sexta-feira, 22 de março de 2019

Nasce Uma Estrela

Por muito tempo, Clint Eastwood acarinhou este projeto, a mais nova versão de uma premissa que vem sendo sistematicamente reaproveitada pelo cinema ao longo das gerações –há, até então, cinco versões de “Nasce Uma Estrela”! –inclusive muito foi ventilado o nome de Beyonce como protagonista.
Entre aquelas idas e vindas que são muito comuns no cinema comercial, o projeto terminou nas mãos do astro Bradley Cooper –possivelmente com alguma recomendação de Eastwood com quem ele filmou “Sniper Americano” –que aproveitou para fazer desta a sua estreia como diretor de cinema. E que estreia!
Encarando também o principal papel masculino –o que é surpreendente, sendo que além de atuar e dirigir, ele também tem de cantar e tocar instrumentos de forma convincente em cena –Bradley interpreta Jackson Maine, um famoso cantor country colhido no turbilhão de vícios que costumam levar um artista à decadência. Logo no início, ele vai a um bar de drag queens em busca de bebida e se surpreende com a inesperada performance de uma artista notável: Trata-se da estrela de fato do filme, Ally, vivida pela popstar Lady Gaga, dando à personagem evidentes características dela própria.
Jackson deixa-se fascinar pelo talento em estado bruto dela e, logo passa a usar de seus recursos para tê-la sempre por perto, permitindo até que ela cante com ele no palco (magnífica a cena em que eles cantam juntos a música vencedora do Oscar de Melhor Canção deste ano, a belíssima e poderosa “Shallow”) –proporcionando, enfim, sua chance de ascender ao estrelato.
É o que acontece: A medida que Ally acompanha Jackson em sua turnê, contribuindo com suas próprias músicas e apresentações –e a medida também que o romance entre os dois se consolida –Ally adquire rapidamente sua própria fama e autonomia como artista.
No entanto, Jackson, que tem lá seus próprios demônios com os quais lidar –seu alcoolismo, seu vício em drogas e seu próprio espírito indomável –entra numa espiral descendente de degradação em paralelo com a ascensão artística de Ally; e esse paradoxo de oposição experimentado pelos dois personagens principais lembra a trajetória (com características similares) vista no ganhador do Oscar, “O Artista” –apesar disso, não se enganem, este filme aqui é infinitamente superior!
Impressiona, a segurança com que Bradley Cooper conduz o filme, tirando enorme proveito do exemplo e da experiência adquirida com outros diretores com os quais colaborou –especialmente notável em seu estilo são as influências do próprio Eastwood e de David O’ Russell –Lady Gaga está arrebatadora, equilibrando sua exuberância como cantora a uma certa introspecção como atriz, e dessa feliz reunião de talentos, “Nasce Uma Estrela” extrai sua grande força: O brilho geral de todos os envolvidos contribui para evidenciar a imensa força perene nesta premissa que une, com rara habilidade, os fascinantes meandros do surgimento de uma celebridade, as engrenagens íntimas de um romance, os efeitos transformadores da mentoria e as abissais consequências de uma derrocada artística e pessoal.
Uma obra absolutamente admirável.

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