Produtos comerciais de outros tempos padecem de
lapsos desiguais de sua época. “Congo”, realizado nos anos 1990, faz parte de
uma tentativa do produtor Frank Marshall em lançar-se como diretor de cinema
(sendo suas duas experiências anteriores o irregular “Aracnofobia” e o drama
“Vivos”), o que não deu muito certo.
É uma concepção curiosa de aventura, um filme
hollywoodiano, acéptico e ameno, que possui, talvez involuntariamente,
elementos do ciclo canibal italiano (!) –uma expedição à selva, perigos selvagens,
ambientações exóticas, clima de perigo –despido, no entanto, de seus aspectos
transgressivos, e que respondiam por seu apelo de público. Ou seja, alguém
achou que tudo o que sobrasse poderia resultar num sucesso de bilheteria.
Acima de tudo, “Congo” sofre com a direção
insuficiente de Frank Marshall que inicia seu filme sem ritmo, sem empolgação e
sem qualquer atrativo visual; mesmo seus enquadramentos de câmera são risíveis
e desinteressantes, parecendo uma obra feita para a TV.
É dessa forma que vemos uma expedição à África
terminando em tragédia.
No começo de tudo, a protagonista Dr. Karen
Ross (Laura Linney, de "O Show de Truman") é despachada com outra equipe para rastrear o paradeiro dos
desaparecidos –embora o interesseiro financiador do projeto (Joe Don Baker) esteja
mais incomodado com o diamante extremamente precioso que eles estavam prestes a
achar do que com a vida do próprio filho (e noivo de Karen) que estava na
expedição, interpretado à propósito por Bruce Campbell (ator cult de "Evil Dead"), numa participação
especial que parece ratificar as influências de filme B na produção.
A equipe reunida em torno de Karen é curiosa:
Inclui o biólogo Peter Elliot (Dylan Walsh, de “Secretariat”) e Amy, uma gorila
vinda daquela mesma região africana, criada por ele desde filhote e dotada de
prodigiosa capacidade humana de comunicação (e que responde por um
avançadíssimo repertório de recursos animatrônicos).
O filme de Marshall quase chega a engrenar
quando a numerosa equipe chega à selva –numerosa, porém, os personagens que
importarão à premissa são mesmo Karen, Peter, Amy e o guia Cap. Kelly (Ernie
Hudson, de “Os Caça-Fantasmas”) –eu disse ‘quase chega a engrenar’, porque a
noção de ritmo de sua direção nunca chega a ser perfeita, a visão de ‘expedição
à África’ que ele impõe com seu designer de produção é irrisória, com o
artificialismo de sua ambientação pulsando de todos os lados; chega a ser
tremendamente irônico que tantos filmes de baixo orçamento ao longo dos anos
1970 realizados por picaretas como Jess Franco (“White Cannibal Queen”), Ruggero
Deodato (“Holocausto Canibal”) e Sergio Martino (“A Montanha dos Canibais”)
terminem sendo infinitamente mais espontâneos, excitantes e divertidos que esta
obra modorrenta e apagada.
Quando o filme chega ao seu suposto clímax,
onde a expedição encontra os macacos monstruosos que deram cabo dos
expedicionários anteriores, sabemos exatamente quais personagens viverão e
quais morrerão –a surpresa só fica por conta do involuntário teor politicamente
incorreto inerente à época onde os gorilas vilanescos são massacrados pelos
bondosos protagonistas e suas armas (inclusive de raios laser!) sem qualquer
pingo de hesitação.
Sem maiores méritos como
entretenimento, e sem alcançar graça o bastante até mesmo para uma comédia
involuntária –característica que às vezes garante uma sobrevida à obras
equivocadas –“Congo” foi uma pá de cal nas pretensões do produtor Frank
Marshall para uma carreira como diretor de cinema (ele só tornou a dirigir um
longa-metragem em 2006, com o pueril “Resgate Abaixo de Zero”), hoje contudo, o
filme persiste aparecendo aqui e ali em reprises televisivas como uma das
tantas e corriqueiras aventuras de ‘sessão da tarde’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário