Entre uma outra brilhante animação da Pixar ou
da Disney aparece uma realização que surpreende vinda de algum outro estúdio. E
com frequência esse estúdio costuma ser a Dreamworks SKG –de onde veio, por
exemplo, “Shrek”.
É de lá também que vem este “Cada Um Na Sua
Casa”, uma revisão bem-humorada do batidíssimo tema da invasão alienígena ao
nosso planeta.
Em tudo e por tudo, porém, a animação busca se
desvencilhar das obviedades, a começar pelo ponto de vista: Não testemunhamos a
invasão do ponto dos terráqueos invadidos, mas sob a ótica dos quase
indiferentes invasores.
Oh é o protagonista da trama. Alienígena da
raça Boov (criaturas de avançada tecnologia e espantosa ingenuidade que mudam
de cor a medida que alternam emoções), Oh vive tentando fazer amizades, coisa
que a cultura bizarra de seu povo não permite com facilidade. Já no início, os
Boovs escolhem o planeta Terra para invadir. Mas, uma invasão limpa, sem
transtornos e maiores contratempos: Eles ‘desligam’ a gravidade do planeta por
tempo o suficiente para subjugarem todos os humanos e realoca-los em
condomínios (!), deixando todo o resto do planeta disponível para ocupação.
Oh se instala num apartamento de Nova York
repleto de bugigangas humanas que, no geral, nenhum deles compreende. Contudo,
uma garota humana ficou para trás: A jovem e obstinada Tippy que agora tem como
missão reencontrar sua mãe.
Seguindo brilhantemente na contramão do que
costuma acometer a qualquer obra desse sub-gêneros das invasões alienígenas
(sejam elas infantis ou adultas), Tippy é uma personagem infinitamente mais
interessante do que Oh –daí não ser nada estranho que, quando os dois enfim se
encontram, o filme finalmente parece começar de verdade.
Auxiliada por Oh, que além do conhecimento
sobre a vasta tecnologia Boov tem informações de como encontrar sua mãe, Tippy
embarca numa viagem que a leva a atravessar o oceano em um carro voador,
enquanto estabelece uma conexão com o estranho extraterrestre.
Embora o roteiro tente centralizar Oh na
premissa –é central à trama o fato de que, durante essa fuga, ele é procurado
por ter enviado um messenger convidando a raça inimiga, os Gorgons, para vir à
Terra (!) –ele nunca consegue se destacar mais do que Tippy na narrativa. Ela é
um caso raro de personagem cujas características atingem o equilíbrio entre o
carisma, a ternura e a petulância expressados numa animação cheia de
propriedade e expressividade. O curioso é que parece que nem mesmo os
realizadores se deram conta disso, e delegam o tempo de cena entre os
personagens mais proeminentes –Tippy, Oh e o vilãozinho sem sal da história
–como se eles tivessem o mesmo grau de fascínio sobre o público.
Não têm. Toda a vez que Tippy está em cena
“Cada Um Na Sua Casa” é agradável, fluido e envolvente; toda vez que ela não
está seu humor claudicante aparece, seu ritmo acha dificuldade em se harmonizar
e seu roteiro tem mais trabalho em capturar a atenção do expectador.
Por sorte, os momentos
satisfatórios compensam com larga margem aqueles que não chegaram lá, até
porque o trabalho em animação digital apresentado aqui está entre o que de
melhor se tem realizado.
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