terça-feira, 16 de abril de 2019

Entre O Céu e A Terra

A “Trilogia do Vietnam”, do diretor Oliver Stone –da qual fazem parte os contundentes e premiados “Platoon” e “Nascido Em 4 de Julho” –foi encerrada com este “Entre O Céu e A Terra”, lançado em 1993, onde Stone, aparentando uma falsa imparcialidade atribuiu neste filme o ponto de vista vietnamita.
Ledo engano: Ao contrário do que fez Clint Eastwood, muitos anos depois, concebendo dois filmes de guerra (“A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima”) que realmente se alternam em lados, impressões e sensibilidades, Stone pratica mais uma vez seu poderoso exercício de demagogia, onde impõe, com o peso esmagador de sua narrativa, o seu ponto de vista e a sua opinião ao expectador.
Jovem moradora de uma aldeia na Vietnam, Le Ly (a bastante dedicada novata Hiep Thi Le) tem seus duríssimos percalços de vida registrados desde cedo (quando é tirada, ainda adolescente, de seu vilarejo) e intensificados quando se deflagra a guerra –ela experimenta o abuso dos dois lados do conflito (tanto vietnamita, quando americano), flerta com a prostituição, se torna mãe solteira e envolve-se com um soldado norte-americano, Butler (Tommy Lee Jones) que, depois da guerra, a torna sua esposa levando-a para morar nos EUA.
O choque de sua chegada num país ocidental e capitalista (provavelmente o mais emblemático do que é o Ocidente e do que é o Capitalismo) é capturado com ênfase e um certo exagero pelas lentes cheias de maneirismos de Stone. Mas, o diretor não se interessa por deslumbre: Como um repórter sensacionalista, Stone tem sua atenção voltada ao trágico, e são as sequências dessa orientação que definem seu filme: Atormentado pelos traumas de guerra, Butler é incapaz de conviver com Le Ly ou com qualquer um.
Mesmo que incorpore inúmeras filosofias zen inerentes à autobiografia de Le Ly Hayslip, o filme acentua mesmo a obsessão pelos lapsos políticos dos anos 1960, a acidez e o rancor para as inevitabilidades da realidade, e os temas que regem toda a obra do diretor.
Grande artesão que é, Stone não se contenta com o primor no retrato massacrante que obtém; ele também reveste sua obra de um viés documental forçando sua ótica como uma verdade absoluta ao expectador.
Ao lado da competência superlativa, eis outra faceta característica à Oliver Stone: A de evidenciar e exceder para muito além do tolerável a sua própria posição.

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