Na premissa bolada num lapso de iluminação
criativa pelo diretor Oren Peli não se precisa muito para moldar uma das mais
notáveis obras de terror dos anos recentes.
Uma câmera caseira, de imagem granulada e
monocromática, um casal de atores desconhecidos e a mais comum das ambientações
residenciais é tudo que “Atividade Paranormal” tem a oferecer. E isso basta.
Katie e seu namorado Micah (Katie Featherston e
Micah Sloat, cujos personagens usam o mesmo nome dos intérpretes) vivem juntos.
Ela compartilha com ele uma perturbação que a persegue em maior e menor grau
desde a infância –dado que servirá de gatilho às infindáveis continuações: Ela
é importunada pelo que acredita ser uma espécie de fantasma.
Micah, numa atitude que espelha uma incredulidade
machista e ostensiva, duvida de tudo e, num ato contínuo, faz tudo o que Katie
não quer.
Ela não quer ser filmada. Pois então, ele
providencia uma filmadora –aquela que, no final de contas, registra o filme do
início ao fim –e com ela grava até mesmo as horas madrugadais em que os dois
estão dormindo na cama; e tais cenas logo começam a revelar indícios
amedrontadores de ocorrências se sucedendo diante deles sem saber.
Ela não quer (e nem o especialista sobrenatural
que lhes faz uma breve visita) que ele traga uma tábua de ouija para casa.
Pois, não se passam muitas cenas até que Micah faça exatamente isso –todo o
filme de terror precisa de um personagem no limite da insensatez para praticar
algo que dê o estopim à deflagração do mal. E todo filme de terror –ao menos,
aqueles verdadeiramente válidos em sua realização –tem um esmerado trabalho em
seu clima e atmosfera. “Atividade Paranormal” não se isenta disso: Seu
orçamento pode ser mínimo, seu elenco reduzido. Sua ambientação ainda mais
básica, mas em termos de tom e circunstância, ele acerta em cheio.
Depois que Micah aparece com a dita tábua de
ouija, as ocorrências sobrenaturais vão escalando de curiosos e estranhos acidentes
domésticos (um copo que se quebra, uma porta se fechando sozinha, crises intensas
de sonambulismo de Katie) para acontecimentos violentos de fato (Katie tem,
durante o sono, sua perna puxada por uma entidade invisível, objetos da casa
são arremessados no ar).
O casal não tem um pingo de paz e, embora o bom
senso diga para saírem dali o mais rápido possível –claro que não o farão –eles
permanecem, deixando que tudo caminhe para um desfecho tenebroso.
Realizado com a simplicidade que se vê sem
disfarces na tela –e este é um daqueles raros filmes que sua escassez depõe a
favor de seu conceito –a obra de Oren Peli chegou às mãos de um de seus maiores
influenciadores, Steven Spielberg (cujo “Tubarão”, e sua aula de suspense
sugerido, serviu de imensa inspiração para Peli), que enxergou o potencial
naquele pequeno, porém, aflitivo filminho de casa mal-assombrada.
Spielberg sugeriu a Oren
Peli a realização de um final mais harmonioso e menos disperso para seu plot (o
final original pode ser conferido na internet, sendo que não é o mesmo,
alternativo, que se encontra nos extras do DVD) e convenceu a Paramount
Pictures a distribuir “Atividade Paranormal” nos cinemas, resultando num
sucesso de bilheteria exponencialmente oposto ao seu minúsculo custo de
produção, e gerando uma franquia cujas continuações e derivados não conseguiram
igualar o sensacional choque de originalidade deste primeiro filme.
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