quinta-feira, 10 de abril de 2025

Grito de Horror


 Lançado em 1981, este The Howling” rivaliza diretamente com “Um Lobisomem Americano Em Londres” (lançado no mesmo ano) como o provável melhor filme de lobisomens do cinema –ou, pelo menos, da década de 1980...

E “The Howling” tem, sim, predicados para receber esse comentário: Dirigido com astúcia por Joe Dante (que aqui evita um pouco mais, mas nem tanto, a sua mescla habitual de terror com comédia, vide “Gremlins”), é uma trama que une elementos inesperados com habilidoso jogo de cintura e ainda ostenta aparato técnico o bastante para trazer transformações de lobisomens quase tão memoráveis quanto aquelas presentes no filme de John Landis.

Karen White (Dee Wallace Stone, de “E.T.”) é uma daquelas protagonistas avoadas, incapazes de enxergar uma tremenda encrenca se aproximando dela ao longe, como tantas protagonistas dos filmes de terror –contudo, não apenas o roteiro cria inteligentes artifícios para incluí-la nas tais encrenca, como a atuação de Dee Wallace consegue ressaltar a simpatia presente nessa ingenuidade. Apresentadora de um programa de TV, Karen topa participar de uma operação onde servirá de isca para um serial-killer, onde será rastreada pela polícia e por sua equipe técnica, armada com todo o aparato de escutas e micro-fones que, na hora H, não haverão de funcionar (!). O psicopata acaba fulminado pelos policiais, pouco antes de quase dar cabo da pobre Karen. O episódio acirra seus ânimos e ela não consegue mais fazer o programa, nem corresponder adequadamente ao marido, Bill (Christopher Stone, na época, casado com Dee Wallace na vida real). Assim, o terapeuta Dr. George Waggner (Patrick MacNee, de “007 na Mira dos Assassinos”) tem a ideia de enviá-la, junto de Bill, à um retiro idealizado pelo próprio Dr. Waggner onde um grupo numeroso –a formar quase uma comunidade –isola-se no campo, cultivando uma filosofia rural que, segundo o bom doutor, haverá de curar cada uma de suas mazelas.

Contudo, as noites –e os uivos muitos suspeitos que elas trazem –esconde a real verdade por trás das pessoas inicialmente tão acolhedoras (ainda que esquisitas) daquele lugar: São todos lobisomens que aguardam visitantes para 1) enredá-los e incluí-los em seu grupo, convertendo-os em lobisomens também –como é o caso de Bill, pouco a pouco seduzido pela melindrosa e exotérica Marsha (Elisabeth Brooks), numa espécie de ritual de acasalamento de lobisomens (?!) ou 2) trucidá-los, fazendo deles suas vítimas –como parece ser o caso da desafortunada Karen!

Realmente notável no aparato técnico que materializa, em efeitos práticos, lobisomens críveis, palpitantes e amedrontadores no filme muito antes de surgirem os efeitos computadorizados que predominam hoje, este ótimo trabalho de Joe Dante (estranhamente menos lembrado do que obras até mesmo inferiores que ele entregou nos anos 1980) só não se destacou tanto quanto a produção de John Landis no imaginário dos amantes de cinema de terror porque o diretor Dante –ao contrário de Landis que opta por um enredo clássico em seu filme –se atreve a conceber uma narrativa que se desdobra imprevisível em diversos outros gêneros e subgêneros que vão se sucedendo ao avançar da trama: Começa como um suspense investigativo (a isca para um serial-killer), prodrige para o que parece ser um drama sobre traumas emocionais, logo mudando para um filme sobre seitas obscuras e sociedades alternativas, para então escancarar, aos poucos, o terror dos lobisomens; e então descambar tudo para uma sucessão de tiroteios quase à moda do western em seu clímax.

A prova do talento digno de aplausos de Joe Dante é que, em nenhum momento, ele faz essa difícil junção soar inadequada, inverossímil ou desconfortável.

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