A primeira cena do filme é cheia de intimidade.
Ainda não sabemos, mas é a única cena de todo o filme na qual veremos juntos o
casal apaixonado vivido por Jeremy Irons e por Olga Kurylenko.
Ela é Amy Ryan. Ele é Ed Phoerum. Ela é uma
estudante de astrologia que trabalha ocasionalmente como dublê em cenas
perigosas de filmes mirabolantes. Ele é um renomado astrólogo, casado, pai de
família, muito mais velho que ela.
E, no breve vislumbre do relacionamento entre
eles que temos, podemos perceber que um dos estímulos para o romance entre os
dois é a constante capacidade dele em antecipar as atitudes dela, e
surpreende-la assim com surpresas românticas.
A surpresa maior, no entanto, chega como um
baque: Quando vai assistir uma palestra de Ed após cerca de três meses sem se
verem, Amy recebe a notícia de que ele faleceu –a despeito do fato intrigante
de ter continuado a receber e-mails dele mesmo depois da data do óbito (!).
Incrédula quanto à situação, ela tenta de todas
as maneiras descobrir o que de fato está se passando –vai à casa da família
dele em Londres, tenta rastrear seu jazigo, etc.
Nesse ponto, em que a narrativa econômica do
diretor Giuseppe Tornatore omite maiores informações na pretensão jocosa de
intrigar o público, seu filme chega quase a lembrar o enigmático “Amor Maior Que A Vida”, com Jennifer Connelly, no entanto, essa auspiciosidade é fugaz:
Quando os esclarecimentos não tardam a se acomodar na narrativa percebemos que
esta é mesmo uma réplica europeizada e supostamente elitista, intelectual e refinada
do meloso “P/S Eu Te Amo” –como naquele outro filme, o indivíduo apaixonado
deu-se ao trabalho de montar mensagens infindáveis para a mulher amada, às
quais ela recebe, aqui, na forma de messengers em seu celular, videos gravados
em computador ou câmeras, ou mesmo cartas. Todas essas mensagens obedecendo um
planejamento específico e detalhado –e, por vezes, inverossímil –onde ele
determina com noção profética todos os passos dela.
Se o filme norte-americano já era uma overdose
de sacarose difícil de engolir, este trabalho europeu –mas, falado em inglês e
estrelado por um casal de atores consideravelmente conhecidos e reconhecidos
–encontra seu grande pecado nos exageros passionais de seu diretor italiano: A
condução de Tornatore se excede em seu pedantismo e em seu romance deslavado; a
trilha sonora de Ennio Morricone, por exemplo, chega a ser intrusiva de tão
onipresente; e os dois personagens principais, apesar do esforço dos atores que
os interpretam não conseguem envolver o público.
Essas características
sabotam as intenções de fazer deste um desigual e emotivo estudo do luto e da
perda em oposição ao egocentrismo de esperar que uma pessoa viva (ela)
mantenha-se sentimentalmente presa a uma pessoa morta (ele), compensado somente
com a graça e a delicadeza da bela ucraniana Olga Kurylenko que se sai muito
bem como protagonista –contrapondo a presença nem sempre adequada do veterano
Jeremy Irons.
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