Não houve acontecimento mais determinante para
o Século XXI do que o trágico atentado de 11 de setembro de 2001 contra as
Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York.
Ter tais percalços registrados em película, e
em pormenores assustadores, é o grande feito deste trabalho dos irmãos Jules e
Gedeon Naudet, em colaboração com o ex-oficial dos bombeiros James Hanlon (que
empresta sua voz para narrar o filme).
Todavia, não foi almejando isso que tudo
começou (e nem poderia ser mesmo): Tudo o que os irmãos documentaristas queriam
–como é relatado por eles próprios no princípio –era fazer um documentário
sobre o dia-a-dia dos bombeiros nova-iorquinos orientados por Hanlon,
aproveitando para capturar a trajetória de um desses profissionais desde o período
de treinamento até as primeiras experiências no exercício da profissão.
O escolhido por eles veio a ser o jovem Tony
Benetatos que as câmeras procuram eleger, portanto, o foco central de sua
trama, por assim dizer.
Até certo momento, o trabalho dos Irmãos Naudet
e de James Hanlon segue, mais ou menos, o que eles planejavam que fosse:
Acompanhamos Tony em sua rotina para tornar-se um bombeiro; sua relação com os
veteranos e com outros colegas.
Chegamos então na expectativa das primeiras
operações, em meados de julho de 2001, quando Tony é assim destacado para um
corpo de bombeiros localizado em Manhattan, ainda ansioso pela chegada de seu
primeiro incêndio em exercício de função –ansiedade essa que não deixa de ser
compartilhada por seus companheiros documentaristas.
Os veteranos diziam que havia duas definições
diferentes para os novatos: Os nuvens negras (aquele que atraíam todos os
incêndios possíveis) e os nuvens brancas (aqueles que, durante seu turno, nunca
ocorria incêndio algum).
Tony Benetatos era nuvem branca: Durante todo o
mês de agosto de 2001, não houveram incidentes mais severos naquele posto de
bombeiros. Não é que não ocorressem incêndios em Manhattan, eles só ocorriam
fora de sua jurisdição ou quando ele não estava de plantão.
É quando então o filme adentra o fatídico dia
11 de setembro.
Nele, Jules, já entediado pela tranquilidade do
dia-a-dia no destacamento acompanha uma checagem rotineira de vazamento de gás
logo pela manhã. De repente, todos houve, da rua, o som ensurdecedor de um avião
–quando, na verdade, aviões nunca sobrevoavam Manhattan.
A câmera, numa série de visíveis movimentos
aleatórios, acaba capturando o momento exato em que um dos aviões se choca
contra a primeira do torre do World Trade Center.
O pânico e a incredulidade se instalam e os
bombeiros não têm o que fazer senão seguir seu senso de dever e rumar em
direção ao local.
A Torre 1 está em chamas. O avião atingiu o 78º
andar. Salvar pessoas tornou-se impraticável nesse cenário, entretanto, os
bombeiros não querem tolerar isso; eles sobem as escadas enquanto todo o resto
tentam descer por elas.
No destacamento, acompanhando Tony –que, como
novato, tinha que ficar enviando e
recebendo as aflitas mensagens de rádio e de telefone –Gedeon fica angustiado
pelo paradeiro do irmão, e resolve ir andando até o local fatídico do ataque,
registrando nesse percurso, o desespero que contaminou a população nas ruas.
É nesse instante que o outro irmão captura o
impacto de mais um avião contra a Torre 2.
Um posto de comando é montado no saguão da
Torre 1, e uma hora mais tarde, quando toda a torre desaba, Jules está lá e
registra o horror incomensurável de se escapar literalmente por um triz da
morte.
O documentário acompanha em primeiríssima mão
as pesadas e imediatas atribulações que a tragédia cobrou daqueles que estavam
na linha de frente desse acontecimento: Os bombeiros que, ao lado das vítimas,
foram os primeiros a experimentar toda a carga do terror.
Por estarem na hora e no lugar certo, o
documentário de Jules e Gedeon Naudet compartilha conosco uma fração desse
terror, quando os perplexos bombeiros conseguem sair do saguão colapsado e
descobrem que saíram de dentro de um prédio com centenas de andares que não
existia mais (!), quando revela a gradativa conscientização de toda Nova York
da extensão existencial do atentado que sofreram, e quando já mais ao fim expõe
a união que fez estes seres humanos superarem o mais trágico episódio de sua
história recente.
Para muitos, “11/9”, o documentário, exagera na
pieguice com que aborda suas questões centrais e, num outro viés, explora uma
tragédia incomensurável em um mal disfarçado exibicionismo, entretanto,
seus realizadores, sem a menor dúvidas, estiveram lá todo o tempo, conheceram
aquelas pessoas, partilharam de suas dores e dividiram com eles seus alívios; e
fizeram questão de manter essas emoções em sua obra.
Seu filme se estende por
vários minutos além da conta, é bem verdade, sem saber muito bem quando
terminar, mas é porque em meio ao pesar, em meio à árdua tentativa de absorver um
acontecimento estarrecedor e inacreditável que tiveram o infortúnio de
presenciar de seu cerne, eles querem garantir a devida homenagem à bravura
daqueles que não se deixaram abalar por nada em sua missão de salvar vidas.
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