Para alguns uma espécie de refilmagem de “Matar Ou Morrer”, este admirável trabalho do diretor Phil Joanou altera tanto as
circunstâncias em torno das quais a premissa daquele brilhante faroeste se
desenrola que essa colocação pode parecer até estapafúrdia.
Entretanto, não há dúvidas de que “Te Pego Lá
Fora” empresta da obra de Fred Zinnemann o conceito de tempo real, bem como a
sintomática opção de mostrar relógios a todo instante.
Tudo o mais é diferente –prova de que, se a
ideia era mesmo refilmar “Matar Ou Morrer”, os anos 1980 tinham muito mais
criatividade e audácia para oferecer do que os nada imaginativos realizadores
de hoje.
Jerry Mitchell (Casey Siemaszko) é um estudante
como outro qualquer; quase nerd, bom aluno, responsável pela papelaria da
escola, ele está entre aqueles que não chamam a atenção de ninguém, mas também
não são tidos como desajustados pelos colegas e professores.
Diferente de Buddi Revell (Richard Tyson, um dos diversos soldados de
“Falcão Negro Em Perigo”); ele já chega em seu primeiro dia na escola com uma
fileira de boatos atrás de si, a maioria deles dando conta de como é um brigão
inveterado –e já nesse prenúncio, a direção estilizada e arrojada de Phil
Joanou já entrega diversas sequências que deixam claro que este não é um filme
adolescente convencional.
Incentivado pela função de editor-chefe do
jornal da escola –uma das muitas que acumula –Jerry aborda Buddy quando os dois
se encontram por acaso no banheiro. E uma atitude descuidada (ele dá um tapinha
em Buddy que odeia ser tocado) o coloca em maus lençóis: Buddy quer agora
brigar com ele, tal qual o faz em toda escola que vai parar. E isso se dará no
horário da saída.
O palco está armado para a referência-mor do
filme de Phil Joanou –como em “Matar Ou Morrer”, as horas progridem tão tensas
quanto envolventes (e, neste caso, divertidas) enquanto o aflito protagonista
busca um meio de escapar da enrascada em que se meteu.
No caso específico de Jerry, as tentativas de
fugir da encrenca se ramificam em novas encrencas (um dos amigos tenta colocar
um canivete no armário de Buddy para forçá-lo a ir para a detenção; ele
contrata um dos fortões locais para dar cabo de Buddy; Jerry procura ele
próprio ir parar na detenção [e consegue, no máximo, seduzir a bela
professora!]; ele acaba até mesmo tentando roubar dinheiro do caixa da
papelaria a fim de subornar seu desafeto) e nesse hábil domínio do infortúnio
cômico o roteiro revela uma peculiar noção de ritmo e encadeamento.
Revela também a compreensão daquilo que “Matar
Ou Morrer” também era, e de qual vinha a ser a finalidade principal embutida em
sua premissa: Uma construção minimalista e circunspecta de personagem; é diante
dos extremos que se descobre capaz para manter-se em sua zona de conforto que
Jerry compreende encontrar seu maior inimigo, o medo, e não na ausência de
coragem para enfrentar Buddy.
Ao fim daquele dia, tendo perdido quase tudo –e
comprometido seriamente sua imagem de bom aluno em seus hesitantes esforços
para fugir pela tangente –o protagonista reencontra aquela coragem de quem já
não tem muito mais o que perder.
Nesse ponto, a comédia de
Phil Joanou já deixou bem claro que passa longe de um registro realista –as
situações criadas em sua absoluta idealização cinematográfica são precisas
demais, simbólicas demais para pertencer ao mundo real –mas, caso isso não
tivesse ficado claro, a sequência final, com a alardeada briga na escola, é
também ela filmada com avidez espetacular e um senso incomum de estilo da parte
de seu diretor.
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