segunda-feira, 6 de julho de 2020

A Conspiração

Numa comparação que não chega a dizer muita coisa, o ex-crítico de cinema Rob Lurie estréia auspiciosamente na direção tal e qual muitos críticos do ‘Cariers de Cinema’ –Jean Luc Godard, François Truffaut, Jacques Rivette –o fizeram nos anos 1960, originando a nouvelle vague francesa.
As orientações de Lurie, contudo, são muito diferentes do que essa analogia leva a supor: Seu filme é um raro espécime dos thrillers políticos, obras que se dedicam à reconstituição de intrigas de gabinete, plenos de verborragia, vocabulário pouco usual e detalhes que ao mesmo tempo soam elitistas ao público e parecem sugerir todo um clima dentro da proposta.
Após um estranho imbróglio seguido de um atentado, o Vice-Presidente dos EUA, tirado de ação é substituído.
O próprio Presidente (Jeff Bridges) indica seu favorito ao cargo: Uma séria e competente senadora (a formidável Joan Allen repetindo a parceria em cena com Bridges e com o coadjuvante Christian Slater depois de “Tucker-Um Homem e Seu Sonho”, nos anos 1980).
Mas, às vésperas da posse ocorrer com tranquilidade, surge um escândalo envolvendo a senadora num sex-tape durante sua juventude, o que é declarado aos quatro ventos por um ardiloso senador (Gary Oldman), particularmente interessado em desacreditá-la e minar a decisão do Presidente.
A batalha jurídica que se segue envolve liberdade de expressão, direitos individuais do cidadão, feminismo e integridade.
Se termina aparentando firme indiferença quanto ao desinteresse que seu tema excessivamente político pode gerar, se demonstra inquietação quanto ao desenvolvimento de sua premissa, e na chance de que o conceito moral em torno do qual trabalha possa despertar certo tédio no expectador, o diretor Lurie compensa essas intransigências com atores extraordinários dirigidos com excelência (em especial Joan Allen) e uma condução sempre absorvente que, embora se desdobre em cenas de paladar desafiador, nunca deixa de soar notável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário