Por muito tempo, Clint Eastwood acarinhou este
projeto, a mais nova versão de uma premissa que vem sendo sistematicamente reaproveitada
pelo cinema ao longo das gerações –há, até então, cinco versões de “Nasce Uma
Estrela”! –inclusive muito foi ventilado o nome de Beyonce como protagonista.
Entre aquelas idas e vindas que são muito
comuns no cinema comercial, o projeto terminou nas mãos do astro Bradley Cooper
–possivelmente com alguma recomendação de Eastwood com quem ele filmou “Sniper
Americano” –que aproveitou para fazer desta a sua estreia como diretor de
cinema. E que estreia!
Encarando também o principal papel masculino –o
que é surpreendente, sendo que além de atuar e dirigir, ele também tem de
cantar e tocar instrumentos de forma convincente em cena –Bradley interpreta
Jackson Maine, um famoso cantor country colhido no turbilhão de vícios que
costumam levar um artista à decadência. Logo no início, ele vai a um bar de
drag queens em busca de bebida e se surpreende com a inesperada performance de
uma artista notável: Trata-se da estrela de fato do filme, Ally, vivida pela
popstar Lady Gaga, dando à personagem evidentes características dela própria.
Jackson deixa-se fascinar pelo talento em
estado bruto dela e, logo passa a usar de seus recursos para tê-la sempre por
perto, permitindo até que ela cante com ele no palco (magnífica a cena em que
eles cantam juntos a música vencedora do Oscar de Melhor Canção deste ano, a
belíssima e poderosa “Shallow”) –proporcionando, enfim, sua chance de ascender
ao estrelato.
É o que acontece: A medida que Ally acompanha
Jackson em sua turnê, contribuindo com suas próprias músicas e apresentações –e
a medida também que o romance entre os dois se consolida –Ally adquire
rapidamente sua própria fama e autonomia como artista.
No entanto, Jackson, que tem lá seus próprios
demônios com os quais lidar –seu alcoolismo, seu vício em drogas e seu próprio
espírito indomável –entra numa espiral descendente de degradação em paralelo
com a ascensão artística de Ally; e esse paradoxo de oposição experimentado
pelos dois personagens principais lembra a trajetória (com características
similares) vista no ganhador do Oscar, “O Artista” –apesar disso, não se
enganem, este filme aqui é infinitamente superior!
Impressiona, a segurança com que Bradley Cooper
conduz o filme, tirando enorme proveito do exemplo e da experiência adquirida
com outros diretores com os quais colaborou –especialmente notável em seu
estilo são as influências do próprio Eastwood e de David O’ Russell –Lady Gaga
está arrebatadora, equilibrando sua exuberância como cantora a uma certa
introspecção como atriz, e dessa feliz reunião de talentos, “Nasce Uma Estrela”
extrai sua grande força: O brilho geral de todos os envolvidos contribui para
evidenciar a imensa força perene nesta premissa que une, com rara habilidade,
os fascinantes meandros do surgimento de uma celebridade, as engrenagens
íntimas de um romance, os efeitos transformadores da mentoria e as abissais
consequências de uma derrocada artística e pessoal.
Uma obra absolutamente
admirável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário