sexta-feira, 3 de maio de 2019

Os Caça - Fantasmas

Durante a década de 1980, o diretor Ivan Reitman e o roteirista (e também ator) Harold Ramis, comediantes da segunda geração do grupo “National Lampoon’s” –lembrando que a primeira geração contava com o impagável John Belushi –tiveram a ideia de conceber um filme que reeditasse grandes uniões cômicas do passado, como “O Gordo e O Magro” e “Os Três Patetas”. Aproveitaram para agregar à premissa um senso de aventura que predominava nos grandes sucessos do período e eis que surgiu a ideia de uma equipe de improváveis defensores do mundo contra ameaças sobrenaturais, revestido de certo cinismo que os fazia, na maior parte do tempo, encarar aquele como um trabalho regular, e ainda pontuado por um viés machista que, nos anos que se seguiram, foi ficando até mais evidente para as novas gerações de expectadores.
Dessa forma, encontramos assim o malandro e melindroso Peter Venkman (Bill Murray), o inventor intelectual Egon Spengler (Harold Ramis) e o teórico e inseguro Ray Stantz (Dan Akroyd), desacreditados professores de uma universidade (isso porquê insistiam numas pouco plausíveis teorias a respeito de aparições espectrais e sobrenaturais) que, ao serem demitidos e perderem financiamento para suas pesquisas, adotam uma forma inovadora e prática de ganhar dinheiro: Passam a compor um quarteto (finalizado pela presença do assalariado Winston Zedmore, interpretado por Ernie Hudson) e a oferecer seus serviços como caça-fantasmas, já que as almas de outro mundo não param de incomodar os nova-iorquinos, e não há ninguém disponível para fazer o serviço.
No entanto, as aparições fantasmagóricas têm um propósito –esclarecimento que virá durante a averiguação de um caso específico, o da aflita Dana Barrett, vivida pela bela e elegante Sigourney Weaver –e isso pode acabar levando os caça-fantasmas a terem de salvar o mundo todo.
Não obstante o clássico comercial que o filme se tornou a partir dos anos 1980, não restam dúvidas da inclinação insidiosamente machista nas entrelinhas do filme (que hoje respondem pelas maiores ressalvas feitas a este divertido filme): A personagem de Sigourney Weaver é tratada com interessado desprezo pelo protagonista, e tudo só piora quando é possuída pela entidade do mal na segunda metade do filme, virando um pastiche inverossímil de ninfomaníaca; isso sem falar na personagem rasa e ofensivamente caricata da secretária Janine (Annie Potts, de “Crimes de Paixão”); uma das cenas iniciais, com Peter Venkman tentando um acanalhada e discutível tentativa de sedução de uma estudante em meio a um projeto universitário; e, principalmente, uma cena injustificável (sobretudo, para um filme comercial supostamente indicado para toda a família) onde, durante o sonho do personagem Ray, vemos ele receber sexo oral de uma fantasma (!): Foram justificativas mais que suficientes para a viabilização de uma refilmagem, em 2016, que por sua vez trazia um time só de mulheres.
Se desconsiderarmos aquelas nítidas expressões de mau gosto –uma característica que sempre interferiu no trabalho de Ivan Reitman –sobra em “Os Caça-fantasmas” uma empolgante aventura cômica e sobrenatural, com enlaces de criatividade que nem sua malfadada continuação, nem sua refilmagem foram capazes de equiparar.

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