe sobra
tempo para nada. Talvez, por isso, haja uma inesperada excitação quando
descobre que a charmosa Marie (Alice Taglioni), sua babá, é lésbica –daí para o
flerte e o ato sexual é um pulo.
Compreensivo e ao mesmo tempo perplexo, o
marido de Ysis (Guillaume Gouix) trabalha num escritório de publicidade onde
outros contratempos femininos modernos se desenrolam; a chefe Lili (isabelle
Adjani) está à beira de uma crise de meia-idade (ou algo assim) deflagrada pela
recente descoberta da vida sexual da própria filha; Adeline (Alice Belaïdi),
uma grande amiga, se desdobra em duas como secretária de Rose (Vanessa Paradis),
abalada recentemente por uma afirmação de um médico sobre não ter amigas –e
inicia assim uma cruzada em busca de amizades, primeiramente antigas (o que
resulta em catástrofe) e em seguida de novas; uma das figurinistas, Inés
(Marina Hands) tem uma tremenda desilusão com o marido (Alex Lutz) e com o
casamento que julgava estável, sendo que a amante dele, a também desesperada Jo
(Audrey Dana, diretora e roteirista do filme) mora no mesmo prédio que sua
colega de trabalho, a frígida e ligeiramente ostensiva Sophie (Audrey Fleurot),
e é melhor amiga da hilária Agathe (a bela Laetitia Casta, de “A Negociação”),
uma advogada às voltas com um possível romance, porém, constrangida pelas
reações fisiológicas de seu corpo (flatos e roncos na barriga!) toda a vez que
está perto do amado (Pascal Elbé).
Há ainda espaço para as atribulações de Fanny
(a divertida Julie Ferrier) que, após uma batida de cabeça (!), adquire uma
condição frontotemporal que a deixa compulsivamente sedenta de sexo –e a faz
ficar com cacoetes bizarros quanto não se satisfaz (!); e Sam (Sylvie Testud,
de “Piaf-Um Hino Ao Amor”) que, da neura paranoica migra para a angústia real
quando é diagnosticada com câncer de mama.
A diretora Audrey Dana logrou uma obra
graciosa, debruçada e amparada no timing cômico de seu elenco –que, de modo
geral, segura o rojão, em especial, Laetitia Casta, maravilhosa –e, se
possível, reveladora de uma das mais antigas questões da humanidade; justamente
aquela que leva em seu título.
Entretanto, não foi bem isso que ela conseguiu:
Claudicante na graça e na leveza, os núcleos narrativos se alternam entre o
singelamente simpático e o ocasionalmente fora do tom, problema bastante
recorrente em filmes que optam por um elenco numeroso numa miríade de tramas
paralelas.
O resultado passa longe de ser desagradável,
mas flerta frequentemente com o enfadonho.
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