Inspirado na mesma lenda folclórica chinesa que já havia originado o posterior “Herói”, de Zhang Ymou, este “O Imperador e O Assassino” é um reencontro do diretor Chen Kaige e da estrela Gong Li após o aclamado “Adeus, Minha Concubina”, anos antes. Um épico de tintas intimistas cuja abertura, curiosamente, faz uma alusão à “Conan-O Bárbaro”, do diretor John Milius –lá estão as mesmas sequências de batalha a transcorrer durante os créditos iniciais; lá está também a cena da espada sendo forjada, com o aço derretido sendo derramado em sua forma, e uma trilha sonora que remete à de Basil Poledouris. Não tarda, entretanto, à Chen Kaige logo impor seu próprio estilo dilacerante, carregado de tintas dramáticas, puxando muito das dinâmicas esboçadas para o que parece ser uma traição, embasada porém por posturas de lealdade que se transfiguram radicalmente ao sabor das mudanças que a guerra promove na índole dos seres humanos.
250 A.C. O reino de Quin acaba de sobrepujar o
reino de Han e, com isso, o poder de Ying Zheng, soberano de Quin, se consolida
cada vez mais. O sonho, inicialmente puro e altruísta, de Ying Zheng (o ótimo
Xuejian Li, de “Operação Xangai”) é unificar toda a China num único império,
promulgando através disso uma paz em todos os reinos divididos. Em seu caminho,
ele tem ainda vários reinos opositores à sua soberania, mas, com seu poder bélico
aumentando a cada conquista, este é um desfecho que ele já consegue vislumbrar
no horizonte.
Ele tem como aliada um amiga dos tempos de
infância, a belíssima Lady Zhao (Gong Li, magnífica e maravilhosa), junto de
quem já elaborou um estratagema. Ela fingirá unir-se ao seu arquinimigo, o rei
de Yan (Zhou Sun), para, junto dele, tramar seu assassinato e escolher à dedo
seu assassino –de posse dessas informações, Lady Zhao poderá impedir o
assassinato de Ying Zheng ao menos tempo em que essa tentativa fornecerá à ele o pretexto que queria junto aos súditos
para finalmente invadir e tomar o reino de Yan.
O plano leva tempo para se consolidar. Uma vez
em Yan, Lady Zhao descobre o candidato ideal para a tarefa: Jing Ke (o
excelente Fengyi Zhang, também de “Adeus, Minha Concubina”), um ex-assassino de
passado traumático, desejoso de deixar para trás sua macabra especialidade e
passar o resto dos seus dias vivendo em harmonia. Mas, Jing Ke é habilidoso
demais para ser deixado de lado. O rei de Yan concede à Lady Zhao três meses
para que ela convença o relutante Jing Ke a perpetrar o assassinato e, durante
esse tempo, ela e Jing Ke constroem um relação de afeto muito mais profunda que
ambos esperavam.
Enquanto isso, em Quin, uma série de
conspirações palacianas se sucedem –Ying Zheng sofre uma tentativa de ser
usurpado pela própria rainha-mãe (Yongfei Gu) e o amante (Zhiwen Wang), e
precisa, depois, lidar com a descoberta da verdadeira identidade de seu pai, o
Primeiro Ministro deposto (o próprio diretor Chen Kaige), bem como seu suicídio
subsequente. Todos esses revezes promovem uma transformação na natureza de Ying
Zheng e de seu objetivo maior: Ele passa a massacrar seus adversários sem
piedade, levando um genocídio implacável a todos os reinos que se opõem à ele,
inclusive Zhao, o reino-natal de... Lady Zhao.
O diretor Chen Kaige não se furta de esmiuçar
aspectos cruéis das engrenagens da guerra, não poupando nem mesmo crianças das
barbáries assim retratadas, embora o tom de seu trabalho nunca abandone as
características de fábula –mas, um fábula de severa e irredutível moral, típica
do cinema chinês.
Não há muitos segredos na narrativa: São os
personagens de Jin Ke e de Ying Zheng os pólos extremos entre os quais os
empuxos da trama transitam, tudo levando ao seu fatídico encontro, no clímax do
filme –com a personagem de Gong Li estabelecendo um intrigante ponto de
equilíbrio entre os dois, evidenciado pelo incontornável status de estrela da
atriz.
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