segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Relatos Selvagens

Sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes do ano, o argentino "Relatos Selvagens" é um trabalho tão riquíssimo do jovem roteirista e diretor Damian Szifron que suas seis pequenas histórias poderiam render um longa-metragem cada uma. Verdadeira aula de cinema.
Acompanhem comigo:
A bordo de um boing, passageiros descobrem, durante uma conversa casual, uma estranha -e preocupante -ligação entre todos (em meio à eles, o magnífico Darío Gandinetti, de "Fale Com Ela").
Um pequeno conto primoroso de suspense que prescinde de tempo de cena até mesmo para trabalhar seus personagens -todos são ferramentas narrativas arquetípicas que dão pontualidade à trama.
Tão enxuto que transcorre antes mesmo dos créditos iniciais!
Num restaurante à beira de estrada, em plena madrugada, uma jovem garçonete tem a chance de perpetrar uma cruel vingança contra o homem que prejudicou a sua família, sob a instrução convicta e implacável da misteriosa cozinheira do lugar.
Ironia, crueldade e o medo perene das consequências nesta sensacional e ágil parábola sobre os desdobramentos da vilania que, por vezes, faz lembrar os episódios da série "Breaking Bad".
Numa estrada deserta, um executivo (Leonardo Sbaraglia) e um mecânico, homens de classes distintas se envolvem numa rixa que progride violentamente para uma tragédia.
Um misto magistral de "Encurralado", de Steven Spielberg, com "A Morte Pede Carona", de Mark Hamon, agraciado com fina ironia e um sarcástico senso de observação.
Cidadão argentino (o extraordinário Ricardo Darín) vê sua vida sendo aos poucos destruída pelas circunstâncias do mau-funcionamento dos orgãos públicos.
O mais pertinente e crítico de todos os segmentos, ilustra com perfeição o olhar agudo e perspicaz do diretor Szifron sobre os meandros da burocracia.
Senhor de classe alta é explorado por todos à sua volta (do advogado particular, ao delegado responsável, passando pelo jardineiro!) quando tenta livrar seu filho das consequências de um delito grave.
A maestria de seu elenco é o principal destaque deste segmento abrilhantado com um humor negro refinado e irresistível.
O final é de um sarcasmo ímpar.
Uma cerimônia de casamento que começa normal, vai se transformando gradativamente num pesadelo, quando revelações sobre o noivo alteram o comportamento da noiva.
Magnífico, é evidentemente o mais longo dos episódios (a única ordem e lógica aparente entre eles é que começam pelo mais curto e vão ficando mais prolongados a cada história), e exemplifica muito bem a premissa moral do filme como um todo -a de que o ser humano, quando colocado numa situação de descontrole, deixa de lado suas amarras de civilização e se torna um animal selvagem.

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