O trabalho do diretor John Madden –de um estilo
que não se define com facilidade em meio aos filmes que realizou, tão díspares
quanto este, o drama “Ethan Frome-Um Amor Para Sempre”, a comédia “O Exótico
Hotel Marigold” e sua continuação, o thriller de espionagem “A Grande Mentira”
e o suspense político “Armas Na Mesa” –ao que parece caiu nas graças da
Academia de Artes Cinematográficas ávida que ela estava por enfim ver um filme
que biografasse o tão aclamado bardo William Shakespeare.
Só isso mesmo para explicar o fato desta
produção (que a rigor é uma mera comédia romântica de época) vencer o Oscar de
Melhor Filme numa disputa que incluía o imbatível “O Resgate do Soldado Ryan”.
Claro que, avaliando com mais calma, outro motivo aparece: Um dos produtores de
“Shakespeare Apaixonado” era Harvey Weinstein que, durante anos, foi
determinante para quem ganhava ou perdia as premiações do Oscar, até ele ser
completamente afastado da indústria por acusações recentes de assédio sexual.
No filme mesmo, pouca explicação se encontra
para as sete estatuetas que ele ganhou: Na trama que se desenrola por meio de
farsa e galhofa conhecemos o jovem Shakespeare (Joseph Fiennes, irmão de Ralph
que apesar dos esforços não vingou), um rapaz inspirado pela vida boêmia da
Inglaterra do século XVI, a escrever peças de teatro para o povo, sua grande
fonte de diversão.
O lugar mais freqüentado pela plebe para
assistir as histórias que os envolviam era o teatro “The Rose”, de propriedade
do endividado Hemslowe (Geoffrey Rush). Com os credores prestes a lhe arrancar
o couro (literalmente!), ele deposita suas esperanças na próxima peça escrita
por Shakespeare cujos trabalhos costumam ter boa aceitação de público, embora o
rapaz esteja passando por uma crise criativa.
A outra peça do tabuleiro é a jovem Viola
(Gwyneth Paltrow que absurdamente levou o Oscar de Melhor Atriz tendo como
concorrentes Cate Blanchett, por “Elizabeth”, e Fernanda Montenegro, por
“Central do Brasil”), filha de pai rico e com o casamento já arranjado com o
Lorde Wessex (Colin Firth, numa época em que só era escolhido para papéis
vilanescos). Viola, que leva o nome da mesma protagonista de Shakespeare para a
farsa “Noite de Reis” e aqui, também ela pratica sua própria farsa, deseja
conhecer o mundo antes de restringir a vida à um matrimônio opressor. Ela quer
conhecer as peças de teatro encenadas no vilarejo e, se possível diante de seu
maior atrevimento, atuar nelas –naquela época, a atuação era estritamente
proibida às mulheres restando aos homens fazer os papéis femininos também.
Viola, assim, se disfarça de menino para participar
dos ensaios no “The Rose” onde Shakespeare corre para entregar sua peça “Romeu
& Ethel, A Filha do Pirata”. Em algum momento, o escritor, porém, perceberá
que aquele menino tem uma feminilidade impossível de ser encenada e descobrirá
a farsa de Viola –e por ela se apaixonará.
Tentando dar prosseguimento a esse romance da
forma como podem e com uma data-limite certamente estipulada –o casamento de
Viola e a apresentação da peça são marcados para o mesmo dia! –os dois amantes
vêem sua história de amor ganhar a tumultuada rotina do teatro como pano de
fundo enquanto os aspectos eufóricos, angustiantes e até frustrantes desse amor
vão servindo de combustível para que Shakespeare transforme a peça na obra que,
por fim, será chamada de “Romeu & Julieta”.
Certamente gracioso visivelmente feito com o
propósito despretensioso de divertir e completamente sem compromissos com
qualquer realidade que tivesse envolvido a vida de Shakespeare ou a criação de
“Romeu e Julieta”, este “Shakespeare Apaixonado” até seria um filme
interessante e simpático não tivesse ele sido superestimado a ponto de
protagonizar a premiação mais eclética e questionável de toda a história
recente do Oscar.
Hoje ele é visto como um filme mediano que
tirou prêmios significativos de grandes obras que mereciam mais.
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