terça-feira, 10 de setembro de 2019

Cada Um Na Sua Casa

Entre uma outra brilhante animação da Pixar ou da Disney aparece uma realização que surpreende vinda de algum outro estúdio. E com frequência esse estúdio costuma ser a Dreamworks SKG –de onde veio, por exemplo, “Shrek”.
É de lá também que vem este “Cada Um Na Sua Casa”, uma revisão bem-humorada do batidíssimo tema da invasão alienígena ao nosso planeta.
Em tudo e por tudo, porém, a animação busca se desvencilhar das obviedades, a começar pelo ponto de vista: Não testemunhamos a invasão do ponto dos terráqueos invadidos, mas sob a ótica dos quase indiferentes invasores.
Oh é o protagonista da trama. Alienígena da raça Boov (criaturas de avançada tecnologia e espantosa ingenuidade que mudam de cor a medida que alternam emoções), Oh vive tentando fazer amizades, coisa que a cultura bizarra de seu povo não permite com facilidade. Já no início, os Boovs escolhem o planeta Terra para invadir. Mas, uma invasão limpa, sem transtornos e maiores contratempos: Eles ‘desligam’ a gravidade do planeta por tempo o suficiente para subjugarem todos os humanos e realoca-los em condomínios (!), deixando todo o resto do planeta disponível para ocupação.
Oh se instala num apartamento de Nova York repleto de bugigangas humanas que, no geral, nenhum deles compreende. Contudo, uma garota humana ficou para trás: A jovem e obstinada Tippy que agora tem como missão reencontrar sua mãe.
Seguindo brilhantemente na contramão do que costuma acometer a qualquer obra desse sub-gêneros das invasões alienígenas (sejam elas infantis ou adultas), Tippy é uma personagem infinitamente mais interessante do que Oh –daí não ser nada estranho que, quando os dois enfim se encontram, o filme finalmente parece começar de verdade.
Auxiliada por Oh, que além do conhecimento sobre a vasta tecnologia Boov tem informações de como encontrar sua mãe, Tippy embarca numa viagem que a leva a atravessar o oceano em um carro voador, enquanto estabelece uma conexão com o estranho extraterrestre.
Embora o roteiro tente centralizar Oh na premissa –é central à trama o fato de que, durante essa fuga, ele é procurado por ter enviado um messenger convidando a raça inimiga, os Gorgons, para vir à Terra (!) –ele nunca consegue se destacar mais do que Tippy na narrativa. Ela é um caso raro de personagem cujas características atingem o equilíbrio entre o carisma, a ternura e a petulância expressados numa animação cheia de propriedade e expressividade. O curioso é que parece que nem mesmo os realizadores se deram conta disso, e delegam o tempo de cena entre os personagens mais proeminentes –Tippy, Oh e o vilãozinho sem sal da história –como se eles tivessem o mesmo grau de fascínio sobre o público.
Não têm. Toda a vez que Tippy está em cena “Cada Um Na Sua Casa” é agradável, fluido e envolvente; toda vez que ela não está seu humor claudicante aparece, seu ritmo acha dificuldade em se harmonizar e seu roteiro tem mais trabalho em capturar a atenção do expectador.
Por sorte, os momentos satisfatórios compensam com larga margem aqueles que não chegaram lá, até porque o trabalho em animação digital apresentado aqui está entre o que de melhor se tem realizado.

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