sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Te Pego Lá Fora

Para alguns uma espécie de refilmagem de “Matar Ou Morrer”, este admirável trabalho do diretor Phil Joanou altera tanto as circunstâncias em torno das quais a premissa daquele brilhante faroeste se desenrola que essa colocação pode parecer até estapafúrdia.
Entretanto, não há dúvidas de que “Te Pego Lá Fora” empresta da obra de Fred Zinnemann o conceito de tempo real, bem como a sintomática opção de mostrar relógios a todo instante.
Tudo o mais é diferente –prova de que, se a ideia era mesmo refilmar “Matar Ou Morrer”, os anos 1980 tinham muito mais criatividade e audácia para oferecer do que os nada imaginativos realizadores de hoje.
Jerry Mitchell (Casey Siemaszko) é um estudante como outro qualquer; quase nerd, bom aluno, responsável pela papelaria da escola, ele está entre aqueles que não chamam a atenção de ninguém, mas também não são tidos como desajustados pelos colegas e professores.
Diferente de Buddi Revell (Richard Tyson, um dos diversos soldados de “Falcão Negro Em Perigo”); ele já chega em seu primeiro dia na escola com uma fileira de boatos atrás de si, a maioria deles dando conta de como é um brigão inveterado –e já nesse prenúncio, a direção estilizada e arrojada de Phil Joanou já entrega diversas sequências que deixam claro que este não é um filme adolescente convencional.
Incentivado pela função de editor-chefe do jornal da escola –uma das muitas que acumula –Jerry aborda Buddy quando os dois se encontram por acaso no banheiro. E uma atitude descuidada (ele dá um tapinha em Buddy que odeia ser tocado) o coloca em maus lençóis: Buddy quer agora brigar com ele, tal qual o faz em toda escola que vai parar. E isso se dará no horário da saída.
O palco está armado para a referência-mor do filme de Phil Joanou –como em “Matar Ou Morrer”, as horas progridem tão tensas quanto envolventes (e, neste caso, divertidas) enquanto o aflito protagonista busca um meio de escapar da enrascada em que se meteu.
No caso específico de Jerry, as tentativas de fugir da encrenca se ramificam em novas encrencas (um dos amigos tenta colocar um canivete no armário de Buddy para forçá-lo a ir para a detenção; ele contrata um dos fortões locais para dar cabo de Buddy; Jerry procura ele próprio ir parar na detenção [e consegue, no máximo, seduzir a bela professora!]; ele acaba até mesmo tentando roubar dinheiro do caixa da papelaria a fim de subornar seu desafeto) e nesse hábil domínio do infortúnio cômico o roteiro revela uma peculiar noção de ritmo e encadeamento.
Revela também a compreensão daquilo que “Matar Ou Morrer” também era, e de qual vinha a ser a finalidade principal embutida em sua premissa: Uma construção minimalista e circunspecta de personagem; é diante dos extremos que se descobre capaz para manter-se em sua zona de conforto que Jerry compreende encontrar seu maior inimigo, o medo, e não na ausência de coragem para enfrentar Buddy.
Ao fim daquele dia, tendo perdido quase tudo –e comprometido seriamente sua imagem de bom aluno em seus hesitantes esforços para fugir pela tangente –o protagonista reencontra aquela coragem de quem já não tem muito mais o que perder.
Nesse ponto, a comédia de Phil Joanou já deixou bem claro que passa longe de um registro realista –as situações criadas em sua absoluta idealização cinematográfica são precisas demais, simbólicas demais para pertencer ao mundo real –mas, caso isso não tivesse ficado claro, a sequência final, com a alardeada briga na escola, é também ela filmada com avidez espetacular e um senso incomum de estilo da parte de seu diretor.

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