terça-feira, 25 de junho de 2019

Nas Garras da Ambição

Homens cujos destino é entrelaçado por circunstâncias instáveis. Essa parece ser a premissa que norteia a maioria dos trabalhos do diretor Raoul Walsh –pelo menos, aqueles dos quais se tem conhecimento uma vez que boa parte de sua filmografia, incluindo o prolífico período do cinema mudo, se encontra perdida.
No faroeste, “Nas Garras da Ambição” –ou “The Tall Men”, título de uma música que ilustra muito bem os humores aos quais se submete o romance do casal central –tais homens são o ex-combatente da Guerra de Secessão, Ben Alisson (Clark Gable) e o fidalgo Nathan Stark (Robert Ryan).
O ano é 1866, e não resta muito à Alisson e ao seu irmão senão singrar as cidades gélidas do Wyoming atrás de uma oportunidade de roubo. Numa dessas ocasiões, eles quase levam o dinheiro do empresário Stark, entretanto, ele os convence a aceitar um emprego que os pagará muito melhor do que a soma que estão prestes a roubar; com a vantagem de não acarretar complicações com a Lei. O emprego em questão: Conduzir um grande rebanho de gado, ao lado do próprio Stark, até suas terras em Montana.
Estabelece-se assim uma cumplicidade definida por desconfiança entre dois homens de índoles absolutamente distintas, quase opostas: O calejado, truculento, porém admirado e admirável Ben Alisson, e o metódico, calculista e empreendedor Nathan Stark –figuras, portanto, que representam a transfiguração do próprio Oeste; o vaqueiro transparente em sua rudeza dando lado para o homem de negócios urbano e ambicioso.
Embora não consiga esconder sua simpatia pelo primeiro deles, o diretor Raoul Walsh conduz essa situação intensificando-a com o surgimento em cena de uma mulher que captura o interesse de ambos: Nella, vivida por Jane Russell.
Resgatada de uma caravana de moribundos, Nella tem um interlúdio romântico bastante promissor com Ben, mas ambos logo se desentendem diante de uma visão diferenciada da felicidade. Nathan não deixa de aproveitar essa brecha e chama Nella para ir com ele à caravana –convite que ela aceita, dando a entender que irá viver com Nathan em Montana, no entanto, sua presença na caravana parece não ter nenhum objetivo senão provocar Ben e enlouquece-lo de ciúmes.
Durante dos percalços previsíveis (e, para os padrões de hoje, até ingênuos) desse triângulo amoroso, o diretor Walsh conduz com brilho a árdua jornada dos protagonistas por pradarias extensas, de sol escaldante, ou de neve até os joelhos, e por sequências imponentes de perseguição –essas e outras cenas são magnificamente bem adaptadas ao novo formato CinemaScope que esta produção emprega com exuberância em sua fotografia. A reflexão que Walsh (assim como John Ford) levava ao faroeste, agora vinha também embalada num arrebatador visual de cartão postal.

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