“Mister Majestik” foi lançado em 1974, mesmo
ano em que “Desejo de Matar”, também estrelado por Charles Bronson saiu e
virou, como todos sabem, cult: Além de render quatro continuações foi copiado e
imitado por centenas de outras realizações.
A proximidade de lançamento terminou jogando
uma sombra de obscurantismo sobre “Mister Majestik”. Uma pena, já que existem
inúmeros predicados notáveis neste trabalho enxuto, sucinto e incisivo do
diretor Richard Fleischer, roteirizado pelo aclamado escritor Elmore Leonard.
Em princípio, o próprio Charles Bronson
consegue brilhar num personagem feito com bastante adequação à persona
casca-grossa, implacável e irredutível que ele criou na tela grande.
Vince Majestik é um mero plantador de melancias
do meio-oeste norte-americano; embora seja também, em informações que serão
apresentadas mais tarde, um veterano do Vietnam e, portanto, conhecedor de
práticas militares, de técnicas de guerrilha e do manejo de armas de fogo.
Quando o filme começa, no entanto, tudo o que
ele quer é sossego, e poder colher suas melancias em paz. Suas complicações têm
início quando ele acerta com um grupo de imigrantes latinos, liderados por
Nancy (Linda Cristal, da série “Chaparral”), o serviço de colher seus frutos durante
a safra. Ao chegar em sua fazenda, porém, Majestik encontra outros homens
trabalhando na colheita. Foram despachados pela intratável Bobby Kopas (Paul
Koslo, de “O Portal do Paraíso”) que, ladino e ameaçador, deseja impor seus
próprios funcionários ao fazendeiro.
Num perfil bastante condizente com o do próprio
astro Charles Bronson e certamente de muitos realizadores que capiteanaram esse
gênero do vigilante em meio a um faroeste moderno surgido naquele período, o
protagonista não aceita esses termos, certo de que em sua fazenda e em sua
propriedade pesará sua palavra final –e o roteiro trabalha habilmente a
situação bastante intolerável em que as circunstâncias vão o colocando.
Em resumo, Majestik coloca Kopas (que chega a
ameaçá-lo com uma espingarda) para correr, embora, no fim das contas, ele
acabe correndo para a delegacia denuncia-lo: A ironia é que logo depois, o
policiais aparecem para prender Majestik.
Encarcerado, ele é colocado num ônibus com
outros detentos, entre os quais Frank Renda (o ótimo Al Lettieri) que Majestik
desconhece, mas logo descobre ser um assassino de aluguel contratado da máfia.
Com efeito, aliados provocam um atentado contra o ônibus em movimento na
intenção de libertar Renda. No caos que se segue, tudo sai errado, e Majestik
acaba assumindo o volante no lugar do motorista alvejado.
Renda o enche de propostas, mas Majestik tem
seu próprio plano: Ele quer entregar Renda de novo à justiça em troca de sua
libertação.
As coisas, entretanto, não saem como planejado:
Majestik e Renda obtêm carona da mocinha Wiley (Lee Purcell), envolvida com o
vilão, e durante a viagem, quando ela passa uma pistola para as mãos algemadas
de Renda, Majestik luta com ele, escapando por muito pouco pelo vidro quebrado
do automóvel.
Agora, contudo, Renda está livre e sedento de
vingança pelo período exacerbado que passou junto de Majestik. Este, por sua
vez, volta à polícia, que torna a encarcerá-lo. Todavia, um outro plano agora está em curso. O de Frank
Renda.
Ele obtêm a lealdade de Kopas, fazendo-o retirar sua queixa e colocando o protagonista em liberdade novamente, mas descobre que
a polícia mantêm Majestik em vigilância certa de que poderão usá-lo como isca
para prendê-lo. Renda quer porque quer matar Majestik, e começa expulsando os
empregados imigrantes de sua fazenda –trabalhadores locais ele não conseguiu
contratar graças às conspirações de Renda e Kopas –e destrói a tiros o primeiro
lote de suas melancias colhidas.
Eis que então, o protagonista durão, mas até
então bastante contido, dá um basta –isso já num momento bem avançado da
narrativa, por meio do qual percebemos a falta de pressa e o cuidado incomum
que o roteiro teve em montar cuidadosamente o plot; algo pouco presente nos
apressados e ansiosos filmes de hoje em dia.
Acuado cada vez mais, Majestik promove sua
própria retaliação contra o cerco criminoso que se fecha ao seu redor, usando
de seus conhecimentos para virar o jogo e encurralar Kopas, Frank Renda e seus
capangas numa cabana nas montanhas, onde um formidável tiroteio ao estilo tenso
e palpitante dos bons faroeste lhe servirá de desfecho –neste trecho, pode-se
notar com exatidão a referência que a trilha sonora de Charles Bernstein presta
à Ennio Morriconne ao emular acordes da trilha de “Era Uma Vez No Oeste”, sem
dúvidas, a grande e primordial realização de toda carreira de Charles Bronson.
Escrito com o fulgor
criminal que tornaria Elmore Leonard famoso (já indicativo do estilo que o
tornou um ídolo para Quentin Tarantino, como a criação de antagonistas com
diferentes e marcantes personalidades) e realizado com extrema austeridade e
solidez –provando, em sua eficácia, o quanto Fleischer era um diretor mais
propenso a acertar magnificamente do que a errar lamentavelmente –“Mister
Majestik” se coloca com honras entre os mais bem polidos e competentes
trabalhos de Bronson em sua fase de astro tardio nos anos 1970 e 80 –onde as produções
que protagonizava eram trabalhadas para se adequar a sua índole e não o oposto.
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