Há tanta criatividade e euforia nesta homenagem
de Dan O’ Bannon ao clássico “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George Romero, que
ele quase o supera.
Produto vibrante dos anos 1980, ele parte do
princípio de que o famoso filme de zumbis lançado nos anos 1960 baseou-se num
obscuro acontecimento real –como explica detalhadamente o veterano funcionário
de um depósito de artigos médicos a um jovem recém-chegado ao emprego no início
do filme.
Segundo ele, uma praga contaminou um local,
inspirando o filme de Romero, e sua causa (um gás desconhecido) se encontra
selado dentro de conteiners no depósito que foram extraviados pelo exército e
lá foram parar.
Entretanto, sem muitas delongas para com aquilo
que quer relatar, um incidente não demora a liberar o material que, de pronto,
reanima os cadáveres dos animais de uso veterinário expostos por ali.
Pior: Há um cadáver humano, que volta à vida
tomado de violenta fúria.
De maneira hábil, vertiginosa e sem maiores
enrolações, o filme de O’ Bannon instala a situação (a liberação do gás se dá
antes mesmo dos créditos iniciais), apresenta os personagens (além da dupla
inicial, há também a namoradinha do jovem ali por perto com seu estranho grupo
de amigos) e levanta a circunstância; narrativa admiravelmente encadeada em seu
ritmo creditada à experiência como roteirista do diretor.
Ao lado do proprietário do depósito –que quer
livrar-se de encrencas à todo custo –o jovem e o veterano têm de levar o cadáver
animado para um crematório ali nas imediações.
Ao reduzi-lo à cinzas –procedimento que, eles
creem, resolverá o problema –eles acabam provocando uma espécie de chuva ácida
que cai nas imediações, nas quais há, também, um cemitério: E assim, o efeito
que o gás produziu nos cadáveres do depósito, a chuva –ao infiltrar-se na terra
–provoca em todos os corpos enterrados no cemitério. Uma infestação de
mortos-vivos.
Nada no filme se leva a sério –e este responde
por um de seus charmes inconsequentes –os personagens, quando cativam o
expectador com sua aflição, é mais pela curiosidade nos desdobramentos de seu
corre-corre do que por empatia; absurdo particular é o grupo de amigos que
aparece junto com a mocinha: Uma mescla afetada e caricata de punks,
mauricinhos e toda tribo estereotipada jovem, entre eles se inclui uma garota
ninfomaníaca (Linnea Quigley, musa de filmes de terror dos anos 1980) que, com
meia hora de duração, tira a roupa e fica pelada todo o restante do filme (!!).
Mas, o grande barato é o tratamento da própria
narrativa para com os mortos-vivos: Embora os efeitos visuais e de maquiagem
sejam verdadeiramente tenebrosos e convincentes até os dias de hoje, não há
muito esforço em criar um clima sinistro e aterrorizante visto que os
mortos-vivos emergem de suas sepulturas e atacam os vivos ao som de canções
animadas e descontraídas como “Surfin’ Dead”, do The Cramps, e “Party Time
(Zombie Version)”, do 45 Grave, (?!). Sem falar que, aqui, diferente do
conceito estabelecido por George Romero (e seguida à risca por outros
imitadores), os mortos-vivos são até que bem inteligentes. Um deles arma uma
engenhosa forma de destruir as portas de ferro de um armário no qual a incauta
mocinha se trancou aos gritos em determinado momento; e vários outros
engambelam sistematicamente os paramédicos e a polícia através da comunicação
via rádio –nem bem matam os que chegaram, um dos zumbis toma o fone e diz
“Mandem mais homens!” para que continuem tendo suas presas.
Até inovador na forma com
que abraça e assume a diversão de ser um filme sobre zumbis, “A Noite dos
Mortos-Vivos” é, em seu conjunto peculiar de homenagem, sátira, referência e
entretenimento independente, um verdadeiro deleite de descompromisso e
passatempo, receita muito bem-vinda nesse sisudo filão que nem mesmo suas
continuações tiveram desenvoltura para recriar.
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