Durante a década de 1980, o diretor Ivan
Reitman e o roteirista (e também ator) Harold Ramis, comediantes da segunda
geração do grupo “National Lampoon’s” –lembrando que a primeira geração contava
com o impagável John Belushi –tiveram a ideia de conceber um filme que
reeditasse grandes uniões cômicas do passado, como “O Gordo e O Magro” e “Os
Três Patetas”. Aproveitaram para agregar à premissa um senso de aventura que
predominava nos grandes sucessos do período e eis que surgiu a ideia de uma
equipe de improváveis defensores do mundo contra ameaças sobrenaturais,
revestido de certo cinismo que os fazia, na maior parte do tempo, encarar
aquele como um trabalho regular, e ainda pontuado por um viés machista que, nos
anos que se seguiram, foi ficando até mais evidente para as novas gerações de
expectadores.
Dessa forma, encontramos assim o malandro e
melindroso Peter Venkman (Bill Murray), o inventor intelectual Egon Spengler
(Harold Ramis) e o teórico e inseguro Ray Stantz (Dan Akroyd), desacreditados
professores de uma universidade (isso porquê insistiam numas pouco plausíveis
teorias a respeito de aparições espectrais e sobrenaturais) que, ao serem
demitidos e perderem financiamento para suas pesquisas, adotam uma forma
inovadora e prática de ganhar dinheiro: Passam a compor um quarteto (finalizado
pela presença do assalariado Winston Zedmore, interpretado por Ernie Hudson) e
a oferecer seus serviços como caça-fantasmas, já que as almas de outro mundo
não param de incomodar os nova-iorquinos, e não há ninguém disponível para
fazer o serviço.
No entanto, as aparições fantasmagóricas têm um
propósito –esclarecimento que virá durante a averiguação de um caso específico,
o da aflita Dana Barrett, vivida pela bela e elegante Sigourney Weaver –e isso
pode acabar levando os caça-fantasmas a terem de salvar o mundo todo.
Não obstante o clássico comercial que o filme
se tornou a partir dos anos 1980, não restam dúvidas da inclinação
insidiosamente machista nas entrelinhas do filme (que hoje respondem pelas
maiores ressalvas feitas a este divertido filme): A personagem de Sigourney
Weaver é tratada com interessado desprezo pelo protagonista, e tudo só piora
quando é possuída pela entidade do mal na segunda metade do filme, virando um
pastiche inverossímil de ninfomaníaca; isso sem falar na personagem rasa e
ofensivamente caricata da secretária Janine (Annie Potts, de “Crimes de Paixão”); uma das cenas iniciais, com Peter Venkman tentando um acanalhada e
discutível tentativa de sedução de uma estudante em meio a um projeto
universitário; e, principalmente, uma cena injustificável (sobretudo, para um
filme comercial supostamente indicado para toda a família) onde, durante o
sonho do personagem Ray, vemos ele receber sexo oral de uma fantasma (!): Foram
justificativas mais que suficientes para a viabilização de uma refilmagem, em
2016, que por sua vez trazia um time só de mulheres.
Se desconsiderarmos aquelas
nítidas expressões de mau gosto –uma característica que sempre interferiu no
trabalho de Ivan Reitman –sobra em “Os Caça-fantasmas” uma empolgante aventura
cômica e sobrenatural, com enlaces de criatividade que nem sua malfadada
continuação, nem sua refilmagem foram capazes de equiparar.
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